Desporto
12 dezembro 2021 às 19h32

Verstappen campeão em final emocionante e com protestos da Mercedes

Uma corrida de loucos em Abu Dhabi com tudo a decidir-se na última volta, quando o piloto da Red Bull ultrapassou Lewis Hamilton. No final, a Mercedes ainda apresentou dois recursos para mudar o desfecho da corrida, mas a FIA confirmou o título de Mad Max.

Nuno Fernandes com Lusa

O GP de Abu Dhabi já tinha todos os aperitivos para ser uma das corridas mais emocionantes dos últimos anos da Fórmula 1, com Max Verstappen (Red Bull) e Lewis Hamilton (Mercedes) a chegarem à batalha final em igualdade pontual (algo que só se tinha verificado uma vez). Melhor só mesmo um campeão na última volta. E aconteceu! Um final de loucos, permitiu ao neerlandês de 24 anos sagrar-se pela primeira vez campeão mundial, com uma ultrapassagem ao britânico no final. A Mercedes, contudo, não gostou deste epílogo, motivado pela entrada do safety car, e apresentou dois recursos para mudar o desfecho da classificação e consequentemente do campeonato. No entanto, a FIA recusou essas pretensões, confirmando o título de Verstappen.

Na base de toda esta polémica está uma decisão tomada no final da corrida. Na 54.ª volta, um safety car acionado após um despiste de Nicholas Latifi que só deixou a pista na última volta, permitiu que Verstappen (que aproveitou para colocar pneus macios) se aproximasse do rival (que optou por manter o pneus e não ir às boxes) quando chegara a ter 11 segundo s de desvantagem.

A direção da corrida ordenou bandeira verde para a derradeira volta e a emoção tomou conta da corrida. Com Hamilton ainda na liderança, Verstappen forçou um ataque e acabou por ultrapassar o britânico na curva 5. Hamilton ainda tentou passar para a frente na curva 9, mas não conseguiu. Num final de loucos, Verstappen cortou a meta no primeiro lugar e festejou o título.

Mas a Mercedes, que ganhou o título de construtores, apresentou no final da corrida dois protestos junto da FIA. A equipa germânica alegava a quebra dos artigos 48.8 e 48.12 dos regulamentos. Em causa, uma alegada ultrapassagem de Verstappen ao carro do britânico enquanto a corrida estava em situação de safety car, o que impede ultrapassagens, mas, também, a ordem contraditória da direção de corrida sobre o que fazer com os pilotos dobrados.

Inicialmente, a mensagem era para não se alterarem as posições em pista, o que deixaria Lando Norris, Fernando Alonso, Ocon, Charles Leclerc e Vettel no meio de ambos, mas esta decisão foi depois invertida, o que permitiu ao neerlandês ficar colado ao britânico e superá-lo na última volta. Na prática, a Mercedes entendia que a corrida deveria ter terminado com o safety car em pista e por isso contesta a classificação final e o campeonato.

"Isto é inaceitável. O Max é um piloto fantástico que fez uma época incrível e tenho grande respeito por ele, mas o que aconteceu é absolutamente inaceitável. Não acredito no que acabei de ver", atirou no final George Russell, piloto da Williams, que para o ano vai ser colega de equipa de Hamilton na Mercedes, incrédulo com a decisão da direção da corrida em permitir a última volta sem safety car.

Refira-se que antes desta polémica, logo na primeira volta também houve um incidente. Verstappen largou da pole position, mas Hamilton partiu melhor e ultrapassou-o. E na primeira curva tocaram-se. Apesar disso, Hamilton manteve a liderança, mas a Red Bull protestou via rádio que o britânico teria saído de pista e por isso devia ceder a sua posição. Mas os comissários acharam que a situação não teria de ser alvo de investigação. Certo é que apesar de campeão em pista, este protesto da Mercedes deixa a atribuição do título ainda em aberto caso surja uma decisão em contrário. Para já, contudo, ainda não se sabe quando será tomada uma posição final pelos juízes. Mas uma coisa é certa. os próximos dias serão férteis em discussões. De um lado os defensores de Max Verstappen, do outro o alegavam que a Mercedes tem razão no protesto.

Polémicas à parte, Max Verstappen estava destinado a ser campeão mundial de Fórmula 1, depois de já ter sido o mais novo de sempre a competir na categoria rainha do desporto automóvel, antes mesmo de ter idade para ter a carta de condução.

Filho de um antigo piloto, Jos Verstappen, Mad Max, como é apelidado por muitos devido ao seu caráter irreverente nas pistas, tornou-se no primeiro neerlandês a ser campeão de F1

Desde cedo que o jovem Max, filho mais velho de Jos e Sophie Kumpen, entrou no mundo da competição, desde logo porque o pai tinha sido o mais bem-sucedido piloto dos Países Baixos antes do surgimento do filho. Também a mãe competiu, em karts, com sucesso, modalidade em que o agora campeão se iniciou aos quatro anos de idade.

Aos 15 viria mesmo a sagrar-se campeão mundial em karting, demonstrando que a educação rígida que recebeu em casa estava a formar um piloto de elite.

A relação dura com o pai é um dos segredos mais mal-escondidos do paddock, e o próprio Verstappen recordou, em 2019, um episódio em que o pai o abandonou numa bomba de gasolina, em Itália, depois de se ter despistado numa corrida "que deveria ter vencido facilmente", sendo que os dois estiveram a semana seguinte sem se falar. É precisamente devido a essa pressão familiar que Max Verstappen não encontrou "surpresas na Fórmula 1", pois não houve "ninguém mais duro" consigo do que o próprio pai.

Gerindo a carreira do filho com mão de ferro, Jos Verstappen guiou o jovem Max à F1 através da Toro Rosso, a equipa satélite da Red Bull, em 2015, iniciando um trajeto em que quebrou vários recordes de precocidade da modalidade.

Com 17 anos e 166 dias, tornou-se, no GP da Austrália, no mais novo de sempre a participar a tempo inteiro no Grande Circo. Duas corridas mais tarde, na Malásia, tornou-se no mais novo de sempre a pontuar, com 17 anos e 180 dias, ao ser sétimo classificado.

Em 2016, já com a temporada em curso, foi promovido à equipa principal da Red Bull, substituindo o russo Daniil Kvyat. E logo na corrida de estreia pela escuderia venceu o GP de Espanha, com 18 anos e 228 dias.

O sucesso de Verstappen foi sendo construído à base de vários incidentes, muitos deles provocados pela impetuosidade em pista.

Depois de dois terceiros lugares no campeonato, em 2019 e 2020, parece ter deixado para trás a vertente mais emotiva e, pela primeira vez, discutiu verdadeiramente o campeonato, revelando, aos 24 anos, uma maturidade conferida pelas sete temporadas que já leva na F1.

nuno.fernandes@dn.pt