O Kremlin explicou esta segunda-feira, 20 de outubro, a escolha de Budapeste para receber o próximo encontro entre Vladimir Putin e Donald Trump sobre o futuro da Ucrânia, lembrando que o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, mantém boas relações com os dois líderes. “Orbán tem relações bastante calorosas com o presidente Trump e relações muito construtivas com o presidente Putin. E isso, claro, contribuiu muito para o entendimento que foi alcançado durante o último telefonema”, referiu o porta-voz da presidência russa.A escolha da capital da Hungria, um país da União Europeia e da NATO, foi vista com agrado por Orbán, mas o mesmo não acontece com outros políticos europeus, como a chefe da diplomacia do bloco dos 27. “Em relação a Budapeste, não, não é nada agradável ver que uma pessoa sujeita a um mandado de detenção pelo TPI está a vir para um país europeu”, disse Kaja Kallas, referindo-se ao facto de pender sobre o presidente russo um mandado de detenção do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra na Ucrânia. Mas, como o DN já havia escrito, este problema não se coloca na Hungria, que notificou a ONU da saída deste tribunal em junho.“A questão é se há algum resultado”, prosseguiu Kallas, referindo, no entanto, que os esforços de Trump para trazer a paz eram bem-vindos, mas que também era importante que Volodymyr Zelensky se encontrasse com Putin. “Os EUA têm muita força para pressionar a Rússia a vir à mesa das negociações. Se utilizarem isto, é claro que será bom se a Rússia parar esta guerra”.A líder da diplomacia europeia abordou ainda os relatos que dão conta que Trump pressionou Zelensky a ceder território à Rússia, notando que “colocar a pressão sobre a Ucrânia não é a abordagem correta”. Esta segunda-feira, Trump admitiu que Kiev “ainda pode ganhar terreno. Mas não acho que vá acontecer.”Para o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Kestutis Budrys, “o único lugar para Putin na Europa é em Haia, em frente ao tribunal, e não em nenhuma das nossas capitais”, enquanto que a chefe da diplomacia da Finlândia, Elina Valtonen, também manifestou preocupação com a possível visita de Putin a um país da UE. “Vamos ver onde a reunião será realizada e em que formato, mas é evidente que, dentro da UE, um criminoso de guerra como Putin não deve ser bem-vindo”.Já na opinião do ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noël Barrot, a viagem planeada por Putin só faria sentido se levasse a um cessar-fogo imediato e incondicional. Mais pragmático, o líder da diplomacia neerlandesa, David van Weel, disse que “o mais importante é termos uma mesa de negociações”.A escolha de Budapeste também não agrada ao presidente ucraniano, que questionou se Orbán será um anfitrião neutral. “Falamos de paz na Ucrânia, não de eleições na Hungria. Não acredito que um primeiro-ministro que bloqueia sempre a Ucrânia possa fazer algo de positivo pelos ucranianos ou, pelo menos, equilibrado”. Mesmo assim, Zelensky mostrou-se disponível para participar na reunião da capital húngara, caso seja convidado. O presidente ucraniano descreveu ainda o seu encontro de sexta-feira com Donald Trump na Casa Branca como um sucesso que resultou em progressos na aquisição de novos sistemas de defesa aérea - nomeadamente a preparação de um contrato para comprar 25 sistemas Patriot, indo assim contra as notícias dos últimos dias que dão conta de que tinha sido repreendido com obscenidades pelo presidente dos EUA e que este o tinha pressionado a aceitar exigências russas, como a cedência de território. “Após muitas rondas de discussão de mais de duas horas com [Trump] e a sua equipa, a sua mensagem, na minha opinião, é positiva: que permaneçamos onde estamos na linha da frente”, afirmou Zelensky.O apoio à Ucrânia vai ser discutido esta quinta-feira, 23 de outubro, pelos 27 no Conselho Europeu e no dia seguinte pela Coligação dos Dispostos, como já havia sido adiantado pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. Esta segunda-feira, o presidente francês anunciou que esta última terá lugar em Londres e contará com a presença de Volodymyr Zelensky. Emmanuel Macron sublinhou que vão continuar a apoiar a Ucrânia, referindo encarar o encontro entre Trump e Putin como uma reunião para os dois líderes tratarem de questões “bilaterais”. Pois, caso esteja em cima da mesa o futuro da Ucrânia, “os ucranianos deveriam lá estar”. Paz segundo a visão de TrumpOs líderes da diplomacia de Rússia e Estados Unidos, Sergei Lavrov e Marco Rubio, tiveram esta segunda-feira uma conversa “construtiva” sobre os preparativos da cimeira de Budapeste, tendo abordado “possíveis medidas concretas para implementar os acordos alcançados” na quinta-feira entre Putin e Trump, conforme explicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo. O Departamento de Estado norte-americano, por seu turno, sublinhou “a importância dos próximos encontros como uma oportunidade para que Moscovo e Washington colaborem para fazer avançar uma solução duradoura na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, de acordo com a visão de Trump”. Horas antes, o Kremlin havia expressado o desejo de que o encontro de Budapeste entre Vladimir Putin e Donald Trump sirva para “fazer avançar um acordo pacífico” sobre a Ucrânia”, sublinhando a reunião servirá também “para discutir as relações bilaterais”. O porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, referiu ainda que, para já, “não há detalhes” sobre os moldes da cimeira ou se Volodymyr Zelensky estará presente, numa referência a esta possibilidade avançada pelo próprio líder ucraniano. .Zelensky apela à cooperação europeia após reunião aquém do esperado com Trump