Rússia
Já se esfumaram as esperanças de ver em breve na Rússia uma autêntica democracia. Eram expectativas vãs porque, ao contrário da maioria dos antigos satélites europeus da URSS, na Rússia nunca houve sequer um cheirinho de democracia - passou directamente da autocracia dos czares para a ditadura comunista. O apoio de Moscovo ao primeiro-ministro Yanukovitch nas eleições presidenciais da Ucrânia teve a ver não só com a presença militar russa na Crimeia, como, sobretudo, com o receio de ter um regime democrático ali ao lado, numa república da ex-União Soviética (na Bielorrússia esse perigo está afastado).
Da economia de mercado os russos apenas tiveram uma breve e limitadíssima experiência há um século - enquanto os chineses, por exemplo, mostram dentro e fora do seu país um grande à-vontade no capitalismo. A estabilidade política que Putin trouxe à Rússia atenuou um pouco o caos económico. E os russos têm beneficiado da alta do petróleo e do gás natural (a Rússia detém mais de um quarto das reservas mundiais de gás). Mas a economia russa, que equivale a pouco mais do que a economia da Holanda, continua dominada pelas máfias e pela corrupção. Porque falta ali um Estado tal como o entendemos no Ocidente.
Putin combate alguns gangs económicos, mas corta a liberdade de expressão dos media e descura, porque lhe convém, a independência do sistema judicial. O presidente russo, grande apoiante de Bush, aproveitou as entorses ao direito a que o combate ao terrorismo já levou nos Estados Unidos para ter mãos livres na Chechénia, onde acontecem horrores que os ocidentais fingem não ver. Em todo o caso, num país que mantém um arsenal nuclear, já não é mau ter em Moscovo um czar como Putin, pondo alguma ordem na casa e procurando boas relações com o Ocidente.