Factos e datas de um assalto rocambolesco

Tancos

Tancos: factos e datas de um assalto rocambolesco

Os momentos mais marcantes do assalto, da investigação, da recuperação do material de guerra e das responsabilidades políticas e militares

A acusação do Ministério Público sobre o caso do roubo Tancos envolve Azeredo Lopes, ex-ministro, dezenas de militares e traficantes de armas. O antigo titular da Defesa é acusado de abuso de poder, denegação da justiça e prevaricação. Também valida a tese que este processo complexo começou com um assalto, passou a problema de orgulho e acabou em drama nacional e político.

O ASSALTO

2016

Março

O cabecilha do grupo de assaltantes, o ex-fuzileiro João Faustino, faz um primeiro reconhecimento do local que seria alvo do assalto. O plano é delineado durante um ano.

2017

Março

1- O grupo de assaltantes acerta os detalhes do plano de furto do material de guerra. Através de um informador interno (o segundo furriel Filipe Sousa) tinha já todas as informações sobre a inexistência de segurança, as horas das rondas e o material disponível.

2- O Ministério Público (MP) abre um inquérito-crime, com base no alerta de uma fonte, segundo o qual estaria a preparado um assalto a instalações militares na zona centro (onde se encontram os paióis de Tancos), sem avançar mais detalhes.

A ex-PGR, Joana Marques Vidal, revelaria mais tarde, em sede da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que o processo andou de tribunal em tribunal, até que, no tribunal central de instrução criminal, o juiz Ivo Rosa, negou vigilâncias e escutas a suspeitos que o MP tinha pedido.

Marques Vidal reconheceu que a informação da denúncia era "demasiado superficial". Ainda assim, segundo o diretor da PJ, Luís Neves, garantiu também na CPI, o inspetor da judiciária que recebeu a denúncia partilhou-a com um oficial da PJM . O Exército não foi informado.

27 de junho

Nesta noite, o grupo de assaltantes, liderado pelo ex-fuzileiro João Faustino, desloca-se aos paióis, numa pick-up Skoda, sem vidros e de caixa fechada, para ir roubar o material de guerra.

Estão com ele, conforme foi revelado pelo Observador, numa reconstituição dos acontecimentos , mais oito homens: António Laranginha, que um segundo líder, mas menos importante que Paulino, com alegadas ligações ao tráfico de estupefacientes e de armas; João Pais 'Caveirinha', Gabriel Moreira 'Tije', Fernando Santos 'Baião', Valter Abreu 'Pisca', e Hugo Santos (o dono da Skoda).

Segundo o MP, o grupo dedicava-se ao tráfico de droga, com alguns negócios também no mercado negro do tráfico de armas. Laranginha era o mais experiente neste setor e foi ele, segundo alguns dos arguidos testemunharam nos interrogatórios, que terá dito que iria contactar gente ligada à organização terrorista ETA, para possível destino dos explosivos. Laranginha está também constituído arguido no processo do furto das pistolas Glock da PSP, sob suspeita de as ter traficado para fora do país.

Há ainda um nono elemento envolvido, Paulo Lemos 'Fechaduras' que não participou no assalto, mas indicou que material deveria ser usado para quebrar os cadeados. O seu testemunho para o processo foi determinante para as autoridades identificarem todo o grupo.

O material é enterrado no terreno junto a um antigo restaurante da avó materna de João Paulino, perto de Tomar.

28 de Junho

O furto do material de guerra é detetado pelas 16:30, durante uma ronda móvel. A patrulha verificou que dois paióis tinham as fechaduras arrombadas. As vedações da base militar de Tancos estavam deterioradas e a segurança negligenciada.

29 de Junho

A opinião pública toma conhecimento do roubo através do comunicado do chefe do Estado-Maior do Exército (CEME): "Foi detetada ontem, ao final do dia, a violação dos perímetros de segurança dos Paióis". No mesmo documento, refere o desaparecimento de granadas de mão ofensivas e de munições de calibre de 9 mm.

O Diário de Notícias noticia que entre o material roubado se encontravam lança-granadas e explosivos.

30 de Junho

1- O Exército atualiza a informação e revela que entre o material desaparecido se inclui explosivos, granadas de gás lacrimogéneo e granadas foguete anticarro.

2- A secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), Helena Fazenda, que soube do assalto pela comunicação social, 24 horas depois, convoca, para o final do dia desta sexta-feira, uma reunião da Unidade de Coordenação Anti-Terrorista (UCAT), com os chefes máximos das polícias.

Participam também neste encontro magistrados do MP, o então diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), Amadeu Guerra, e o Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGA), Pina Monteiro.

Esta reunião, por ter sido mais de 48 depois do assalto ter sido detetado, foi alvo de muitas críticas dos deputados da CPI. Foi na UCAT que foram discutidos os possíveis cenários e riscos relacionados com o furto. O envolvimento de grupos de crime organizado, ligado ao tráfico de armas ao terrorismo, foram teses avançadas.

No final, foi decidido que não era necessário aumentar o grau de ameaça à segurança do país.

A investigação

1 de Julho

1- O Chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, anuncia a exoneração de cinco chefias militares. "Não quero que haja entraves às averiguações e decidi exonerar os cinco comandantes das unidades que de alguma forma estão relacionadas com estes processos", justifica.

Tratam-se dos comandantes dos regimentos de Paraquedistas, coronel Hilário Peixeiro, de Engenharia, coronel Paulo de Almeida, e de Infantaria de Tomar, coronel Ferreira Duarte, e dos comandantes da unidade de apoio da Brigada de Reação Rápida, tenente-coronel Teixeira Correia, e da Unidade de Apoio Geral de Material do Exército, coronel Amorim Ribeiro. Seriam reintegrados dias depois.

2- Tendo em conta a análise feita na UCAT, a Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da PJ entra em campo para apoiar a PJM.

4 de Julho

1- O MP abre inquérito ao sucedido por suspeitas da prática dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo. A investigação passa a ser liderada pela PJ, através da sua Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT), com a colaboração da PJ Militar.

A ideia era que as duas equipas de investigação trabalhassem sob um mesmo comando - com quatro investigadores (dois de cada equipa), e Vítor Magalhães e João Melo (atual diretor-nacional adjunto da PJ), os dois procuradores titulares do processo. Luís Neves, o atual diretor nacional da PJ era nessa altura diretor da UNCT.

2- Neste dia, o Presidente da República visita paióis nacionais e defende apuramento de "tudo, de alto a baixo, até ao fim, doa a quem doer".

Nesta visita estiveram também as as altas chefias militares, incluindo o coronel Luís Vieira, então diretor da PJM que atira uma 'bomba' aos presentes: o MP e a PJ sabiam há vários meses que estava a ser preparado um assalto a instalações militares naquela região e ninguém avisou as Forças Armadas.

Este assunto seria esclarecido quer pela ex-PGR, Joana Marques Vidal, quer pelo diretor da PJ, Luís Neves, na Comissão Parlamentar de Inquérito. Neves garantiu que a PJM também teve conhecimento dela, desconhecendo porque não a transmitiu às chefias do Exército.

A PJ e o MP dizem que, ao revelar a investigação em aberto, Luís Vieira terá comprometido o trabalho do MP e da PJ, pois terá alertado publicamente os suspeitos que sobre a vigilância que estavam já a ser sujeitos.

Nessa mesma noite, o comentador José Miguel Júdice revelou na TVI que os assaltantes estavam debaixo de olho das autoridades e que tal informação lhe tinha sido passada "por um político muito importante".

No dia a seguir, foi a vez da revista Sábado contar toda a história.

"A partir daqui a investigação deparou-se com inúmeras dificuldades, pois os suspeitos souberam que estavam debaixo de olho por causa da denúncia", referiu na altura ao DN fonte judicial que acompanhou o processo.

Vieira diria mais tarde na CPI que pediu a Marcelo que intercedesse junto ao governo para que a investigação voltasse à PJM.

Belém negou esta conversa.

4 de agosto

1- De acordo com o MP, nesta data o coronel Luís Vieira desloca-se ao ministério da Defesa e entrega a Azeredo Lopes um documento sobre a investigação, em segredo de justiça.

O oficial militar deu, no entanto, outra versão na CPI, quando foi inquirido, alegando que nessa data, pressentindo problemas na investigação (que já tinha passado para a PJ), redigiu um memorando com o seu entendimento legal de quem devia estar a investigar o caso, e considerando que a procuradora-geral tinha dado uma "ordem ilegal" ao passar o processo para a PJ civil.

O coronel garantiu ainda que mandou também uma cópia deste documento para Marcelo Rebelo de Sousa e para o primeiro-ministro, António Costa.

2- Com a mesma data é também assinado um parecer do penalista Rui Pereira, ex-ministro da Administração Interna do governo de José Sócrates, no qual põe em causa a decisão da Procuradoria-Geral da República a decisão de ter transferido a investigação da PJM para a PJ. Nesta altura já era pública a "guerra" entre as duas polícias.

Vasco Brazão admitiu na CPI que este parecer "deu uma enorme força" a Luís Vieira, para prosseguir a investigação paralela que tinha iniciado logo após o assalto. O parecer foi pedido pela PJM.

14 de agosto

O Exército abre processos disciplinares a quatro militares que prestavam serviço em Tancos. A pena mais gravosa foi aplicada a um sargento do regimento de Engenharia 1, a proibição de saída durante 15 dias, por ter sido provado que "não mandou fazer as rondas como estava previsto na norma de execução permanente".

No dia do assalto as patrulhas não fizeram rondas durante 24 horas.

30 de agosto

Nesta noite, João Paulino ter-se-á encontrado com Bruno Ataíde, militar da GNR de Loulé, em Albufeira. Foi neste momento que terão começado as negociações para a entrega das armas, numa altura em que a pressão das vigilâncias da PJ e o inesperado (para os assaltantes) impacto mediático, não deixava espaço para o escoamento do material furtado. O sargento Lima Santos foi informado da conversa e contactou o seu conterrâneo e amigo pessoal da PJM, Mário Lage de Carvalho.

10 de setembro

"No limite, pode não ter havido furto nenhum. Como não temos prova visual nem testemunhal, nem confissão, por absurdo podemos admitir que o material já não existisse e que tivesse sido anunciado... e isto não pode acontecer", afirma Azeredo Lopes em entrevista DN/TSF surpreendendo tudo e todos.

Nesta altura, de acordo com o despacho do MP em que constitui arguido o ex-ministro da Defesa (em julho de 2019), o governante já estava informado desde agosto, pelo ex-diretor da PJM, que estava em curso uma negociação com um informador, à revelia do MP e da PJ, para a recuperação do material.

O 'achamento'

17 de outubro

Lima Santos, Bruno Ataíde e Paulino encontram-se em Tomar e vão ao restaurante encerrado da avó materna de Paulino, em Carregueiros, buscar as armas. Utilizaram uma carrinha da PJM para transportar o material para o baldio perto da Chamusca. Fazem o telefonema 'anónimo' combinado com a PJM para dar início à operação da farsa do 'achamento'.

18 de outubro

O material é apreendido na Chamusca pela PJM. "Na prossecução das suas diligências de investigação no âmbito do combate ao tráfico e comércio ilícito de material de guerra, recuperou (...) na região da Chamusca, com a colaboração do núcleo de investigação criminal da Guarda Nacional Republicana de Loulé, o material de guerra furtado dos Paióis Nacionais de Tancos", diz um comunicado.

A PJM alegou que tinha recebido um telefonema anónimo indicando a localização das caixas e que, por casualidade, estavam ali perto os militares da GNR, no âmbito de outro processo, a quem pediu apoio.

Este foi o momento chave para o esclarecimento de todo o assalto. O MP desconfiou do 'achamento' e a PJ entrou em campo para o investigar. Com as pistas que já tinham anteriormente, cruzou informação e acabou por identificar todos os assaltantes.

Neste mesmo dia a então PGR, Joana Marques Vidal, telefonou a Azeredo Lopes protestando e dando conta da ilegalidade da ação da PJM e da GNR - ou seja, no próprio dia, o ex-ministro ficou a saber que a operação tinha sido clandestina - o que até já saberia há mais tempo, de acordo com a invstigação do MP.

20 de outubro

O então diretor da PJM, Coronel Luís Vieira, desloca-se com o major Vasco Brazão ao gabinete do ministro da Defesa. Azeredo estava fora, no Porto, e conversam com o seu chefe de gabinete, o general Martins Pereira, a quem entrega um 'memorando' e uma fita de tempo dos acontecimentos.

No texto é dito que a PJM negociou com um "informador" e que não seria comunicado à PJ a sua identidade. Azeredo assumiu na CPI que Martins Pereira lhe fez, ao telefone, "um resumo do que achou essencial" nesse memorando, e que se limitou a descrever a existência do informador e de ter sido encenada uma chamada anónima, de forma a proteger a sua identidade, para revelar localização do material.

Sem saber de nada disto, o primeiro-ministro António Costa elogia a intervenção da PJM e da GNR na operação de recuperação do material.

31 de outubro

Rovisco Duarte revela que na relação do material recuperado "existe uma caixa a mais [de petardos], que não constava da relação inicial" do material furtado. Tratava-se de uma caixa com 264 unidades de velas de explosivo de plástico cuja entrada no paiol, segundo o Exército, não tinha sido registada.

A segunda investigação

12 de dezembro

Na cerimónia oficial de comemoração dos 700 anos da Marinha, o então diretor da PJ, Almeida Rodrigues, conversa com o ex-diretor da PJM, Luís Vieira. O MP suspeita que Rodrigues terá dado a entender a Vieira que os seus homens estavam a ser investigados pela PJ.

A sustentar esta suspeita estão escutas em que dois arguidos comentam os avisos que Almeida Rodrigues tinha feito a Luís Vieira sobre a insistência da equipa da UNCT em investigar o 'achamento', principalmente do seu diretor na altura, Luís Neves, presentemente chefe máximo desta polícia.

Confrontado pelo semanário Sol sobre a conversa com Vieira, Alneida Rodrigues negou premptoriamente que tivesse falado na investigação que a UNCT estava a fazer à recuperação das armas. Em causa pode estar o crime de violação de segredo de justiça.

13 de Dezembro

O major Vasco Brazão escreve uma carta - apreendida mais tarde pelo MP no gabinete do diretor da PJM, na qual pede agradecimentos e louvores aos militares da GNR e da polícia que integraram a investigação. Essa proposta tem a concordância do ministro da Defesa, que a remete para o seu colega da Administração Interna, Eduardo Cabrita, que também dá luz verde.

Esta carta foi escrita no dia a seguir à conversa entre os diretores da PJ e da PJM. Se Brazão ficou a suspeitar que o grupo estava a ser investigado, quereria garantir, por isso, a proteção dos homens que participaram na operação clandestina.

O texto é, aliás, muito claro em relação ao objetivo de que a operação da PJM se antecipasse à da PJ. "E, ao contrário de outras investigações, a PJ não nos passou a perna", diz, explicitamente.

2018

13 de julho

Afinal a discrepância entre o material roubado e o que recuperado era bem maior do que a "caixa a mais" que Rovisco Duarte tinha antes admitido.

"Ainda há explosivos de Tancos à solta", noticiou o Expresso. Os procuradores do DCIAP referiram, num recurso para o tribunal de Relação, de março deste ano, que, "ao contrário do que tinha sido veiculado pelo Exército e pelo Ministério da Defesa", ainda existe material que não foi recuperado - armamento que inclui granadas e explosivos.

A mesma notícia avançava também que o MP considera que "a segurança nacional está em perigo enquanto os assaltantes não forem capturados". Além das 1450 munições de 9 mm que não foram devolvidas, há ainda 30 cargas de explosivos - usadas para explosões cirúrgicas e controladas -, três granadas ofensivas, duas granadas de gás lacrimogéneo e um disparador de descompressão desaparecidos em parte incerta - tudo isto viria a ser confirmado no âmbito da CPI.

14 de julho

O Presidente da República reafirma, de modo ainda mais incisivo e preocupado, a exigência de esclarecimento cabal do ocorrido com armamento em Tancos".

Numa nota publicada na página da Internet da Presidência, em reação à notícia do Expresso, Marcelo Rebelo de Sousa faz já uma referência ao conflito entres as judiciárias civil e militar, assinalando ter "a certeza de que nenhuma questão envolvendo a conduta de entidades policiais encarregadas da investigação criminal, sob a direção do Ministério Público, poderá prejudicar o conhecimento, pelos Portugueses, dos resultados dessa investigação. Que o mesmo é dizer o apuramento dos factos e a eventual decorrente responsabilização".

Operação Húbris

25 de setembro

Numa operação do MP e da PJ são detidos sete militares da PJM e da GNR suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do roubo.

Entre os detidos está o diretor da PJM e o comandante da GNR de Loulé, bem como um civil que é o principal suspeito do assalto. Nome de código da ação é "Operação Húbris" - "Orgulho ou autoconfiança excessiva: arrogância; insolência" é o significado.

Para os gregos, húbris era uma conduta desmedida considerada um desafio aos deuses e que acarreta a ruína de quem assim age. Foi assim que o MP interpretou o comportamento do coronel Luís Vieira que, na sua perspetiva foi o arquiteto da investigação paralela e do encobrimento dos assaltantes.

28 de setembro

O Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decreta prisão preventiva para o diretor da PJM, Luís Vieira, e para João Faustino, suspeito de ter arquitetado o assalto e de ter 'negociado' com a PJM a devolução do material.

Os outros seis militares, da PJM e da GNR, ficaram em liberdade, embora sujeitos a termo de identidade e residência (TIR), suspensão do exercício de funções, proibição de contacto com os coarguidos e com quaisquer militares das Forças Armadas, da GNR e elementos da PJM.

1 de outubro

O Major Vasco Brazão regressa a Portugal da República Centro Africana, onde estava em missão militar, e é detido para interrogatório. Fica também sujeito a TIR.

4 de outubro

O Ex-chefe de gabinete do ministro da Defesa, Martins Pereira, admite ter recebido o coronel Luís Vieira e o major Brazão, a 20 de outubro, mas nega ter percebido qualquer "indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos". Não refere qualquer memorando.

10 de outubro

1- O Tenente-general Martins Pereira indica que o seu advogado entregou no Departamento Central de Investigação e Ação Penal um documento - que seria o tal 'memorando' - sobre a operação de recuperação do material de Tancos que lhe terá sido entregue pelo ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar e pelo ex-diretor daquela polícia, numa reunião no seu gabinete.

2 -No debate quinzenal na Assembleia da República, o primeiro-ministro diz que não conhece o documento e afirma que Azeredo Lopes também não.

As demissões

12 de outubro

471 dias depois do assalto, Azeredo Lopes demite-se do cargo de ministro da Defesa Nacional, afirmando querer evitar que as Forças Armadas sejam "desgastadas pelo ataque político" e pelas "acusações" de que diz estar a ser alvo por causa do processo de Tancos.

Na CPI vem-se depois a saber que terá sido neste dia que concheceu cabalmente o conteúdo do memorando, durante uma reunião com o primeiro-ministro.

É substituído por João Gomes Cravinho.

17 de outubro

O Chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, pede exoneração do cargo, invocando "razões pessoais", numa carta que dirigiu ao Presidente da República, que é Comandante Supremo das Forças Armadas. Na rede interna do Exército, Rovisco Duarte justifica a sua decisão dizendo que "circunstâncias políticas assim o exigiram".

24 de outubro

O antigo chefe de gabinete de Azeredo Lopes, tenente-general Martins Pereira, é ouvido como testemunha pelo Ministério Público

26 de Outubro

As listas do material de guerra furtado em Tancos e do material que foi recuperado pela Polícia Judiciária Militar (PJM) enviadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) à Comissão de Defesa Nacional do Parlamento confirmam que há granadas e explosivos que não foram devolvidos, uma informação que tinha vindo a público em julho (ver cronologia). Altos responsáveis da Segurança Interna, dos Serviços de Informações e do Exército tinham declarado no parlamento desconhecer esta situação.

22 de novembro

Arrancam os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as consequências e responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos com mais de 60 pessoas na lista de audições.

Detidos os assaltantes

17 de dezembro

A Polícia Judiciária detém oito presumíveis autores e cúmplices do assalto a Tancos e realiza dezenas de buscas na zona Centro e Sul do país, por suspeitas de crimes de associação criminosa, furto, detenção e tráfico armas. Cinco ficam em prisão preventiva.

19 de dezembro

É feita nova detenção de um suspeito do assalto. Trata-se de Hugo Filipe, o ex-furriel que tinha dado a João Faustino as informações sobre a segurança dos paióis.

Fica em prisão preventiva e foi indiciado por "crime de terrorismo internacional", além das suspeitas de crime associação criminosa, furto, detenção e tráfico armas, tal como os outros suspeitos de véspera, segundo o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.

Quando foi detido já tinha ingressado na GNR, tendo feito juramento de bandeira em Portalegre. A GNR nunca se pronunciou sobre o assunto.

2019

11 de janeiro

A PJ detém mais um arguido no caso do furto do material militar no Paiol de Tancos, que fica em prisão preventiva. Trata-se de Fernando Guimarães ('Baião'), emigrado na Suíça, que era sócio de João Faustino no Bar JB, em Ansião.

5 de fevereiro

O MP pediu ao tribunal de instrução que fosse declarada a especial complexidade do processo, de forma a alagar prazo da investigação por mais seis meses - até setembro. Foi concedido.

13 de fevereiro

O Tribunal da Relação de Lisboa decide libertar o coronel Luís Vieira, ex-diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), que se encontrava em prisão preventiva desde setembro, por entender que as provas não eram suficientemente fortes para o manter sob reclusão.

Mais suspeitas e detenções

13 abril

A procuradora Cândida Vilar é alvo de um inquérito-crime por suspeita de interceder contra o Ministério Público, no processo da recuperação do material furtado em Tancos, confirmou a Procuradoria-Geral da República.

Conforme noticiou o DN a magistrada terá sido apanhada numa escuta a sugerir ao major Brazão que não desse informações ao DCIAP nem à PJ, quando os militares da PJM e da GNR começaram a ser investigados.


24 abril

O tenente-coronel Luís Sequeira, chefe da Secção de Informações e Investigação Criminal da GNR do Algarve, foi constituído arguido no processo relativo ao furto de arma de guerra do paiol de Tancos.

6 de maio

Ouvido na CPI o ex-ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, admitiu que soube no próprio dia da recuperação do material de guerra que a operação da Polícia Judiciária Militar (PJM) tinha sido feita à margem da lei, sem o conhecimento do Ministério Público (MP).

Azeredo Lopes confirmou assim o que já tinha sido relatado na CPI pela ex-Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, segundo a qual no dia 18 de outubro de 2017 - quando o material "apareceu" na Chamusca - contactou telefonicamente o ministro para o informar da ilegalidade da operação, tendo em conta que a investigação estava a cargo da PJ civil e esta nem sequer tinha sido informada, nem tão pouco o DCIAP, titular do inquérito.

3 de julho

Aprovado no parlamento o relatório da CPI sobre Tancos, com os votos contra do PSD e do CDS. O Exército é apontado como maior responsável pela deterioração da segurança das instalações.

Numa primeira versão, é afastada qualquer responsabilização política direta de Azeredo Lopes e de António Costa.

Sob pressão da oposição, principalmente do CDS, o relator do PS fez uma alteração, para a versão final, em que admite que Azeredo Lopes "secundarizou" o conhecimento que teve de "alguns elementos" do memorando da PJM sobre a recuperação do material furtado.

Ainda assim, o relatório só é aprovado pela esquerda.

4 de julho

O ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, é constituído arguido pelo MP. A tese é que Azeredo Lopes teve "pleno conhecimento" de que elementos da Polícia Judiciária Militar, como o então diretor Luís Vieira e o porta-voz Vasco Brazão, e militares da GNR de Loulé, "fizeram várias diligências junto de um indivíduo que estava na posse do material subtraído e com quem negociaram a entrega do mesmo, contra a promessa da sua impunidade."

Azeredo Lopes terá sido informado por Luís Vieira a 4 de agosto de 2017, segundo os procuradores, do plano da PJM de negociar a entrega das armas. O ex-titular da pasta da Defesa considera a medida "absolutamente inexplicável" e acreditava que nada de "ilegal" ou "incorreto" fez e que seria "completa e absolutamente ilibado".

"Tenho total confiança", disse António Costa sobre o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes.

13 de julho

O coronel de Infantaria Amândio Marques da GNR é constituído arguido no processo de furto de armas de Tancos e foi suspenso de funções. Amândio Marques, que recebeu um louvor público (medalha de prata) em 2016, quando pertencia ao Comando da Unidade de Ação Fiscal, era o diretor da Investigação Criminal da Guarda.

Está indiciado pelos crimes, em co-autoria, de associação criminosa, tráfico de armas, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos e favorecimento pessoal praticado por funcionário tendo ficado suspenso de funções.

3 de agosto

O coronel da GNR Taciano Teixeira Correia foi detido no aeroporto, à chegada da República Centro Africana, onde se encontrava em missão. Ficou sujeito a termo de identidade e residência e está proibido de se ausentar do país e de contactar outros arguidos. Era o mais alto responsável pela investigação criminal da GNR (Direção de Investigação Criminal do Comando Operacional da GNR) e é suspeito de ter autorizado a participação dos militares da Guarda na encenação de recuperação do material.

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