25% dos alunos apresenta risco elevado de dificuldades na compreensão de leitura
João Coelho/LUSA

25% dos alunos apresenta risco elevado de dificuldades na compreensão de leitura

Ministério da Educação, Ciência e Inovação está a preparar medidas orientadas para o reforço das competências básicas de leitura nos primeiros anos de escolaridade, que serão anunciadas em dezembro.
Publicado a
Atualizado a

O Instituto de Educação, Qualidade e Avaliação (EduQA) divulgou esta quinta-feira (13 de novembro) o Relatório Nacional do Diagnóstico da Fluência Leitora 2025, que envolveu mais de 90 mil alunos, do 2.º ano (1.º ciclo), de escolas públicas e privadas. Nesse exercício nacional “foram avaliados os parâmetros ‘precisão’ e ‘velocidade’: a precisão refere-se ao número de erros cometidos durante a leitura, contabilizando-se o número de palavras omitidas, substituídas ou adicionadas, incluindo também os erros de acentuação das palavras e a velocidade avalia a rapidez com que o aluno consegue ler um texto, medindo-se neste parâmetro o número de palavras lidas num minuto.

A partir da recolha destas duas variáveis foi criado o indicador PLCM – Palavras Lidas Corretamente num Minuto (PLCM). Os alunos que realizaram o diagnóstico conseguiram, em média, ler 75 palavras corretamente num minuto. Os estudantes sem medidas de suporte à aprendizagem conseguiram, em média, ler 79 palavras corretamente num minuto. Segundo o relatório, o valor médio (79 PLCM) de fluência dos alunos sem medidas de suporte à aprendizagem situa-se dentro dos intervalos de referência internacionais para o final do 2.º ano (70–130 PLCM). O estudo destaca que 25% dos alunos lê menos de 51 palavras corretamente por minuto, “colocando-os em risco de dificuldades de compreensão leitora”. Em resposta a questões do DN, o MECI sublinha que “este diagnóstico confirma que uma parte relevante dos alunos apresenta risco elevado de dificuldades na compreensão leitora”. “A identificação precoce destas lacunas nas aprendizagens permite uma intervenção específica, de modo a diminuir a probabilidade de insucesso escolar”, adianta. Por isso, o MECI está “a preparar um conjunto de medidas orientadas para o reforço das competências básicas de leitura nos primeiros anos de escolaridade, que serão anunciadas num evento a realizar no dia 3 de dezembro”.

Este diagnóstico serviu, unicamente, para monitorização da leitura, para uso das escolas, dos professores e do sistema educativo, não se tratando de um momento de avaliação externa, “pelo que não teve, nem irá ter, qualquer impacto nas notas dos alunos”, garante o ministério.

Para o MECI, “a leitura é a base de uma boa aprendizagem e é determinante para o sucesso escolar dos alunos”. “Uma criança com elevada Fluência Leitora mais facilmente compreende, interpreta e apreende informação, sendo este um fator decisivo para um percurso escolar de sucesso. Inversamente, um aluno com baixa Fluência Leitora sente maior dificuldade na compreensão de textos, o que constitui um obstáculo à sua aprendizagem da língua e, consequentemente, com impacto nas restantes áreas disciplinares”, explica.

O ministério liderado por Fernando Alexandre faz ainda uma análise do impacto destas conclusões na notas dos alunos nas Provas de Monitorização da Aprendizagem (ModA) e diz revelarem “que resultados mais elevados na dimensão ‘Compreensão de Textos’ da Prova ModA de Português do 4.º ano tendem a corresponder a resultados mais elevados nas dimensões ‘Racionar e Comunicar’ e ‘Resolver Problemas’ na Prova ModA de Matemática do 4.º ano”.

“Ao nível do 6.º ano, o mesmo documento aponta que resultados mais elevados na dimensão ‘Compreensão de Textos’ da Prova ModA de Português tendem a corresponder a resultados mais elevados na dimensão ‘Analisar Fontes e Suportes’, da Prova ModA de História e Geografia de Portugal, e nas dimensões ‘Racionar e Comunicar’ e ‘Resolver Problemas’, na Prova ModA de Matemática”, acrescenta. Por isso, entende o MECI, “é particularmente relevante investir no desenvolvimento da capacidade leitora dos alunos, em particular no 1.º ciclo do Ensino Básico”. “Além disso, vários estudos internacionais evidenciam também que a Fluência na Leitura é um forte preditor do desempenho académico dos alunos”, afirma.

Missão Escola Pública apela aos pais e a toda a sociedade civil para que exijam mais do Governo

O DN noticiou na quarta-feira (12 de novembro) que os alunos das regiões do Alentejo, Algarve, Península de Setúbal e Açores apresentaram, genericamente, médias mais baixas nas provas MoDA (4.º ano) e provas finais de 9.º ano. A MEP reagiu esta quinta-feira aos resultados, afirmando serem a confirmação de “uma escola a duas velocidades” e apelando aos pais e sociedade civil para exigirem medidas ao MECI. “O relatório nacional das Provas Finais de 9.º ano, divulgado ontem [quarta-feira] pelo IAVE, vem confirmar o alerta que a Missão Escola Pública tem repetidamente lançado: Portugal tem hoje uma escola a duas velocidades. Uma escola onde os alunos do Norte e das regiões com professores colocados atempadamente obtêm resultados mais elevados, enquanto os alunos do Sul e das zonas mais carenciadas continuam a ser vítimas da escassez estrutural de professores”, explica o movimento cívico apartidário de professores.

Ao DN, Cristina Mota, porta-voz da MEP, recorda que os dados oficiais mostram que o Norte lidera as médias nas provas de Português (59,5%) e de Matemática (54,4%), enquanto a Península de Setúbal (46,5%) regista os valores mais baixos no continente, “confirmando o padrão de desigualdade territorial”. No Norte, explica, “as escolas contam com maior estabilidade do corpo docente, composto maioritariamente por professores profissionalizados e com experiência, a sul do Tejo, milhares de horários continuam a ser assegurados por recursos humanos sem formação em ensino, ou não encontram sequer candidato mantendo alunos sem aulas a determinadas disciplinas durante grande parte do ano letivo”. Para agravar o cenário, diz, “as medidas de promoção do sucesso educativo estão a ser suspensas ou abolidas em várias escolas do Sul, por falta de recursos humanos, enquanto no Norte essas medidas continuam a ser implementadas, acentuando ainda mais as desigualdades de oportunidades entre alunos do mesmo país”.

Cristina Mota lamenta que, “apesar da desigualdade estar agora documentada nos resultados nacionais, continuem sem ter lugar medidas estruturais que devolvam estabilidade às escolas e garantam o direito constitucional de todos os alunos a um ensino de qualidade”. “Em vez disso, e a título de exemplo, no mesmo dia que é conhecido o relatório referente aos resultados das provas de 9.º ano, o Governo anuncia soluções tecnológicas sem base real, como o recém-divulgado modelo de linguagem de IA português. O Estado não consegue garantir um professor humano em todas as salas de aula, mas promete um tutor digital para cada aluno”, critica.

A MEP apela ao Governo “que tenha a coragem de tomar as medidas necessárias para inverter resultados de que já não pode fugir”. “Essas medidas passam por garantir um ensino de qualidade a todos os alunos, o que implica ter professores em todas as escolas -- e, para isso, é urgente tornar a carreira docente verdadeiramente atrativa”, conclui. O movimento apela também aos pais e a toda a sociedade civil para que exijam mais do Governo, “porque não há sucesso educativo sem professores e não há futuro para o país sem uma escola pública forte, equitativa e respeitada”.

25% dos alunos apresenta risco elevado de dificuldades na compreensão de leitura
Educação. Regiões Norte, Centro e Madeira com melhores resultados nos exames
25% dos alunos apresenta risco elevado de dificuldades na compreensão de leitura
Mais de 100 mil alunos continuam sem professor a meio do primeiro período
25% dos alunos apresenta risco elevado de dificuldades na compreensão de leitura
Crianças do 1.º ano sem professor distribuídas por turmas de alunos mais velhos

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt