Listas da PGR confirmam que há mais material de guerra ainda desaparecido
As listas do material de guerra furtado em Tancos e do material que foi recuperado pela Polícia Judiciária Militar (PJM) enviadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) à Comissão de Defesa Nacional do Parlamento confirmam que há granadas e explosivos que não foram devolvidos, apurou o DN junto de fontes envolvidas na investigação criminal. Até aqui, o Exército assumiu que apenas 1450 munições de 9mm, para pistolas Glock, não tinham sido recuperadas, de acordo com a informação da PJM.
O Ministério Público (MP) já tinha dado o alerta para a discrepância e para o perigo que o paradeiro desconhecido deste material de guerra representava para a segurança pública, num recurso que dirigiu ao Tribunal de Relação no âmbito da investigação, no passado mês de março. "As listas enviadas ao Parlamento são as mesmas que a PJM cedeu ao MP e há discrepâncias", garantem as mesmas fontes.
Responsáveis da Segurança Interna, Serviços de Informações e do Exército foram chamados ao Parlamento e garantiram desconhecer se havia material ainda desaparecido. Conforme o DN já noticiou, nesta audição o ex-chefe do Estado-Maior do Exército Rovisco Duarte deu informação errada ao Parlamento sobre os autos de apreensão do material.
Por iniciativa do CDS, a Comissão de Defesa requereu à PGR que enviasse a duas listas - do material roubado e do recuperado - para fazer o cruzamento. Os centristas ainda não tiveram acesso a estes documentos porque o presidente da comissão, Marco António Costa, pediu à PGR uma "clarificação" sobre como devem ser "manuseados", uma vez que estão em segredo de justiça.
Quando acederem às listas, o deputados vão poder confirmar, garantem as fontes do DN, a discrepância que o MP já tinha assinalado: 30 cargas de corte explosivas, três granadas ofensivas, duas granadas de gás lacrimogéneo e um disparador de descompressão foram roubados dos paióis e não foram devolvidos.
De acordo com a lista publicada pelo Ministério da Defesa no relatório "Tancos - Factos e Documentos", em 28 de junho de 2017, foram furtados dos paióis 22 bobines de arame de tropeçar; 1450 munições de 9 mm; 15 disparadores; 18 granadas de mão de gás lacrimogéneo, 30 granadas de mão de instrução; 120 granadas de mão ofensivas; 44 LAW (arma anticarro); 102 cargas de corte explosivas; 264 velas de explosivo plástico PE-4A; 30,5 lâminas explosivas e 60 iniciadores.
Na equipa de investigação há, no entanto, quem não descarte a possibilidade de o inventário inicial ter sido mal feito ou mesmo de o registo dos paióis não estar rigoroso. Isto porque, como foi noticiado, entre o material apreendido, perto da Chamusca, estava uma caixa de velas de explosivo plástico "a mais" que não tinha sido registada. O que deu origem a um dos episódios mais caricatos deste processo, protagonizado por Rovisco Duarte.
"Não tivemos, como se sabe, ainda acesso às listas enviadas pela PGR, mas, a confirmar-se a discrepância, isso só reforça a nossa convicção de que a informação que tem sido enviada ao Parlamento não batia certo com a realidade", assinala o deputado João Rebelo, coordenador do CDS na Comissão de Defesa.
João Rebelo sublinha que esta confirmação "dá ainda mais razão à realização de uma comissão de inquérito e à centralidade da questão levantada, desde o início, pelo CDS e que reside no facto de que, num contexto tão grave, o Parlamento, que é um órgão de soberania, não receba informação rigorosa. E isso é muitíssimo grave".
Nesta sexta-feira, o Parlamento vota a proposta do CDS-PP para a constituição de uma comissão de inquérito ao furto de armamento em Tancos, que tem aprovação garantida com os votos da bancada democrata-cristã, do PS e do PSD e a abstenção do PCP. BE e PEV já disseram que não vão inviabilizar o inquérito.