18 DEZ 2021
18 dezembro 2021 às 07h00

Dois enormes campeões, dois detidos de peso e a assustadora Ómicron

A semana começou com a detenção de João Rendeiro na África do Sul. Dias depois, seria a vez de um ex-ministro da Economia ser detido em Portugal. Pelo meio houve muita polémica na F1 e uma tremenda bronca na UEFA. Tudo isto enquanto a variante Ómicron ganha terreno no país e no mundo.

Sábado, 11 de dezembro

Três meses depois de fugir à justiça portuguesa, período em que teve até à vontade suficiente para dar uma entrevista à CNN Portugal (em que usou meios encriptados para não ser localizado), a PJ anunciou na manhã de sábado a detenção de João Rendeiro na África do Sul. O antigo banqueiro do BPP, que está condenado em três sentenças a um total de 19 anos de prisão, estava alojado num hotel de cinco estrelas, em Durban, quando a polícia sul-africana executou o mandato de detenção internacional. A PJ explicou que Rendeiro tinha preparado a fuga durante vários meses, um processo facilitado por continuar a ter acesso a fundos. O diretor nacional da PJ deu conta do trabalho de "resiliência, sofrimento e paciência" que foi necessário aos inspetores para investigar, localizar e esperar até toda a documentação legal estar em ordem para consumar a detenção. A fuga de Rendeiro era uma ferida para a PJ. Que importava estancar. "O meu primeiro pensamento quando soube da fuga foi 'temos de o agarrar!'", assumiu Luís Neves ao DN.

Domingo, 12 de dezembro

Foi um fim de semana de grandes feitos desportivos. Sábado, a portuguesa Marta Paço, de apenas 16 anos, sagrou-se campeã mundial de surf adaptado (atletas com deficiência visual), dominando a final por completo. Dias mais tarde, explicaria ao DN como é que surfar pode ser mais simples do que se movimentar no seu dia a dia: "No mar não tenho obstáculos, ao contrário da rua e em todo o lado. Sou só eu, a prancha e a água". Já nas pistas, o domingo foi de emoções fortíssimas na Fórmula 1. O título mundial foi decidido, literalmente, na última volta do GP de Abu Dhabi (e com muita polémica à mistura). Max Verstappen (Red Bull) mostrou fibra de campeão (e melhores pneus também) e fez a última ultrapassagem que faltava para bater Lewis Hamilton (Mercedes), conquistar o 1.º lugar e o 1.º título da carreira e evitar o 8.º campeonato do britânico, que seria um novo recorde na modalidade.

Segunda-feira, 13 de dezembro

Se os atletas Marta Paço e Max Verstappen fizeram história nas respetivas modalidades, a UEFA também o fez. Mas pelos piores motivos. A suspeição em relação aos sorteios de competições de futebol não é de agora (a velhinha história das bolas quentes e frias tem décadas), mas desta vez o que aconteceu mesmo foi uma enorme asneira, de tal ordem que foi necessário repetir todo o sorteio da Liga dos Campeões. Que é "só" a mais importante competição de clubes em todo o Mundo. A UEFA apressou-se a sacudir responsabilidades, atirando as culpas do alegado erro de software para um prestador de serviço externo, mas o mal estava feito e teve significado diferente para as duas equipas portuguesas ainda em prova: se o Benfica se livrou do Real Madrid para, agora, ter o Ajax como adversário, já o Sporting passou da mais acessível Juventus dos últimos anos para o todo poderoso Manchester City, de Bernardo Silva, Ruben Dias, Cancelo e Guardiola.

Terça-feira, 14 de dezembro

Mais de três anos depois de ser constituído arguido no âmbito do caso EDP, suspeito dos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais, Manuel Pinho foi detido na terça-feira quando se apresentou para um novo interrogatório no DCIAP, por o MP considerar que existia perigo de fuga. Ricardo Sá Fernandes, advogado do ex-ministro da Economia, falou numa "situação grave de abuso de poder" por parte da justiça portuguesa. "Há apenas a vontade de prender estas pessoas em nome de uma ideia populista da justiça", disse. Pinho teve de esperar mais 24 horas para conhecer as medidas de coação aplicadas pelo juiz Carlos Alexandre. Fica em prisão domiciliária, com pulseira eletrónica, ou paga uma caução de seis milhões de euros.

Quarta-feira, 15 de dezembro

O vice-almirante Gouveia e Melo, o rosto do bem sucedido processo de vacinação contra a covid-19 em Portugal, foi eleito pela redação do Diário de Notícias como a personalidade do ano nacional. Convidado para uma tertúlia do DN (comemorativa do 157.º aniversário), que teve lugar na antiga sede do jornal na Avenida da Liberdade, o militar focou-se, sobretudo, no futuro e destacou, por exemplo, a importância de cuidar do mar, "talvez o último ativo estratégico do país". Sem fechar a porta a uma candidatura a Belém, Gouveia e Melo deixou também uma mensagem aos portugueses para o período festivo, ainda em pandemia: "Cuidado. Não há vacina que compense a falta de cuidado". A redação do DN escolheu ainda a crise política como acontecimento do ano nacional. Joe Biden e a invasão do Capitólio dos EUA foram eleitos a personalidade e o acontecimento do ano internacional.

Quinta-feira, 16 de dezembro

Mais velhos, mais escolarizados, mas em menor número. Os novos dados provisórios dos Censos2021, libertados pelo INE, mostram que Portugal perdeu 217 376 habitantes nos últimos 10 anos (somos agora 10 344 802, 5,4% residentes de nacionalidade estrangeira). Uma quebra de 2,1% na população, sendo que a última vez que tal se tinha registado foi em 1970 em resultado da elevada emigração na década de 60. Estamos também mais envelhecidos: o número de pessoas com 65 anos ou mais aumentou 20,6% desde 2011 e os com menos de 15 anos diminuiu 15,3%. Por outro lado, "o nível de escolaridade aumentou de forma significativa" e, atualmente, 38,7% da população tem, pelo menos, o ensino secundário completo.

Sexta-feira, 17 de dezembro

A prevalência da Ómicron em Portugal vai ser de 50% no Natal e 80% no final do ano. Os cuidados a ter nos próximos dias - "uso de máscara, mais testes, mais vacinação e mais controlo de fronteiras" - serão determinantes para perceber o impacto da nova variante no país. Sendo a Ómicron, de acordo com os primeiros estudos, mais contagiosa, o que se espera é um aumento rápido no número de casos que, mesmo não sendo tão graves mas olhando para os grandes números, provocarão uma subida de "internamentos e eventuais óbitos", o que trará um impacto acrescido aos serviços de saúde. Os dados foram avançados ontem, pela ministra da Saúde, que deixou em aberto a aplicação de mais medidas restritivas para responder à pandemia. Ontem, a DGS deu conta de mais 4644 novos casos e 24 mortes. A incidência voltou a subir, mas baixou o número de internados tanto em enfermarias(943) como em UCI (147).

pedro.sequeira@dn.pt