O Hamas chegou a chamar Donald Trump de racista, uma "receita para o caos" e um homem com uma visão absurda para Gaza, mas tudo mudou num telefonema. Nessa chamada telefónica, o presidente dos Estados Unidos colocou ao telefone, após uma reunião na Casa Branca em setembro, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para pedir desculpa ao primeiro-ministro do Qatar por um ataque israelita a um complexo residencial que albergava líderes políticos do Hamas em Doha.A forma como Trump conduziu o incidente, que não resultou na morte dos responsáveis do Hamas visados, entre os quais o negociador-chefe Khalil al-Hayya, deu ao movimento islamita palestiniano mais confiança de que o Trump seria capaz de enfrentar Netanyahu e que estava a falar a sério sobre o fim da guerra em Gaza, disseram duas autoridades palestinianas, citadas pela Reuters.Esse telefonema ajudou a persuadir o Hamas de que o presidente norte-americano poderia ser capaz de obrigar Israel a cumprir um acordo de paz mesmo que o grupo entregasse todos os reféns retidos em Gaza. .Cessar-fogo já está em vigor, mas Netanyahu ameaça retomar a guerra se exigências não forem atendidas.Agora, depois de assinar na quarta-feira um acordo de cessar-fogo mediado por Trump, o Hamas depositou ainda mais fé na palavra do líder da Casa Branca, que já este ano propôs expulsar os palestinianos de Gaza e reconstruí-la como um resort turístico controlado pelos Estados Unidos.No âmbito desse acordo, que entrou esta sexta-feira, 10 de outubro, em vigor, o Hamas aceitou entregar reféns na sua posse sem que se tivesse ficado acordada a retirada total de Israel do enclave. Uma aposta arriscada baseada no envolvimento profundo que Trump tem no processo, mas feita numa altura em que o movimento islamita palestiniano entende que a retenção de reféns mina o apoio global à causa da Palestina. Os líderes do grupo estão cientes de que este tiro poderá sair pela culatra e que Israel retome a campanha militar assim que os reféns forem libertados, como aconteceu após um cessar-fogo em janeiro, no qual Trump e a sua equipa estiveram envolvidos. No entanto, e apesar de algumas das suas reivindicações ainda estejam por resolver, incluindo o início de uma caminhada que conduza à criação de um Estado palestiniano, o Hamas sentiu-se suficientemente tranquilizado pela presença de algumas das pessoas mais próximas de Trump nas conversações indiretas com Israel num centro de conferências no resort egípcio de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho..Cessar-fogo entra em vigor esta sexta-feira em Gaza e reféns devem ser libertados na segunda-feira. E depois?.A ânsia de Trump em que acordo ficasse fechado fez-se notar durante a maratona de negociações, tendo telefonado por três vezes para o centro de conferências onde as conversações decorriam, revelaram altos responsáveis do Hamas e da Casa Branca à Reuters. Nessas conversações, Trump fez-se representar pelo genro Jared Kushner e pelo enviado especial Steve Witkoff. Também estiveram presentes cinco representantes das autoridades palestinianas, incluindo três do Hamas e cinco outras fontes informadas sobre as negociações. A presença de Ibrahim Kalin, chefe dos serviços de informação da Turquia, membro da NATO, também foi importante para o Hamas, devido aos laços entre o grupo e Ancara, ainda de acordo com a ReutersOs representantes de Trump viram na raiva sentida pelo presidente dos Estados Unidos contra Netanyahu pelo ataque ao Qatar uma forma de fazer pressão sobre o primeiro-ministro israelita para que este aceitasse um acordo. Refira-se que Trump cultivou laços com os países do Golfo e considera o emir do Qatar um amigo..Cruz Vermelha anuncia que mais de 150 camiões com ajuda humanitária partiram para Gaza.A promessa pública do líder da Casa Branca de que um ataque israelita contra o Qatar se repetiria foi precisamente o que lhe deu credibilidade aos olhos do Hamas e de personalidades importantes no Médio Oriente.A partir da entrada em vigor do acordo, o Hamas tem 72 horas para entregar os 48 reféns que mantém em cativeiro, dos quais Israel estima que apenas cerca de 20 ainda estejam vivos.O cumprimento desse pacto poderá abrir caminho para o fim da guerra, não há certezas de que as fases posteriores previstas no plano de 20 pontos de Trump para Gaza se venham a concretizar. Esse plano foi anunciado a 29 de setembro, durante uma visita de Netanyahu à Casa Branca, tendo o Hamas dado o seu acordo de forma condicional quatro dias depois..No dia em que a paz parece possível: líderes mundiais reagem a acordo entre Israel e o Hamas.A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 67 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.Até este acordo, o movimento islamita palestiniano insistia que só libertaria os reféns em troca da retirada total de Israel e do fim definitivo do conflito. Por outro lado, Israel vincava que só cessaria a ofensiva após a devolução de todos os reféns e a aniquilação do Hamas..Cessar-fogo em Gaza: o que se sabe sobre o acordo?.Com a entrada em vigor do cessar-fogo, mais de 200 mil pessoas regressaram esta sexta-feira ao norte da Faixa de Gaza, indicou a Defesa Civil do enclave palestiniano."Cerca de 200 mil pessoas regressaram hoje [sexta-feira] ao norte", disse à agência de notícias France Presse (AFP) Mahmud Bassal, porta-voz da Defesa Civil da Faixa de Gaza, cujas instituições operam sob a autoridade do Hamas.Nas horas anteriores à entrada em vigor da suspensão dos combates, as forças israelitas mataram pelo menos 19 palestinianos no território, de acordo com dados dos hospitais que receberam os corpos das vítimas.A agência de notícias palestiniana Wafa relatou vários ataques aéreos contra diferentes locais do enclave palestiniano esta manhã e até à entrada em vigor da trégua..Trump anuncia cessar-fogo em Gaza. Hamas vai libertar todos os reféns e Israel retira as suas tropas.Fontes do enclave consultadas pela agência de notícias EFE indicaram que a maioria dos bombardeamentos na Faixa de Gaza, que está encerrada à imprensa internacional há dois anos, ocorreu antes das 12h00 (10h00 em Lisboa)."O acordo de cessar-fogo entrou em vigor às 12h00", anunciou o Exército israelita em comunicado.As mesmas fontes indicaram que as equipas de defesa civil recuperaram 99 corpos em várias zonas da Faixa de Gaza, depois de as tropas israelitas terem concluído, esta manhã, a primeira retirada prevista no acordo de cessar-fogo.Após a retirada das tropas para a chamada "linha amarela" — nome dado em homenagem à cor do mapa fornecido pela Casa Branca no momento do anúncio do acordo — milhares de habitantes do enclave começaram a deslocar-se para norte, em direção à Cidade de Gaza, ao longo da estrada costeira de Al-Rashid.Imagens divulgadas ao início do dia mostraram uma fila contínua de pessoas a dirigir-se para a parte norte do território, onde o Exército israelita alertou que várias áreas permaneciam "extremamente perigosas" para a população civil.