O polícia acusado de matar Odair Moniz disse esta quarta-feira (22 de outubro), no julgamento, que acreditou que a vítima estava a ameaçá-lo com uma faca quando a atingiu a tiro em 21 de outubro de 2024, na Cova da Moura, Amadora."Se eu não fosse questionado tantas vezes sobre a faca, para mim não haveria qualquer dúvida", afirmou Bruno Pinto, de 28 anos, no Tribunal Central Criminal de Sintra.Embora a acusação do Ministério Público não refira qualquer ameaça com uma faca por parte de Odair Moniz, o arguido insistiu que viu uma lâmina na zona da cintura do cidadão cabo-verdiano, de 43 anos e residente no Bairro do Zambujal, também no concelho da Amadora.Segundo o agente da PSP, o incidente aconteceu depois de, na sequência de uma perseguição policial para o interior da Cova da Moura que culminou no despiste do carro que Odair Moniz conduzia, este ter agredido com murros e pontapés e ameaçado de morte Bruno Pinto e um outro polícia.Os dois agentes teriam igualmente tentado rasteirar o cidadão cabo-verdiano e atingi-lo à bastonada, para conseguir detê-lo e impedir que este se aproximasse de um grupo de pessoas percecionado pelo arguido como uma ameaça.Nesta altura, já tinham sido igualmente disparados dois tiros para o ar que, no seu entender, não tinham surtido efeito."Quando vejo uma lâmina, quando vejo a faca na mão, eu aí recuo de imediato, e disparo para uma zona inferior [do corpo], abaixo da cintura", contou Bruno Pinto, cujos dois disparos atingiram as zonas do tórax (disparado a entre 20 e 50 centímetros de distância) e da virilha da vítima (disparado a entre 75 centímetros e um metro de distância).Bruno Pinto, polícia desde outubro de 2022, atribuiu a discrepância entre ter disparado para baixo e o facto de um dos projéteis ter atingido a zona do tórax ao declive da rua, lembrando que na formação os alvos são estáticos e tal é raro no terreno.Num registo tranquilo e ocasionalmente emocionado, relatou que o segundo disparo foi feito por ter acreditado que falhara o alvo no primeiro e não cessara a ameaça.Reiterando que a 21 de outubro de 2024 pensou ter disparado das duas vezes da "cintura para baixo", o arguido alegou que, na altura, optou pela sua vida e do colega.Questionado pelo procurador do Ministério Público se considera proporcional que uma infração rodoviária tenha culminado no uso da arma de serviço, Bruno Pinto insistiu que se tratou da resposta a uma ameaça."[A faca] seria para usar contra mim ou contra o meu colega. Foi por isso que efetuei os disparos, não foi por uma infração rodoviária, não foi por um acidente", retorquiu, assegurando que não desejou a morte de Odair Moniz.Pedido de desculpas. O agente da PSP começou por pedir desculpa, no início do julgamento, aos familiares e amigos do cidadão cabo-verdiano, morto a tiro em 21 de outubro de 2024 na Cova da Moura, Amadora."Gostaria de pedir desculpa à família e aos amigos, acredito que não seja fácil para ninguém", afirmou comovido Bruno Pinto, de 28 anos, no Tribunal Central Criminal de Sintra.O polícia acrescentou, no entanto, não concordar com os factos descritos na acusação do Ministério Público e pretender, ao longo do dia, apresentar a sua versão dos acontecimentos.A acusação descreve que Odair Moniz, de 43 anos e residente no Bairro do Zambujal (Amadora), foi atingindo com dois projéteis - um primeiro na zona do tórax, disparado a entre 20 e 50 centímetros de distância; e um segundo na zona da virilha, disparado a entre 75 centímetros e um metro de distância.Segundo o despacho, datado de 29 de janeiro de 2025, o incidente aconteceu depois de o cidadão ter tentado fugir à PSP e resistido à detenção, não se tendo verificado qualquer ameaça com recurso a arma branca.Bruno Pinto incorre numa pena de oito a 16 anos de prisão..Odair Moniz. Polícia que matou vai “explicar tudo, passo a passo”.Morte de Odair Moniz: uma faca talvez plantada não se sabe por quem e um auto de notícia a várias mãos