Ministros e Segurança Interna quase um dia no escuro sobre Tancos

Principal chefe militar também só soube do furto do material de guerra pelos media, assim como das decisões tomadas pelo Exército
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O material de guerra furtado em Tancos poderia ser usado em atos de terrorismo mas o Governo, o principal chefe militar e a responsável pelo Sistema de Segurança Interna estiveram quase 24 horas sem informação sobre o caso.

Esta conclusão decorre das audições de ontem, na Comissão parlamentar de Defesa, ao chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) e à Secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SGSSI), general Pina Monteiro e procuradora-geral adjunta Helena Fazenda, respetivamente - cujas respostas parecem ter esvaziado a pressão política que PSD e CDS estavam a colocar sobre o Governo pela forma como geriu o caso e em especial sobre o primeiro-ministro por ter ido de férias dois dias após a sua revelação.

Recorde-se que o furto do material militar foi descoberto cerca das 16:30 do dia 28 de maio, sendo divulgado na manhã do dia seguinte pelo Exército. Lança-granadas foguetes, explosivos plásticos, munições, granadas de mão ofensivas e de gás lacrimogéneo, bobinas de fio para ativação por tração ou disparadores foram alguns dos equipamentos que desapareceram.

"A preocupação imediata foi agir" ao saber do caso pela comunicação social, disse a SGSSI aos deputados, tendo falado com o CEMGFA (que estava em Bruxelas com o ministro da Defesa) nessa noite e marcado a primeira reunião da Unidade de Coordenação Antiterrorista para a tarde do dia seguinte - após o que, cerca das 20:00, disse a António Costa que os dados conhecidos não justificavam alterar o grau de "ameaça moderada à segurança do país.

"Perante todos os elementos disponíveis [no dia seguinte ao furto] não foi identificado qualquer elemento, qualquer circunstância que abalasse a avaliação da ameaça existente no território nacional" feita pela Unidade de Coordenação Antiterrorismo (UCAT) - "e concretamente no que se refere ao terrorismo", realçou Helena Fazenda.

A SGSSI relativizou, contudo, o facto de só ter sabido do caso pela imprensa e de só reunir a UCAT 48 horas após a descoberta do furto, pois a investigação criminal foi logo iniciada pela PJ Militar e depois prosseguida pela PJ com conhecimento do Ministério Público.

As audições, marcadas pela troca de galhardetes entre PSD e PS, permitiram saber ainda que nem a SGSSI nem o CEMGFA receberam qualquer informação prévia sobre haver riscos ou ameaças à segurança dos paióis de Tancos - alegadamente na posse do Ministério Público há vários meses. "Ninguém confirma mas ninguém desmente" esse dado, lamentou o deputado Carlos Costa Neves (PSD), ao que a SGSSI disse ser a entidade na posse da informação quem avalia e decide se deve partilhá-la na UCAT.

O CEMGFA, por sua vez, disse ter sabido pelos media que o CEME decidira exonerar os comandantes das cinco unidades responsáveis pela segurança dos paióis e ordenara a abertura de averiguações ao que ocorrera. O general Pina Monteiro lamentou também, embora de forma indireta, a falta de conhecimento e rigor de "muitos especialistas" que se pronunciaram publicamente sobre o caso de Tancos.

Pontos importantes, frisou, é que não desvalorizou a gravidade do caso, que quase todo o material furtado é perigoso e que as FA dependem das secretas civis para saber quais os riscos e ameaças à segurança das suas instalações.

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