Rui Rio. "O estilo do PSD não é gritar, as críticas têm de ser racionais"
É o próprio que assinala está prestes a bater um recorde com três anos na oposição ao governo. Rui Rio garante ao DN na véspera de comemorar o terceiro aniversário na presidência do partido que não se arrepende de ter estado ao lado do governo no momento em que começou a pandemia e em que "o país estava em estado de choque".
"Há um primeiro momento, em março, abril e maio, em que não faço oposição nenhuma e podia ter apontado os erros que o governo cometeu. Mas nenhum de nós, com honestidade, estávamos preparados para gerir a pandemia", afirma. Mas passado este período, diz, num segundo momento, chegados a setembro, "houve legitimidade para fazer críticas porque a experiência já era acumulada".
É neste sentido, que o PSD tem apontado as falhas no Serviço Nacional de Saúde. "Agora as críticas se forem feitas com equilíbrio e justiça empurram o governo para fazer melhor", garante. O líder do PSD reconhece que os que o criticam querem que seja "mais violento" na censura ao governo de António Costa. "O estilo do PSD não é ir gritar para junto das ambulâncias, as críticas têm de ser racionais", diz.
É também esse o motivo que tem levado o seu partido a votar favoravelmente os estados de emergência ao lado do governo porque, frisa, "é do interesse nacional". Esta expressão marcou todo o seu mandato à frente do PSD. Expressão disso é o facto de na moção que levou ao congresso, há um ano, admitia estar preparado para governar o país a partir de 2021. A pandemia veio trocar as voltas a estas contas, e Rui Rio afasta qualquer cenário de crise política.
"Não está na hora de eu tentar pôr cascas de banana ao Governo a ver se a coisa corre mal para eu ganhar votos com isso, não é para isso que eu estou aqui", já tinha afirmado Rio em entrevista à TVI, embora manifestando a esperança de que o Presidente da República possa ser "mais exigente" com o executivo no seu segundo mandato.
Rui Rio mantém ao DN que o seu maior desafio, o mesmo que já tinha projetado quando assumiu a liderança do PSD em 2018 - quando ganhou contra Pedro Santana Lopes - é o das eleições autárquicas de 2021. "Fui acusado nessa altura de ter dado como perdidas as eleições autárquicas (as de 2019). Falso! Tinha consciência que as legislativas são importantes, mas o que garante o futuro duradouro do partido é a sua implantação local e as suas centenas de eleitos", afirma. Sobretudo depois do partido ter tido desastres nas eleições autárquicas de 2013 e 2017.
Para as que se avizinham defendeu um adiamento por 60 dias e manifesta-se irritado quando tentam encontrar nessa proposta qualquer ligação a uma eventual dificuldade do PSD em encontrar cabeças de lista às principais câmaras do país. "Tenho é dificuldade de lidar com a hipocrisia", afirma.
Rio não abre o jogo sobre os candidatos. Garante que tem "na cabeça" várias hipóteses de nomes, "cada um com o seu valor" para as principais autarquias, mesmo para Lisboa e Porto. Ainda que admita que, por exemplo para a maior câmara do país, "não se dá um pontapé na pedra e encontra-se um candidato de qualidade". Mas tem andado a ouvir opiniões para os candidatos certos. Muitos em coligação com o CDS.
Rio diz que o "acordo chapéu" com o partido de Francisco Rodrigues dos Santos está quase a ser assinado, a que se segue outro para cada um dos municípios em que decidirem ir de braço dado às autárquicas. Lisboa é um desses casos e nem se mostra "surpreendido" por Assunção Cristas - a ex-líder do CDS que foi candidato nas anteriores autárquicas na capital e teve 20% dos votos, ficando à frente do PSD - ter dito que não estava disponível para nova corrida eleitoral.
Do que já passou, o líder social-democrata elege as eleições legislativas de 2019 como o mais marcante destes três anos, pelos debates com António Costa, mas sobretudo porque se sente orgulhoso de ter feito uma campanha diferente "em que tentei que não fosse aborrecida para os portugueses".
Uma campanha em que evitou o rota da chamada "carne assada", ou almoços e jantares-comício (apenas um em viseu), os comícios propriamente ditos (só fez três, em Lisboa, Porto e Aveiro) e as arruadas. Em vez disso, optou por um formato de "talks", debates ao fim da tarde, em que um plateia lhe colocava perguntas. Antecedidas de um sketch feito por dois artistas de teatro sobre o tema em debate.
O momento mais negativo que viveu dilui-o em todo o ano de 2018 - "um largo período em que houve permanentemente a tentativa de boicote interno para me derrubar, mas em que consegui fazer as listas para as eleições europeias e legislativas a tempo e horas". Aponta simbolicamente o culminar desse tempo negativo para "a tentativa de golpe" no Conselho Nacional do PSD, em janeiro de 2019, por parte de apoiantes de Luís Montenegro, que já tinha assumido que estava disponível para enfrentar Rio em diretas.
O confronto entre o antigo líder parlamentar e Rio deu-se mesmo em diretas, mas só em janeiro de 2020 e Montenegro foi derrotado.
O presidente do PSD nunca escondeu que também se sente gratificado por ter "saneado financeiramente" o PSD, que estava numa situação complexa quando assumiu a liderança, tal como as alterações internas de gestão ou a criação do Conselho Estratégico Nacional que produziu pensamento sobre as várias áreas da governação.
Depois das derrotas eleitorais nas europeias e legislativas de 2019, o líder social-democrata viu manter-se o PSD no poder na Madeira, embora já sem maioria absoluta, e ganhar um novo fôlego nos Açores. Nas regionais de outubro passado, o seu partido atingiu o poder mais cedo do que se previa pela mão de um dos seus vice-presidentes, José Manuel Bolieiro, que se aliou ao CDS e PPM, com o polémico apoio do Chega no Parlamento regional, para formar governo e tirar o PS do poder. O Chega é ainda uma pedra no sapato do PSD, e Rio enjeita para já estender a mão ao partido de André Ventura nas próximas eleições.
FRANCISCO SÁ CARNEIRO
Líder carismático e idolatrado
1974-1977 e 1978-1980
O fundador do PSD, em 1974, não foi o líder que mais tempo esteve ao leme do partido, mas o que esteve foi muito marcante e é a figura mais idolatrada do partido ainda hoje. Demitiu-se da presidência social-democrata em 1977, mas foi reeleito no ano seguinte. Em 1979 criou a Aliança Democrática, com o CDS, PPM e o Movimento dos Reformadores e venceu as legislativas esse ano com maioria absoluta. Governou durante poucos meses, já que em dezembro de 1980 morreu quando o Cessna em que viajava com Adelino Amaro da Costa se despenhou em Camarate.
Aníbal Cavaco Silva
De primeiro-ministro a Presidente
1985-1995
É o recordista na liderança do PSD, com quase dez anos, e foi o único que conseguiu ser primeiro-ministro e Presidente da República. Cavaco Silva conquistou a presidência social-democrata no congresso da Figueira da Foz, já é conhecida a história da rodagem dos Citroën, em 1985. Nesse mesmo ano conseguiu ganhar as eleições legislativas, sem maioria absoluta, governo que veio a cair pela mão do PRD. Em 1987, consegue a primeira de duas maiorias absolutas, que renova em 1991. Falha na primeira corrida a Belém, contra o socialista Jorge Sampaio, em 1996, mas em 2006 é eleito para o primeiro de dois mandatos em Belém.
MARCELO REBELO DE SOUSA
Líder combativo com a mira em Belém
1996-1999
Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu liderar o PSD por três anos e dois meses, entre 1996 e 1999, mas foi o único dos cinco presidentes com mais longevidade a não chegar a primeiro-ministro. Ainda sonhou com uma Alternativa Democrática com o CDS de Paulo Portas para atingir esse objetivo, mas o projeto esfumou-se. Durante a sua liderança teve algumas vitórias políticas no braço-de-ferro com o então governo do socialista António Guterres, entre as quais dois referendos, o da regionalização e primeiro da despenalização do aborto. Em ambos prevaleceu a posição que defendia, ou sejam foram chumbadas as duas possibilidades (só num segundo referendo o aborto passou). Marcelo conseguiu também a proeza de ser eleito Presidente da República em 2016, e já vai no segundo mandato.
José Manuel Durão Barroso
Do governo com vista para Bruxelas
1999-2002
Durão Barroso aguentou-se quatro anos e meio à frente do PSD, depois de já ter passado pelos três governos de Cavaco Silva. Assume a presidência do PSD em 1999, quando Marcelo Rebelo de Sousa deixou o cargo, tendo ficado célebre a frase "tenho a certeza de que serei primeiro-ministro, só não sei quando". Muitos vaticinaram que não chegaria lá, mas as autárquicas de 2001, em que o PS foi derrotado em toda a linha e Guterres, então primeiro-ministro, deitou a toalha ao chão, ajudaram-no a atingir o objetivo. Ganhou as legislativas de 2002, e foi primeiro-ministro durante dois anos, findo os quais partiu rumo a Bruxelas para liderar a Comissão Europeia, deixando o PSD e o governo nas mãos de Pedro Santana Lopes.
PEDRO PASSOS COELHO
Uma vitória que foi uma derrota em 2015
2010-2017
Foram quase oito anos que Pedro Passos Coelho conseguiu na liderança do partido. O antigo líder da JSD conquistou o lugar em 2010 - depois de ter sido derrotado por Manuela Ferreira Leite numa primeira corrida à presidência do partido - pouco antes da crise que levou à entrada da troika em Portugal. O que também lhe valeu uma vitória nas legislativas de 2011, em que se aliou ao CDS para governar. Voltou a ganhar as eleições de 2015, já coligado com os centristas, mas a maioria relativa não lhe deu margem para manter-se na governação do país. O parlamento chumbou o programa do seu governo e António Costa formou a tal geringonça com o PCP e o BE e substituiu-o na cadeira de São Bento. Passos Coelho, que se demitiu da liderança em 2018 ainda é um nome que continua ser desejado para a liderança dentro do partido.