O Governo israelita tinha previsto ratificar ainda esta noite (9 de outubro) o acordo com o Hamas, que permitirá um cessar-fogo na Faixa de Gaza a partir desta sexta-feira (10 de outubro) e o início da contagem decrescente para a libertação dos últimos reféns israelitas em troca de quase dois mil presos palestinianos. Os prazos não são claros, havendo quem sugira que as libertações podem acontecer já no domingo (12 de outubro) - quando se espera que o presidente dos EUA, Donald Trump, chegue a Israel -, mas a data mais falada é segunda-feira (13 de outubro). O acordo sobre a primeira fase do plano de 20 pontos foi recebido com festejos na Praça dos Reféns, em Telavive, mas também na Faixa de Gaza. Mas há ainda muitos obstáculos à paz duradoura.O cessar-fogo no enclave palestiniano entrará esta sexta-feira em vigor, 24 horas depois de o Governo israelita ratificar o acordo com o Hamas - a reunião atrasou várias horas, mas o desfecho positivo era o esperado, apesar da oposição dos ministros da extrema-direita. Quando começar o cessar-fogo espera-se que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) já tenham recuado até à chamada “linha amarela” - uma referência a um mapa de cessar-fogo divulgado pela Casa Branca, mostrando várias fases de retirada -, passando de controlar mais de 80% da Faixa de Gaza a estar presente em apenas 53%. Começa então o prazo de 72 horas para o grupo terrorista libertar os reféns (pelo menos os 20 que ainda estarão vivos), em troca de 250 presos palestinianos a servir penas de prisão perpétua e outros 1700 detidos desde os ataques de 7 de outubro de 2023. Entre os libertados não estará, ao contrário do que o Hamas queria, Marwan Barghouti, que muitos veem como uma figura capaz de unir os palestinianos. O dirigente da Fatah, que organizou as Intifadas contra Israel, foi condenado a cinco penas perpétuas. Se tudo correr como o previsto, os reféns serão entregues à Cruz Vermelha sem o espectáculo das cerimónias de libertação durante o cessar-fogo de 19 de janeiro a 18 de março deste ano, que chocaram Israel e a comunidade internacional. Os corpos dos restantes 28 reféns, dados como mortos, podem ser entregues apenas mais tarde, com o Hamas a admitir que não sabe onde estão alguns deles. Tudo aponta para que os reféns que ainda estão vivos comecem a ser libertados na segunda-feira (13 de outubro), esperando-se que o próprio Trump possa estar na região para os receber. Horas antes de anunciar nas redes sociais, durante a madrugada, que havia um acordo, o presidente dos EUA tinha deixado em aberto a possibilidade de viajar para o Médio Oriente. A presidência israelita indicou que o espera no domingo, mas a data ainda não está decidida. .Trump anuncia cessar-fogo em Gaza. Hamas vai libertar todos os reféns e Israel retira as suas tropas.Numa reunião com os membros da Administração, Trump congratulou-se com este “avanço importante” e falou naquela que espera ser uma “paz duradoura” não só na Faixa de Gaza como em todo o Médio Oriente. Disse ainda que irá ao Egito para uma cerimónia oficial para a assinatura do acordo, não sendo clara a data. O mais importante, indicou, é que todos os reféns serão libertados, prevendo que isso aconteça segunda ou terça-feira. “Estamos a trazê-los de volta a casa”, afirmou, explicando que a Faixa de Gaza será “refeita” e que o ataque ao Irão foi “importante” para o fim do conflito.Ainda durante a madrugada, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, falou de um “sucesso diplomático e uma vitória moral” do Estado de Israel. A sua porta-voz, Shosh Bedrosian, alega que “todos os objetivos foram alcançados”, lembrando que “desde o primeiro dia que o primeiro-ministro estabeleceu três objetivos: o regresso de todos os nossos reféns, a derrota e o desmantelamento do Hamas e a garantia de que Gaza não representa mais uma ameaça para Israel.” Esta não é a primeira vez que há um acordo de cessar-fogo e de troca de reféns, havendo quem questione se vai durar. O chefe da diplomacia israelita, Gideon Sa’ar, garantiu à Fox News que Israel está comprometido com o plano de Trump, apresentado há menos de duas semanas. “Não temos qualquer intenção de retomar a guerra. Esperamos que todas as partes do plano sejam implementadas”, indicou. O Hamas terá pedido garantias aos EUA e ao Qatar para que Israel não retome os combates depois de libertados os reféns, que mantém há mais de dois anos.A comunidade internacional aplaudiu os desenvolvimentos, esperando que possam levar a uma paz permanente na região. “Exorto todos a aproveitarem esta oportunidade histórica para estabelecer um caminho político credível”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. “Um caminho para pôr fim à ocupação, reconhecer o direito à autodeterminação do povo palestiniano e alcançar uma solução de dois Estados”, referiu.Mas o cessar-fogo, a libertação dos reféns em troca pelos presos palestinianos e a entrada de mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza é apenas o início de um processo que se prevê possa ler longo. É apenas a primeira fase do acordo de 20 pontos apresentado por Trump. E outros pontos são mais difíceis de acertar, nomeadamente no que diz respeito ao futuro político do enclave ou ao futuro do Hamas. Em relação à questão política, o plano estabelece que a Faixa de Gaza seria governada por um comité apolítico palestiniano, sob a supervisão de um Comité da Paz, liderado pelo próprio Trump e com a participação do antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair. O Hamas defende contudo um Governo totalmente palestiniano, não sendo claro também qual será o papel da Autoridade Palestiniana (que não quer ficar de fora). Da mesma forma, existem obstáculos em relação ao desarmamento do grupo terrorista. No passado, o Hamas defendeu que só o faria quando estivesse garantido um Estado palestiniano, sendo que este não está previsto na proposta de 20 pontos de Trump. Esse plano prevê a criação de uma força de estabilização, que assumiria o controlo após a retirada total israelita, não sendo também claro se o desarmamento do Hamas acontece antes ou só depois de esta ser destacada no terreno. .No dia em que a paz parece possível: líderes mundiais reagem a acordo entre Israel e o Hamas