Testemunhas dizem que Odair Moniz nada tinha na mão quando foi morto por polícia
Gerardo Santos

Testemunhas dizem que Odair Moniz nada tinha na mão quando foi morto por polícia

Agente da PSP garantiu que quando disparou acreditou que o cidadão cabo-verdiano o estava a ameaçar com uma faca, uma vez que vira uma lâmina na zona da cintura da vítima.
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Duas testemunhas do momento em que, em 2024, um polícia matou a tiro Odair Moniz na Cova da Moura (Amadora) asseguraram hoje no julgamento do processo que a vítima não tinha nada na mão quando foi atingida.

Questionados pelo Ministério Público se Odair Moniz tinha "algum instrumento" na mão quando o agente da PSP Bruno Pinto disparou por duas vezes, Fábio e Evandro Duarte, tio e sobrinho de 31 e 21 anos, responderam que não.

Na primeira sessão do julgamento, em 22 de outubro, Bruno Pinto, de 28 anos, garantiu que quando disparou acreditou que o cidadão cabo-verdiano o estava a ameaçar com uma faca, uma vez que vira uma lâmina na zona da cintura da vítima.

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Esta quarta-feira, as duas testemunhas afirmaram que os disparos ocorreram na sequência de uma disputa entre o polícia e Odair Moniz, que queria evitar ser algemado e detido pela PSP.

"Acabou por haver uma disputa, ele [Odair Moniz] acabou por tentar afastá-lo [ao polícia], e ele acaba por tentar pôr o Odair no chão e acaba por efetuar os disparos", relatou Evandro Duarte, precisando que os tiros foram "para baixo".

Fábio Duarte descreveu que no momento em que Bruno Pinto estava a tentar imobilizar o cidadão cabo-verdiano este "estava um bocadinho mais abaixado", tendo o polícia tirado a pistola e disparado, com a arma colada ao próprio corpo.

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No segundo disparo, precisou, o agente da PSP "já estava com os braços estendidos".

A sessão ficou ainda marcada pelas dúvidas expressas pelo tribunal quanto à visão que a testemunha mais nova tinha dos acontecimentos, com um dos juízes a recorrer à aplicação Google Maps para sustentar que o jovem se encontrava mais longe do lugar e com menor visibilidade para o sucedido do que alegou.

Odair Moniz, de 43 anos e residente no Bairro do Zambujal (Amadora), foi morto a tiro pelo agente da PSP Bruno Pinto em 21 de outubro de 2024, depois de ter tentado fugir à PSP e resistido a ser detido na sequência de uma infração rodoviária.

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Segundo a acusação do Ministério Público, datada de 29 de janeiro de 2025, o cidadão cabo-verdiano foi atingido por dois projéteis - um primeiro na zona do tórax, disparado a entre 20 e 50 centímetros de distância; e um segundo na zona da virilha, disparado a entre 75 centímetros e um metro de distância.

O despacho não refere qualquer ameaça com uma arma branca por parte de Odair Moniz.

Bruno Pinto, em liberdade e suspenso de funções há cerca de um ano, está acusado de homicídio e incorre numa pena de oito a 16 anos de prisão.

O julgamento prossegue a 10 de novembro no Tribunal Central Criminal de Sintra, com a audição de mais testemunhas.

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