A suspensão por 10 dias do agente da PSP Manuel Morais por ter chamado "aberração" a André Ventura, e ausência de medidas disciplinares contra os oito polícias condenados no caso da Cova da Moura, vão levar ao parlamento a inspetora-geral da Administração Interna..Esta terça-feira (9 de fevereiro), foi aprovado na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias um requerimento apresentado pelo Grupo Parlamentar do PCP para ouvir a juíza desembargadora Anabela Cabral Ferreira sobre critérios para o exercício da ação disciplinar no âmbito da PSP..Votaram a favor desta audição, além do PCP, o PSD, o BE, o PAN e a deputada não inscrita Joacine Katar Moreira. O PS absteve-se, o Chega e o CDS estavam ausentes..Polícias exigem cabeça de dirigente sindical que denunciou racismo."Recentemente foi tornado público que o agente da PSP Manuel Morais foi punido com uma sanção disciplinar de dez dias de suspensão por alegadamente ter violado o dever de aprumo e de correção através de uma mensagem publicada nas redes sociais em que se referia a um Deputado da Assembleia da República, pretendendo transmitir uma mensagem de conteúdo antirracista", registam os comunistas..Entretanto, acrescenta o deputado António Filipe, que subscreve o requerimento, "é também do conhecimento público que não se encontra em curso qualquer procedimento disciplinar relativamente a agentes condenados em processo-crime e com condenação confirmada pela Relação de Lisboa que, também através das redes sociais, proferiram insultos contra o sistema judicial português"..Citaçãocitacao "O conhecimento destes factos, por ação e por omissão, confronta-nos com a perceção da existência de dois pesos e duas medidas quanto ao exercício da ação disciplinar no âmbito da PSP".Salvaguardando que não está "em causa a avaliação de responsabilidades em casos concretos, que terá a sua sede própria, o grupo parlamentar do PCP assinala que "o conhecimento destes factos, por ação e por omissão, confronta-nos com a perceção da existência de dois pesos e duas medidas quanto ao exercício da ação disciplinar no âmbito da PSP, envolvendo ademais uma questão de enorme sensibilidade social como o racismo e a atitude que deve nortear a ação das forças de segurança quanto a expressões desse fenómeno"..O PCP quer por isso "esclarecimentos" da inspetora-geral, que dirige o órgão de fiscalização da ação pessoal e tem também competências disciplinares sobre as polícias sob tutela do ministério da Administração Interna..Conforme o DN já noticiou, o comandante da Unidade Especial de Polícia (UEP) da PSP, superintendente-chefe Paulo Lucas, castigou com 10 dias de suspensão Manuel Morais (a cumprir funções de agente principal do Corpo de Intervenção), que soube da punição no final de janeiro e já recorreu da mesma para o diretor nacional da PSP, estando a aguardar o veredicto final.."Decapitem estes racistas nauseabundos que não merecem a água que bebem", escreveu no facebook Manuel Morais. Era junho de 2020, com o movimento "Black Lives Matter" em crescendo por todo o mundo, na sequência do assassinato por polícias de George Floyd nos EUA..Várias estátuas de figuras históricas, de alguma forma ligadas à colonização, foram vandalizadas. Em Portugal foi a estátua do Padre António Vieira a aparecer com a palavra "descoloniza" pintada..IGAI avalia reabertura de processos disciplinares a agentes condenados da PSP de Alfragide.Na onda do momento de indignação este polícia, conhecido pelo seu ativismo cívico em defesa dos Direitos Humanos - foi o primeiro polícia a alertar publicamente para a existência de racismo nas forças de segurança e é fundador da movimento 100 Racismo e da Associação 100 Violência, apelou a que, em vez de se destruírem estátuas, se combatesse o racismo e racistas, dando como exemplo "aberrações" como André Ventura..Quanto aos oito polícias da esquadra da PSP de Alfragide condenados, em 2019, pelos crimes de sequestro, agressões qualificadas e injúrias contra seis jovens da Cova da Moura, na Amadora, conforme o DN também já noticiou, a PSP tem recusado dizer que medidas vai tomar em relação a estes agentes, cuja sentença foi confirmada pelo Tribunal de Relação de Lisboa (TRL) a 25 de novembro passado..Um deles, condenado pelos crimes de ofensa à integridade física qualificada e por um crime de falsificação de documento agravado, na mesma semana em que o TRL confirmou a sentença, publicou no seu Facebook, acessível ao público, uma mensagem (apagada depois de o DN ter questionado a direção da PSP) em que classifica de "madeira podre" o sistema judicial português e chama à comunidade da Cova da Moura, a que estão ligados os seis jovens que o tribunal deu como provado terem sido vítimas de brutalidade policial, "vagabundos, que nada fazem além de vender droga e brincar com armas" e "bandidos com cadastro"..PSP condenado chama "bandidos" e traficantes às vítimas.Seis dos oito polícias condenados pelo Tribunal de Sintra em maio de 2019 no Tribunal de Sintra tinham visto o respetivo processo disciplinar arquivado pela Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) ainda antes do julgamento. Dois foram punidos, mas aguardam decisão de recurso. Todos estão em funções em esquadras da PSP..Em janeiro último, a magistrada Anabela Cabral Ferreira revelou ao DN que iria avaliar se há novos factos nos acórdãos judiciais que impliquem a reabertura dos processos disciplinares: "Vai ser necessário examinar caso a caso. Se houver factos completamente novos os processos podem ser reabertos.", declarou.."Fomos torturados numa esquadra por agentes do Estado. Não queremos que mais ninguém seja".Já este mês, os seis jovens entregaram uma queixa à Provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral contra a inspetora-geral da Administração Interna e o diretor nacional da PSP, por não agirem disciplinarmente contra os os oito polícias condenados, que continuam em funções..Citaçãocitacao"Nós fomos torturados numa esquadra, por agentes do Estado. Os tribunais deram-nos razão. Não queremos que mais ninguém seja"."Nós fomos torturados numa esquadra, por agentes do Estado. Os tribunais deram-nos razão. Não queremos que mais ninguém seja", assinalam na denúncia.."Dirigimo-nos a V. Exa. (Provedora de Justiça)., por entender que é o estado de Direito que está em causa: 6 anos depois, 33 sessões de audiência e julgamento, uma decisão de primeira instância confirmada pelo Tribunal da Relação e nem a IGAI nem a Direção Nacional da PSP demonstram o respeito devido pelas decisões judiciais - em quem se poderá confiar? Que valor têm, então, os órgãos de soberania? O direito fundamental à justiça e aos tribunais? O poder judicial?", questionam os jovens na referida queixa..Os seis jovens apelam à Provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral, que "desenvolva as ações que entenda por convenientes, nomeadamente através da emissão de recomendações às Sra. Inspetora-Geral da Administração Interna e ao Sr. Diretor Nacional da PSP, nomeadamente para que não existam nem se prolonguem as necessárias tomadas de medidas e ações que ferem a Constituição, a democracia e, neste caso, a nossa sobrevivência enquanto indivíduos e comunidades".