Depois de ter conseguido um cessar-fogo em Gaza, Donald Trump afirmou que agora era tempo de se concentrar em pôr um fim à guerra na Ucrânia, tendo vindo a mostrar-se nos últimos dias preparado para pressionar Vladimir Putin a parar com os combates e sentar-se à mesa das negociações, insinuando mesmo a possibilidade de fornecer mísseis de longo alcance Tomahawk a Kiev. Na quarta-feira, 15 de outubro, o secretário da Defesa norte-americano, Pete Hegseth, foi mais longe e avisou Moscovo que os Estados Unidos e os aliados da NATO “imporão custos à Rússia pela sua agressão contínua” se a guerra na Ucrânia não chegar ao fim. .Zelensky diz que a ameaça com mísseis Tomahawk pressionou Putin a retomar diálogo.Mas esta quinta-feira (16), na véspera de receber na Casa Branca Volodymyr Zelensky, o presidente dos Estados Unidos informou que estava a falar ao telefone com o seu homólogo russo, uma conversa que apesar de tudo não surpreende, pois, no domingo, durante a sua viagem para Israel, Donald Trump já havia dito que planeava precisamente discutir o fornecimento dos Tomahawk com Vladimir Putin como forma de o pressionar para acabar com a guerra da Rússia na Ucrânia. Uma possibilidade que o Kremlin já admitiu ser preocupante. Ao final de duas horas de uma conversa “muito produtiva”, Trump anunciou que vai encontrar-se com Putin na capital da Hungria, Budapeste, dentro de duas semanas, “para ver se conseguimos pôr fim a esta guerra inglória, entre a Rússia e a Ucrânia”. E acrescentou que “também passámos muito tempo a falar sobre o comércio entre a Rússia e os Estados Unidos quando a guerra com a Ucrânia terminar”.Este futuro encontro em Budapeste sucede à cimeira entre os dois no Alasca em agosto, o que não resultou em qualquer avanço diplomático. “Acredito que houve um grande progresso com a conversa telefónica de hoje”, escreveu Trump no final do telefonema.De referir que Budapeste é um terreno favorável para os dois líderes, que mantêm uma relação próxima com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. No caso de Putin, sobre quem pende um mandado de detenção do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra na Ucrânia, esta viagem não será um problema, já que a Hungria notificou as Nações Unidas em junho de que iria abandonar o TPI - uma decisão anunciada por Orbán em abril quando recebeu em Budapeste o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, também ele alvo de um mandado de detenção do mesmo tribunal. “O encontro planeado entre os presidentes americano e russo é uma grande notícia para os povos amantes da paz no mundo. Estamos prontos!”, disse Orbán no X. Esta quinta-feira ainda, e também no X, o primeiro-ministro húngaro já havia sugerido que “a Europa precisa de mudar de postura. Em vez de arrogância e de atiçar as chamas de uma guerra sem fim, precisamos de negociações com a Rússia. Só o diálogo pode trazer a paz ao nosso continente”. Antes deste novo encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, irá encabeçar uma delegação dos EUA que irá encontrar-se já na próxima semana com conselheiros de alto nível russos, não sendo ainda conhecido o local da reunião.De acordo com o conselheiro do Kremlin, Yuri Ushakov, Rubio e o seu homólogo russo, Sergei Lavrov, falarão inicialmente por telefone para acertar os pormenores do encontro entre Trump e Putin, acrescentando que o momento da cimeira dependerá do progresso dos trabalhos preparatórios.Ushakov sublinhou ainda que o presidente russo repetiu ao homólogo dos EUA a sua posição sobre o estado da guerra na Ucrânia, afirmando que as tropas russas possuem a iniciativa estratégica em toda a linha da frente.Este conselheiro do Kremlin referiu também que os dois líderes discutiram o possível fornecimento de mísseis Tomahawk dos EUA à Ucrânia, como já foi sugerido por Trump e tem sido pedido por Zelensky.“Vladimir Putin reiterou a sua tese de que os mísseis Tomahawk não vão alterar a situação no campo de batalha, mas causarão danos significativos nas relações entre os nossos países, sem mencionar as perspetivas de uma resolução pacífica”, declarou Ushakov aos jornalistas, citado pela Reuters, acrescentando que Trump garantiu a Putin que iria ter em conta o que o presidente russo disse no telefonema durante o seu encontro de hoje com Zelensky.Pressão para mais apoio militar É neste contexto que Volodymyr Zelensky será recebido esta sexta-feira, 17 de outubro, na Casa Branca por Donald Trump, que garantiu que irá informar o presidente ucraniano sobre a sua conversa com Vladimir Putin, “e muito mais”.Zelensky viaja até Washington com o objetivo de pressionar os EUA para o fornecimento de mais apoio militar, numa fase do conflito em que Kiev tem atacado refinarias de petróleo russas com drones e os ataques de Moscovo têm provocado grandes cortes de energia em toda a Ucrânia. E dias depois de um relatório ter dado conta que a ajuda militar à Ucrânia sofreu um declínio acentuado em julho e agosto - desceu 43% face ao primeiro semestre do ano -, apesar da introdução do programa da NATO que permite aos aliados comprarem armas aos EUA e depois as entregar a Kiev.“Já preparámos a nossa parte do trabalho de casa para o encontro com o presidente Trump - tanto a parte militar como a económica. Todos os detalhes estão prontos. A agenda da nossa reunião com o presidente dos Estados Unidos é muito substancial, e agradeço a todos os que estão a ajudar”, escreveu o presidente ucraniano nas redes sociais. “Isto pode realmente aproximar o fim da guerra - são os Estados Unidos que podem exercer este tipo de influência global, e estamos a fazer tudo para garantir que outros em todo o mundo estão do nosso lado neste esforço.” Donald Trump, por seu turno, explicou que o encontro desta sexta-feira servirá para os dois líderes discutirem o desejo da Ucrânia de “passar para a ofensiva” na guerra contra a Rússia. “Eles querem passar à ofensiva”, afirmou Trump na quarta-feira. “Vou tomar uma decisão sobre isso, mas eles querem passar à ofensiva. E nós teremos de tomar uma decisão.” O presidente norte-americano referiu ainda que os EUA também estão a “analisar outras opções” para além dos Tomahawk, sem adiantar mais pormenores. .Aliados respondem a pressão dos EUA para comprarem mais armas para a Ucrânia.Ajuda militar à Ucrânia cai a pique apesar do novo plano da NATO