"País não perceberá Natal fechado depois do congresso do PCP"
Na quinta-feira, Presidente da República, Governo, partidos e parceiros sociais voltam a cruzar-se no Infarmed para uma avaliação da situação da pandemia em Portugal. Marcelo Rebelo de Sousa já avisou o Governo de que quer as medidas para o Natal e Ano Novo definidas nesta semana, a tempo de serem integradas num novo período de estado de emergência a partir de 8 de dezembro. Os partidos da oposição vão ao encontro das preocupações do Presidente, com críticas ao executivo.
O PSD, que foi o único partido a votar ao lado do PS, mais a deputada não inscrita Cristina Rodrigues (ex-PAN), a renovação do estado de emergência, espera pela reunião de quinta-feira para ajuizar das medidas que serão necessárias para conter a pandemia nas próximas semanas. O DN sabe que Rui Rio se mantém favorável a que este período seja estendido, mas as "restrições" que venham a ser impostas "têm de fazer sentido", como seja a de permitir a reunião das famílias, ainda que obedeça a algumas regras. E tal como Marcelo, Rio entende que o próximo Conselho de Ministros deverá já fixar o que se poderá e não poderá fazer na época das Festas.
O CDS também acompanha o apelo do Presidente para a definição rápida das regras do Natal e Ano Novo "É preciso serem conhecidas para que as pessoas e as empresas se possam organizar", afirma ao DN Miguel Barbosa, vice-presidente do CDS. O dirigente centrista recorda que o seu partido na última aprovação do segundo período do estado de emergência nesta segunda vaga, em que se absteve, frisou que não passará um novo "cheque em branco" ao Governo.
"A necessidade do estado de emergência não desapareceu, mas é preciso que o Governo abandone este estado de desnorte ao comunicar as medidas e de forma errónea e de eficácia duvidosa", afirma. Miguel Barbosa volta ao polémico congresso do PCP num paralelo com o que espera de medidas para o Natal. "O país terá dificuldade em perceber que as famílias tenham de ficar fechadas em casa quando no fim de semana passado se realizou o congresso do PCP em Loures."
Citaçãocitacao"A necessidade do estado de emergência não desapareceu, mas é preciso que o Governo abandone este estado de desnorte ao comunicar as medidas e de forma errónea e de eficácia duvidosa."
O CDS espera na quinta-feira "informação fina" dos especialistas em saúde pública, na reunião do Infarmed, para compreender as medidas que venham a ser determinadas pelo Governo, mas insiste que é preciso sobretudo investir no rastreio dos contágios por covid-19 e agir em saúde pública para isolar profilaticamente os infetados, além de apoio urgente nos lares e uma via verde para a saúde dos doentes não covid que têm ficado para trás.
Miguel Barbosa deixa também um aviso, com a ressalva de que a economia "é muito importante". "O Governo não pode iludir os portugueses e nas duas semanas antes do Natal aliviar as restrições para o dinheiro circular e nas duas seguintes impor restrições."
O deputado e líder do Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, mostra-se mais reticente quanto à tomada de decisões muito antes do Natal e Ano Novo, embora admita que o planeamento é desejável, porque poderá levar a medidas desnecessárias e demasiado restritivas, que não têm suporte dos dados científicos. E dá o exemplo dos empresários da restauração que estão à porta da Assembleia da República em greve de fome: "Estive a falar com os grevistas e é alucinante a dor e o sofrimento do que estão pagar por medidas que não estão suportadas por dados." Recorda que na última reunião do Infarmed com os agentes políticos foi dito que os restaurantes não eram espaços de forte contaminação.
"Este não deve ser um Natal que sofre do mesmo excesso de zelo, sem bases científicas. Seria particularmente trágico e dramático se as pessoas não pudessem passar em conjunto dentro das regras que têm de estar definidas com bom senso, porque para alguns pode ser o último Natal em que estão juntos", afirma João Cotrim Figueiredo. O desejo é que as próximas medidas sejam pensadas "com humanidade, mas com a humildade e respeito pela economia".
Citaçãocitacao"Seria particularmente trágico e dramático se as pessoas não pudessem passar em conjunto dentro das regras que têm de estar definidas com bom senso, porque para alguns pode ser o último Natal em que estão juntos."
O PCP, que votou contra a anterior renovação do estado de emergência, mantém: "É preciso aliviar a pressão que está sobre o Serviço Nacional de Saúde, evitar a sua rutura e criar condições para que os restantes cuidados de saúde sejam prestados. As medidas restritivas que têm sido impostas a coberto do estado de emergência não permitem a necessária travagem da epidemia e estão simultaneamente a atirar o país para uma situação económica e social insustentável."
Citaçãocitacao"As medidas restritivas que têm sido impostas a coberto do estado de emergência não permitem a necessária travagem da epidemia e estão simultaneamente a atirar o país para uma situação económica e social insustentável."
Em declaração enviada ao DN, o partido liderado por Jerónimo de Sousa frisa que "o que o povo e o país precisam não é de mais estados de emergência, é de medidas de proteção sanitária e de pedagogia da proteção, mas também, e sobretudo, de medidas de apoio para que a vida nacional possa ser desenvolvida em condições de segurança sanitária em vez de ser proibida ou suspensa".
Os bloquistas mostram-se mais cautelosos, tanto mais que se abstiveram na renovação do estado de emergência. "Acompanhamos a preocupação do Presidente da República, considerando que a comunicação das medidas deve ser clara e atempada", afirma uma fonte do BE, que diz aguardar o anúncio das medidas por parte do Governo para que seja possível uma avaliação.