Ouro abundante; desconfinamento a "conta gotas". Ritmos para todos os gostos
Sábado, 6 de março
"Sabemos que o futuro não acontece, constroi-se e conquista-se". A frase é de Jerónimo de Sousa, no dia em que o PCP assinalou o seu 100.º aniversário e falou sobre o seu futuro mais imediato. Recusando ser "força de apoio do PS", mas poupando o governo aos principais ataques, o secretário-geral dos comunistas aponta baterias aquilo a que chama de projeto "reacionário" e "revanchista" de PSD e CDS. No entender de Jerónimo, estes namoram hoje os seus "sucedâneos Chega e Iniciativa Liberal" no sentido de montarem "uma maioria artificial" para alcançar o poder, naquilo que seria uma resposta à geringonça que em 2015 permitiu a António Costa formar governo à esquerda com apoio formal de PCP e Bloco. Mas, aos 100 anos, a luta comunista não se poderá apenas limitar a travar a direita. Terá de passar muito pela renovação, processo em que o teste autárquico que está a porta poderá ser decisivo.
Domingo, 7 de março
Foram três dias de grande competência nos Europeus de Torun, na Polónia, naquela que foi a melhor prestação nacional de sempre na competição - três medalhas de ouro. Um feito que não foi obra do acaso, mas sim resultado de um trabalho sustentado em outras vertentes do atletismo que não o fundo e meio-fundo que, no passado, deram fama ao país através de atletas como Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro ou Fernando Mamede. Auriol Dongmo, a camaronesa cuja devoção a Fátima a conduziu a Portugal, e Pedro Pichardo, o desertor cubano que atravessou o Atlântico para dar asas ao sonho olímpico, eram favoritos nos respetivos concursos - lançamento do peso e triplo salto - e confirmaram os pergaminhos. Patrícia Mamona também seria sempre candidata à medalha no triplo salto, mas a paragem por ter sido infetada com covid-19 atrasou-a na preparação. No momento da verdade, superou-se: não só conquistou o ouro, como fixou um novo recorde nacional. Boas notícias para Portugal em ano olímpico.
Segunda-feira, 8 de março
A tendência de descida dos novos casos de covid-19 (a incidência estava agora nos 141 casos por 100 mil habitantes), os mais de vinte dias consecutivos com diminuição de internados em UCI ou o facto de Portugal apresentar à data o índice de risco de transmissibilidade (Rt) mais baixo da Europa pareciam música para os ouvidos de António Costa. Mas, no entanto, houve vários alertas que resultaram da reunião no Infarmed. A ministra da saúde avisou para a continuidade três ameaças: afinal, o Rt tem vindo a subir desde 10 de fevereiro; a variante inglesa do vírus (mais transmissível) representa já 65% dos casos em Portugal e a mobilidade da população tem vindo sempre a subir desde final de janeiro. A sede pelo desconfinamento é muita. A necessidade de dar passos nesse sentido também, a bem da economia e da saúde mental dos portugueses. Mas os riscos não desapareceram. Será preciso bom senso de todos para evitar os erros do Natal.
Terça-feira, 9 de março
Depois de ir a pé para a tomada de posse (tal como há cinco anos), Marcelo identificou na AR as suas "cinco missões" para o segundo mandato, deixando claro a todos que terá especial atenção à aplicação dos fundos europeus, que deverão ser usados "com clareza estratégica, boa gestão, transparência e eficácia" para reconstruir o país no pós-pandemia e garantir a "coesão social". Já depois da cerimónia, confrontado com a ausência de Cavaco Silva na sessão de cumprimentos, responderia de forma taxativa: "Só me ocupo do que é fundamental: vencer a pandemia, reconstruir Portugal e afirmar o papel de Portugal no mundo". Também houve tempo para Marcelo ser... Marcelo, indo ao encontro de trabalhadores da Groundforce em protesto no aeroporto do Porto e numa visita não programada (e em passo rápido) ao Bairro do Cerco, onde foi recusando abraços mas, ainda assim, acedeu voltar às selfies. O segundo mandato é, tradicionalmente, mais intenso que o anterior. Marcelo iniciou-o com pedalada.
Quarta-feira, 10 de março
Após uma decisão judicial que não o inocentou, mas que, na prática, anulou as condenações de que Lula da Silva foi alvo, por incompetência legal do tribunal que as julgou, reencaminhando-as para outro juiz, o ex-presidente brasileiro quebrou o silêncio mas sem abrir (ainda) o jogo sobre uma eventual candidatura às eleições de 2022 contra Bolsonaro. Dizendo-se vítima da "maior mentira jurídica contada em 500 anos de história", Lula não deixou de dirigir o seu discurso à base que o elegeu por duas vezes presidente do Brasil, os mais pobres: "Não há dor maior do que levantar de manhã e não ter a certeza de ter um café e um pãozinho com manteiga para tomar, do que não ter um prato de feijão com farinha para dar ao filho, do que saber que está desempregado e não terá salário para sustentar a família". Certo é que o regresso de Lula já causou uma "tempestade política", como notou o jornalista João Almeida Moreira no DN.
Quinta-feira, 11 de março
O governo deu a conhecer o plano de desconfinamento a "conta-gotas" (que pode consultar aqui), tal como o classificou António Costa, que foi ao encontro das preocupações dos especialistas de saúde (a única exceção terá sido a antecipação da reabertura as escolas do 1.º ciclo) mas não deu ainda a resposta que o setor económico precisa e esperava. A comunicação também seria marcada pela desdramatização das alegadas divergências com Marcelo em relação ao ritmo do desconfinamento, com Costa a revelar que o facto do Presidente não se dirigir ao país após a renovação do 13.º estado de emergência (o que fez sempre, exceto no período entre o anúncio da sua recandidatura à presidência e a reeleição) foi combinado entre ambos. Marcelo confirmaria isso mesmo no dia seguinte e acrescentou que o plano do governo apresentava um "equilíbrio muito razoável e prudente". Se realmente se abriu uma ferida na relação institucional, a cautela expressa nas fases de desconfinamento (e o aviso que pode haver marcha-atrás) ajudou a cicatrizar.
Sexta-feira, 12 de março
Conhecido o plano de desconfinamento, foi a vez de se perceber que novos apoios estavam reservados para a economia e o setor social, num bolo total à volta de sete mil milhões de euros, 1160 dos quais a fundo perdido, a que se juntam novas medidas de incentivo fiscal e o alargamento do lay off simplificado a empresas que até aqui não estavam abrangidas. A eficácia dos apoios vai depender muito da velocidade com que estes cheguem a quem precisa. E não há tempo a perder, pois o caminho para recuperar é apertado. Sejam pequenos ou grandes negócios. Olhe-se, por exemplo, para a situação da TAP, que sexta-feira levou o governo a pedir autorização a Bruxelas para prestar um apoio financeiro intercalar que pode chegar aos 463 milhões de euros.