Desporto
07 março 2021 às 17h36

Patrícia Mamona é campeã da Europa do triplo salto... por um centímetro

Atleta do Sporting bateu o recorde nacional e conquistou o ouro para Portugal nos Europeus de Atletismo de Pista Coberta. Em 2016 sagrou-se campeã europeia do triplo salto no mesmo dia em que Portugal venceu o EURO2016. Viciada em café, sonhava ser médica e estuda Engenharia Biomédica "aos bocadinhos".

Patrícia Mamona é campeã da Europa do triplo salto... por um centímetro. É a terceira medalha de ouro para Portugal, depois de Auriol Dogmo (lançamento do peso) e Pedro Pichardo (triplo salto). É o segundo título europeu da portuguesa, o primeiro em pista coberta. Em 2016 sagrou-se campeã europeia do triplo salto no mesmo dia em que Portugal se sagrou campeão europeu de futebol.

A atleta do Sporting abriu o concurso com um salto de 17.34 metros que a levaria à liderança e manteve o nível no segundo ensaio (17.38m). A terceira tentativa foi ainda melhor e valeu-lhe mais um recorde nacional (17.53m). Depois foi gerindo...

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Patrícia Mamona, 32 anos, é filha de angolanos, mas nasceu em Lisboa. E foi no Cacém, onde viveu na juventude, que tudo começou. Começou a interessar-se pelo atletismo por culpa dos... donuts, o prémio de participação.

Foi no final de uma prova de corta-mato que um professor de educação física, José Uva (hoje ainda é o seu treinador), a fez despertar para a competição. Mas os pais não gostaram muito da ideia e foi preciso o professor/treinador convencê-los que a filha tinha futuro no atletismo.

Inscreveu-se no JOMA em 2001 e logo na primeira época ganhou o Atleta Completo. Como iniciada, em 2003, liderou os rankings de 80m barreiras, altura, comprimento, triplo e heptatlo, batendo os recordes nacionais destas duas últimas especialidades. Em 2011 foi para o Sporting.

A família entretanto mudou-se para Inglaterra, mas Patrícia ficou em Portugal a viver com uma tia - prometeu-lhes que ia conseguir conciliar o atletismo com o curso de medicina.

Mas o curso era exigente e perdia muitas horas no caminho entre os treinos e a faculdade. Como "sonhava ser médica" resolveu deixar o atletismo de lado. Até que se lembrou que nos Estados Unidos havia um programa universitário para alunas-atletas e decidiu concorrer. Ganhou uma bolsa aos 17 anos e foi estudar medicina para a Universidade de Clemson, na Carolina do Sul, onde conciliou as duas coisas.

Acabou por regressar a Portugal e aos treinos no Sporting com Gonçalo Uva e João Ganso, que treinava Nelson Évora e era o maior especialista do triplo salto do país. Para ser atleta de alta competição tinha de ser "atleta durante 24 horas" e apostar tudo no treino. Por isso treinava seis horas por dia e os resultados foram aparecendo, tanto nos nacionais como nos europeus.

Em 2016 sagrou-se campeã europeia do triplo salto no mesmo dia em que Portugal se sagrou campeão europeu de futebol, durante o Europeu de Atletismo, em Amesterdão, ao saltar 14,58 metros. Depois seguiu-se a presença nos Jogos Olímpicos do Rio2016 e o 6.º lugar com o seu melhor salto de sempre (14,65 metros). Também em 2016, nos Campeonatos da Europa de pista coberta em Belgrado, foi medalha de prata no triplo salto. Antes, em 2012, tinha ganho a prata nos Europeus de Helsínquia.

Hoje é uma atleta a 100% e vai fazendo as cadeiras do curso de Engenharia Biomédica aos bocadinhos. "Ainda fiz um ano de Medicina em Portugal, mas não foi nada fácil de conciliar com a vida de atleta. Mas as ciências sempre me interessaram e escolhi Engenharia Biomédica porque envolve a parte humana e a tecnologia, que é algo que me agrada", contou numa entrevista ao Jornal do Sporting no ano passado, onde também revelou que é viciada em café: "Recordo-me de uma vez que competi sem beber [café] e senti-me estranha e a prova não correu bem. Desde esse dia que levo sempre café comigo e tenho de beber antes de uma competição."