Sociedade
22 janeiro 2022 às 07h00

Ómicron destrói recordes com negacionismo à espreita

Na semana em que Portugal chegou aos dois milhões de casos de covid-19, os negacionistas mostraram o seu rosto político na televisão e, para não variar, no seu território preferido: as redes sociais.

O frente a frente Rui Rio e Inês Sousa Real, sábado, na RTP, encerrou o ciclo de debates a dois entre os líderes de partidos parlamentares. O formato escolhido (apenas 25 minutos) mereceu algumas críticas pois tendia a favorecer o candidato capaz de produzir um bom sound bite, que depois continuaria a ter eco na comunicação social até ser substituído por outra frase qualquer que ficasse no ouvido. A verdade é que tiveram mais audiência: oito dos frente a frente tiveram um resultado superior ao do debate mais visto em 2019. Sem surpresa, o mais visto em 2022 foi entre os pesos pesados António Costa e Rui Rio (média 3,2 milhões de telespetadores), que passou em simultâneo na RTP, SIC e TVI e foi o único em que houve realmente tempo para se discutir ideias: 75 minutos. Este aparente maior interesse dos portugueses pelo debate político é um bom sinal para a democracia? Sem dúvida. No entanto, importante mesmo é ser confirmado através do voto, baixando a abstenção. Isso sim seria uma vitória.

A confirmação da ordem para deportar Novak Djokovic da Austrália pôs fim a uma novela em que ninguém fez boa figura, pois as hesitações da federação de ténis daquele país e da justiça em nada ajudaram a controlar os danos. Mas a maior mancha cai sobre a ação o tenista, um dos melhores de sempre e, nos últimos meses, também um mediático rosto antivacinação, estimulando teorias negacionistas de quem não quer ver o óbvio - a vacina salva vidas. Todo este processo permitiu saber, por exemplo, que o sérvio decidiu ser entrevistado e fazer uma sessão fotográfica para o L'Équipe sabendo que estava infetado e que prestou informações falsas no visto para entrar na Austrália. Djokovic até reconheceu estes erros, mas o caso marca, pela negativa, a brilhante carreira nos courts. No final, vingou a posição do governo australiano e que França (casa de Roland Garros): as regras no combate à pandemia têm de ser iguais para todos. Tenham ou não 20 títulos de Grand Slam no palmarés.

Pela segunda vez, Lewandowski recebeu o troféu The Best, que premeia o melhor jogador do Mundo para a FIFA. O atacante polaco do Bayern, que na época passada bateu o recorde de golos na Liga alemã (41) e ganhou a Bota de Ouro (melhor marcador da Europa), entrou, aos 33 anos, num restrito lote de seis jogadores que conseguiram por, pelo menos, duas vezes esta distinção da FIFA, juntando-se a Messi, Cristiano Ronaldo, Ronaldo Nazário, Zidane e Ronaldinho. A gala também ficou marcada por um troféu especial e por um anúncio que é uma boa notícia para quem gosta de futebol. Ronaldo recebeu um prémio destinado ao melhor marcador de sempre por Seleções e revelou que espera jogar "mais quatro ou cinco anos". Venham eles! Os adeptos agradecem.

O debate que juntou os representantes dos partidos sem assento parlamentar teve de tudo um pouco - um apagão, frases e gestos que davam memes, um moderador à beira de um ataque de nervos a tentar desmontar absurdos que iam sendo ditos em direto, etc, etc. Houve também quem tentasse apresentar e discutir ideias novas para o país, mas com 11 candidatos em estúdio à procura de marcar a sua posição isso foi quase impossível. No final, como notou no DN o jornalista João Pedro Henriques, o debate passou à história como aquele em que os negacionistas da covid-19 mostraram o seu rosto político, através de Bruno Fialho (ADN) e José Pinto Coelho (Ergue-te). No mesmo dia, também no DN, a jornalista Ana Mafalda Inácio contava como as redes sociais foram inundadas de comentários e teses antivacinação após a morte de uma criança, recentemente vacinada, sem que as causas do óbito estivessem sequer esclarecidas e sem qualquer consideração pelo luto daquela família. O negacionismo é perigoso e egoísta. E está a tentar entrar no parlamento.

Portugal ultrapassou na quarta-feira os dois milhões de infetados com covid-19 desde que registou os primeiros casos da doença, a 2 de março de 2020. O mais impressionante é que um quarto desses dois milhões foram só nos últimos 15 dias, o que mostra bem a facilidade de transmissão da Ómicron. Ainda assim, a gravidade situação pandémia é muito diferente (para melhor) daquela que se viveu há uma ano, quando os portugueses viam formar-se à porta dos hospitais longas filas de ambulâncias à espera que ficassem camas disponíveis para internar doentes. Há um ano, em dois dias diferentes registaram-se 303 mortes por covid-19. Chegaram a estar inter-nados em UCI 904 pacientes. Nesta quarta-feira morreram 33 pessoas e nas UCI estavam 153. A adesão dos portugueses à vacinação (8,7 milhões com esquema vacinal completo e já mais de 4 milhões com dose de reforço) é a melhor explicação para o contraste.

A tensão na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia continua a fervilhar. Joe Biden, há um ano na presidência dos EUA e cada vez mais impopular, diz a Putin que a "Rússia pagará muito caro" se invadir a Ucrânia, prometendo uma "severa e coordenada resposta económica" já discutida com os aliados americanos. A Comissão Europeia não faz por menos e diz ter "tudo pronto" para uma reação "massiva" com "sanções económicas e financeiras". A Ucrânia lembra que "a segurança alargada na Europa é impossível" sem soberania e integridade territorial do país, enquanto a Rússia apregoa que não tem "intenções bélicas" mas mantém milhares de soldados mobilizados em zonas de fronteira e insiste em ter garantias escritas de que Kiev não vai aderir à NATO. Cresce a urgência de o trabalho diplomático produzir resultados para apaziguar a situação, quando o tom crispado nas palavras dos líderes mundiais está a tornar esse caminho cada vez mais estreito.

Rui Moreira foi absolvido no caso Selminho, em que estava acusado de prevaricação por alegadamente favorecer a imobiliária da família (Selminho), de que era sócio, em detrimento do município portuense num litígio judicial sobre um terreno para construção de apartamentos no Porto. A polémica arrasta-se há anos na justiça e serviu para ataques partidários durante a campanha as eleições autárquicas de 2021, em que Moreira foi reeleito para um terceiro mandato. O Ministério Público (MP) defendia condenação com pena suspensa e perda do mandato, mas, na leitura do acórdão no Tribunal de São João Novo, a presidente do coletivo de juízes disse que o MP foi incapaz de provar que Moreira tenha dado instruções ou agido com o propósito de beneficiar a Selminho. O procurador Luís Carvalho disse "não se conformar" com a decisão e anunciou recurso para a Relação.

pedro.sequeira@dn.pt