O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky
O presidente ucraniano, Volodymyr ZelenskySTRINGER / EPA

Europa e Ucrânia preparam proposta de 12 pontos para colocar fim à guerra nas atuais linhas de batalha

Proposta prevê negociações sobre a governação dos territórios ocupados, embora nem a Europa nem a Ucrânia reconheçam legalmente qualquer território ocupado como russo.
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Entretanto, a Bloomberg News avança que as nações europeias estão a trabalhar com a Ucrânia numa proposta de 12 pontos para pôr fim à guerra da Rússia nas atuais linhas de batalha.

Um conselho de paz presidido por Trump supervisionaria a implementação do plano proposto, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Os líderes europeus têm pressionado o presidente norte-americano a manter-se firme na exigência de um cessar-fogo imediato na Ucrânia, com as atuais linhas de batalha a servirem de base para quaisquer futuras negociações. Já o Kremlin há muito que exige que a Ucrânia aceite ceder mais território antes de qualquer cessar-fogo.

Segundo a proposta, a Ucrânia receberia garantias de segurança, fundos para reparar os danos da guerra e uma via rápida para a adesão à União Europeia.

Caso as partes acordem o cessar-fogo e se comprometam a travar os avanços territoriais, a proposta prevê o regresso de todas as crianças deportadas para a Ucrânia e a troca de prisioneiros.

Os dois países entrariam então em negociações sobre a governação dos territórios ocupados, embora nem a Europa nem a Ucrânia reconheçam legalmente qualquer território ocupado como russo.

Paralelamente, as sanções à Rússia seriam gradualmente levantadas, embora cerca de 300 mil milhões de dólares que se encontram congelados só seriam devolvidos quando o Kremlin concordar em contribuir para a reconstrução da Ucrânia no pós-guerra. Todas as restrições seriam restabelecidas se a Rússia voltasse a atacar a Ucrânia.

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Líderes europeus apoiam apelo de Trump para cessar-fogo na Ucrânia nas atuais linhas

Até agora, a Rússia rejeitou os apelos para pôr fim aos combates ao longo das linhas existentes, apesar de ter sofrido baixas massivas na guerra, iniciada com a invasão russa em fevereiro de 2022.

Os detalhes do plano estão a ser finalizados e ainda podem mudar, alertaram as mesmas fontes, que pediram para não serem identificadas.

Qualquer proposta também precisaria da aprovação de Washington e as autoridades europeias podem viajar para os Estados Unidos esta semana, indicaram ainda. Paralelamente, a NATO anunciou esta terça-feira à noite que o seu secretário-geral, Mark Rutte, estará esta quarta-feira em Washington e que se encontrará com Donald Trump.

A proposta ecoa os apelos feitos por Trump na semana passada para congelar imediatamente o conflito ao longo das linhas atuais antes de iniciar as negociações.

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O roteiro de Trump para a paz na Ucrânia: primeiro Zelensky na Casa Branca, depois Putin em Budapeste

No mesmo sentido, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, chefes de Estados aliados de Kiev e líderes das instituições europeias defenderam esta terça-feira que “a linha da frente deve ser o ponto de partida para negociações”.

“Apoiamos veementemente a posição do Presidente [norte-americano, Donald] Trump de que os combates devem cessar imediatamente e que a atual linha da frente deve ser o ponto de partida para as negociações. Continuamos comprometidos com o princípio de que as fronteiras internacionais não devem ser alteradas pela força”, salientaram os membros da chamada Coligação dos Dispostos, numa posição hoje divulgada.

“Estamos convictos de que a Ucrânia deve estar na posição mais forte possível - antes, durante e após qualquer cessar-fogo”, adiantaram na declaração conjunta os presidentes do Conselho Europeu, António Costa, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, bem como Volodymyr Zelensky.

Chefes de Estado ou de Governo da Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Polónia, Espanha, Dinamarca, Noruega e Finlândia também subscreveram a posição.

Desde a invasão russa, não tem havido qualquer avanço nas negociações de cessar-fogo.

Após o regresso à Casa Branca, no início deste ano, Donald Trump deu passos diplomáticos para tentar mediar um cessar-fogo imediato e procurar garantias de segurança para a Ucrânia.

Mais recentemente, o Presidente norte-americano propôs que as partes “parassem onde estão” no terreno e considerou que a Ucrânia poderia ter de fazer concessões territoriais, especialmente na região do Donbass – que Putin anexou em setembro de 2022.

A proposta provocou preocupação em Kiev e nos países europeus, que sublinharam que qualquer acordo tem de respeitar a soberania da Ucrânia e não pode recompensar a invasão pela força.

A Rússia rejeita algumas das ideias propostas (como a linha de contacto fixa) e mantém exigências sobre a rendição da Ucrânia em certas regiões.

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“O lugar de Putin é em Haia”. Europa contra cimeira com Trump em Budapeste

Cimeira entre Trump e Putin não deverá ocorrer num "futuro próximo"

A cimeira entre o presidente norte-americano Donald Trump e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, anunciada na passada quinta-feira para Budapeste, não deverá ocorrer num "futuro próximo", afirmou esta terça-feira, 21 de outubro, um responsável da Casa Branca.

"Não há planos para o Presidente Trump se encontrar com o Presidente Putin num futuro próximo", disse o funcionário, sob condição de anonimato, citado pela agência de notícias norte-americana Associated Press (AP).

Segundo o responsável, a decisão foi tomada na sequência de um telefonema, realizado na segunda-feira, entre o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, para debater os contornos da cimeira entre os líderes norte-americano e russo sobre o fim do conflito na Ucrânia.

A conversa entre Rubio e Lavrov ocorreu depois de Donald Trump ter dito que os dois chefes da diplomacia se reuniriam esta semana para organizar a cimeira.

Volodymyr Zelensky tinha relacionado esta terça-feira a recente recusa de Donald Trump em fornecer mísseis de longo alcance Tomahawk a Kiev com a atual postura da Rússia em mostrar-se pouco preocupada em estabelecer uma data para a cimeira de Budapeste entre Vladimir Putin e o presidente dos Estados Unidos para discutirem um caminho para a paz na Ucrânia. “Há apenas algumas semanas, Putin sentiu a verdadeira pressão e a ameaça dos Tomahawk e imediatamente demonstrou disposição para retornar à diplomacia. E assim que a pressão diminuiu um pouco, os russos começaram a tentar abandonar a diplomacia e adiar o diálogo”, afirmou ontem o presidente ucraniano no Telegram.

“A tática russa é matar pessoas e aterrorizar com frio. Na véspera do inverno, literalmente todos os dias os russos atacam as nossas infraestruturas, a nossa energia. Apenas a pressão sobre a Rússia pode corrigir e parar isso. Apenas o alcance suficiente da nossa defesa traz Putin de volta à realidade. É preciso acabar com esta guerra, e somente a pressão levará à paz”, prosseguiu Zelensky.

Antes do anúncio da Casa Branca sobre o seu adiamento, o Kremlin já havia afastado uma necessidade de urgência no futuro encontro entre Putin e Trump em Budapeste, dizendo que “nem o presidente Vladimir Putin nem o presidente Donald Trump anunciaram um prazo específico”, explicou o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov. “Tanto o lado americano como o russo afirmaram que isso poderia demorar”, prosseguiu, notando a necessidade de “preparações sérias”.

A Rússia considerou também ser “prematuro” avançar com uma data para o encontro entre os líderes da diplomacia dos dois países, Sergei Lavrov e Marco Rubio, e que alegadamente serviria para acertar a cimeira dos presidentes. Chegou a ser noticiado pela Reuters que os dois iam encontrar-se ainda esta semana, mas depois a CNN avançou que a data teria sido desmarcada pelos dois lados, factos negados por Moscovo. “Nem antes nem durante o telefonema de ontem a questão do encontro foi especificamente levantada”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Ryabkov, em referência à conversa de segunda-feira entre Lavrov e Rubio.

Esta visão de Moscovo não coincidia com a de Trump, que tinha falado inicialmente num prazo “de duas semanas”, “bastante rápido”. “Marco Rubio vai encontrar-se com o seu homólogo Lavrov, eles vão encontrar-se muito em breve. Vão combinar uma data e um local muito em breve. Se calhar já está agendada”.

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Trump anuncia encontro com Putin em Budapeste e diz que telefonema entre ambos foi "um grande progresso"
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