Faucci e Estados Unidos duvidam da eficácia e segurança da vacina russa

O infecciologista norte-americano Anthony Fauci afirmou que tem "dúvidas sérias" que a vacina anunciada por Putin esteja pronta para uso.

A vacina anunciada pela Rússia não convence os especialistas de diferentes países, devido à rapidez com que foi apresentada, sem que toda a fase de testes esteja realizada. O principal especialista em doenças infecciosas dos EUA, Anthony Fauci, disse que "duvida seriamente" que a Rússia tenha desenvolvido uma vacina segura e eficaz que esteja pronta para uso.

O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou na terça-feira que o país aprovou a primeira vacina do mundo contra o novo coronavírus. O ministério da saúde da Rússia pretende produzir em massa a vacina no próximo outono, tendo apontado outubro e novembro como data para o início de uma campanha de entrega na Rússia e em pelo menos 20 países.

Mas subsistem dúvidas, já que a vacina Sputnik V ainda não passou pela fase 3 de ensaios e como tal ainda faltam testes generalizados para provar a segurança e eficácia.

Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, disse que os EUA têm uma série de vacinas em desenvolvimento e se quisessem "correr o risco de ferir muitas pessoas ou dar algo que não funciona, podíam começar a fazer isso na próxima semana". Mas "não é assim que funciona", afiançou o especialista em doenças infecciosas.

"Espero - mas não ouvi nenhuma evidência que me faça sentir que é esse o caso - que os russos tenham realmente provado definitivamente que a vacina é segura e eficaz", continuou Fauci, acrescentando que "duvidava seriamente."

Enfatizou a diferença entre uma vacina "segura" e "eficaz", dizendo que nos EUA há uma maneira de fazer as coisas em que há uma preocupação com a segurança e com a eficácia", enquanto isso não acontece de igual forma na Rússia ou na China.

Fauci fez estes comentários durante uma entrevista à National Geographic no âmbito do programa "Stopping Pandemics "

Na mesma linha de Fauci, outros especialistas médicos expressaram preocupação com a segurança da vacina, incluindo uma importante organização farmacêutica na Rússia, a Associação de Ensaios Clínicos.

"Esta é uma vacina nova, ainda não completou o teste com centenas de pessoas, para não mencionar vários milhares de participantes no estudo na fase 3", escreveu a organização numa carta aberta ao ministério da saúde russo.

Desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, com sede em Moscovo, a vacina ainda não passou por testes cruciais de fase 3, nos quais será administrada a milhares de pessoas. A Rússia não divulgou nenhum dado científico sobre os seus testes mas Kirill Dmietriev, diretor do Fundo Russo de Investimento Direto, disse à CNN que a segurança é garantida. "Sabemos que funciona e publicaremos os dados em agosto e setembro para demonstrar isso", afirmou.

Este responsável do organismo russo que financia a investigação de vacinas disse ainda que a Sputnik V "vai ter um lançamento muito gradual e cuidadoso". E para exemplificar que a segurança não é descuidada, adiantou que ele próprio e a sua família já tinham tomado a vacina.

Os testes da Fase 3 estão programados para começar esta quarta-feira na Rússia com 2.000 participantes. Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Brasil e México também vão participar nesta fase.

"Esta não é uma corrida para ser o primeiro"

As dúvidas manifestadas por Fauci e pelos analistas russos são partilhadas por outros especialistas. O secretário de Saúde dos EUA, Alex Azar, disse na terça-feira que os Estados Unidos têm padrões de segurança rígidos e "esta não é uma corrida para ser o primeiro".

"Exigiremos que qualquer vacina nos Estados Unidos seja segura e eficaz e atenda ao padrão mais rigoroso", disse Azar durante uma conferência de imprensa em Taiwan, onde se reuniu com líderes taiwaneses para discutir a covid-19. Azar disse que duas das seis vacinas nas quais o governo dos EUA investiu entraram nos testes clínicos de Fase 3 há semanas e observou que os dados dos testes iniciais russos não foram divulgados.

Na Alemanha, o ministério da Saúde tem as mesmas dúvidas sobre a eficácia e segurança. "Não há dados conhecidos sobre a qualidade, eficácia e segurança da vacina russa", disse uma porta-voz do ministério.

Também a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi prudente e disse que está em contacto com cientistas e autoridades russas. Espera poder verificar os dados dos testes para se pronunciar com maior segurança.

De acordo com a OMS, existem 28 vacinas na fase de testes em humanos em todo o mundo.

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