A chegada na zona de esperas ocorreu às 23:50, sob forte cordão da Polícia de Segurança Pública (PSP).
A chegada na zona de esperas ocorreu às 23:50, sob forte cordão da Polícia de Segurança Pública (PSP).Foto: Paulo Spranger

Após detenção em Israel, Mariana Mortágua é recebida por centenas em Lisboa com euforia e mensagens de apoio

Área de chegadas ficou repleta de pessoas que apoiam a Palestina. Com palmas, entoaram cânticos em defesa do povo palestiniano. Cordão policial foi montado à volta da comitiva.
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Pouco depois das 22:30, o avião que partiu de Madrid aterrou a Lisboa com Mariana Mortágua e outros três ativistas detidos por Israel. Desde muito antes, a área de chegadas do aeroporto já estava repleta de centenas de manifestantes que foram receber a comitiva portuguesa. Com palmas, entoaram cânticos em defesa do povo palestiniano como "Palestina vencerá", "Viva a luta do povo palestino" e palavras de ordem contra Israel. Cartazes com mensagens de "bem-vindos" e "heróis" também os esperavam.

A chegada nesta zona ocorreu às 23:50, sob forte cordão da Polícia de Segurança Pública (PSP). Com muitos empurrões, Mariana Mortágua pedia "calma" e jornalistas não conseguiram obter declarações à chegada. Após cerca de dez minutos, foi possível falar com os ativistas, já do lado de fora do aeroporto.

Forte cordão policial foi montado.
Forte cordão policial foi montado.Foto: Paulo Spranger

Mariana Mortágua começou por dizer que, ao saírem da prisão israelita, "não sabia o que se passava no mundo", porque ficaram "incontactáveis". Ao mesmo tempo, disse que foi uma "emoção" a mobilização em torno da flotilha huminatária e que sente "orgulho do povo português que se mobilizou".

A deputada denunciou situações de "ver camaradas a serem espancados e levados", de "várias horas algemadas, de sermos provocados pelo ministro israelita" e ficarem em "jaulas". Mariana também referiu que "valeu a pena" o que passaram. "Por muito que tenha sido difícil para nós e foi, e por muito que tenha havido abusos e houve muitos, isso deu-nos uma ideia do grau de impunidade das forças israelitas contra palestinianos, é claro que valeu a pena", respondeu aos jornalistas.

Miguel Duarte, outro dos detidos, afirmou que passaram "fome e sede", além de "algemados, vendados e postos dentro de autocarros prisão". Sobre as celas, informou que estavam "absolutamente sobrelotadas". Também denunciou que "alguns camaradas com diabetes ficaram três dias sem receber insulina".

Ao mesmo tempo, Mariana Mortágua rejeitou o título de heróis. "Nós não somos heróis. Nós somos pessoas que estão a fazer aquilo que os outros não estão a fazer, isto não é sobre nós", referiu. A respeito de como foram assistidos pelo Governo português, destacou que "não há nenhuma crítica" ao apoio consular, mas sim "ao Governo português que não aplica sanções a Israel e que permite aviões militares que passaram no território português", em referência aos F-25 americanos que passaram pela base das Lajes na semana passada.

"Nós não somos heróis. Nós somos pessoas que estão a fazer aquilo que os outros não estão a fazer, isto não é sobre nós".
"Nós não somos heróis. Nós somos pessoas que estão a fazer aquilo que os outros não estão a fazer, isto não é sobre nós".Foto: Paulo Spranger

Na visão da bloquista, estas ações de movimentos sociais são importantes para "movimentos simbólicos", como algumas sanções "míseras" aplicadas a Israel e o reconhecimento do estado da Palestina. "Os movimentos sociais só vão crescer o pouco que crescem. É o justiça que nos impele. É a violência sobre o pouco que o povo palestino é que nos impele. Enquanto isto não parar, o movimento só vai crescer e as mudanças vão ser simbólicas, vão ser materiais, até que o povo da Palestina seja livre", declarou.

Após cerca de 15 minutos de conversa com jornalistas, Mariana Mortágua disse que mais informações serão prestadas ao longo da semana, com aparência visível de cansaço.

Centenas de pessoas estavam à espera.
Centenas de pessoas estavam à espera.Foto: Paulo Spranger

A detenção

Os quatro portugueses (Mariana Mortágua, Sofia Aparício, Miguel Duarte e Diogo Chaves) integravam a flotilha Global Sumud, que tentou levar ajuda humanitária a Gaza, mas foi intercetada por Israel. Grupos huminatários informaram que 450 pessoas foram detidas na quarta-feira, 01 de outubro.

Catarina Martins, eurodeputada pelo Bloco de Esquerda (BE), disse a jornalistas na espera da comitiva que a ação foi "importantíssima" para despertar a "consciência que é cada vez maior" pela causa palestiniana. A ex-líder bloquista ainda destacou a "coragem", "sacrifício" e "fibra" dos portugueses.

Martins também atacou Israel e disse que "é um Governo de criminosos de guerra, que deve pagar pelos seus crimes", e que "muita gente de Israel não se revê nele". A eurodeputada ainda classificou a situação em Gaza como "genocídio".

Na sexta-feira, Joana Mortágua denunciou que os portugueses estavam "numa cela com 12 [pessoas]" e "sem comida nem água há 48 horas". Os detidos ficaram na prisão de Ketziot, a cerca de 72 quilómetros de Bersheba e já perto da fronteira com o Egipto.

O DN tentou confirmar estas queixas junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), que explicou que "o relato que foi feito dá nota de que estiveram bastante tempo sem água quando estavam no porto". "No centro de detenção já havia água mas não parecia capaz de se beber (embora dissessem que era potável). Relataram isto e a embaixadora protestou logo na altura junto do responsável da área de detenção. O ministério fez o mesmo junto do Embaixador de Israel em Lisboa".

A detenção da comitiva portuguesa e demais ativistas gerou protesto em Lisboa, com uma multidão nas ruas no sábado à tarde. Outras cidades europeias registaram as mesmas manifestações no final de semana.

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