Num debate que poderia ter contornos decisivos para um eleitorado do centro, centro-direita e direita, houve acusações de parte a parte e muito pouca discussão de temas ou ações de um futuro Presidente da República. Monotemático, pode dizer-se.Gouveia e Melo entrou ao ataque, beneficiando da primeira palavra e durante os primeiros 20 minutos repetiram-se as críticas a Marques Mendes. "Mantenho dúvidas. Marques Mendes tem-se tentado vitimizar, mas tem sido vítima é das opacidades. Não se lembrou de ter pertencido a uma firma que esteve ligada aos vistos Gold e Operação Labirinto. Depois, disse que só faturava, com a sua empresa, serviços à SIC e conferências de Imprensa. Recentemente, disse claramente que não tinha qualquer relação com Angola e fazia parte do Angola Desk. Parece que houve um apagão no site Abreu Associados. Há também um registo irregular feito no PSD. Tem de explicar isso ao país. Patrocina interesses e devia dizer qual a sua profissão. Não é um crime, mas tem de ver com a ética", disse, ao ataque, Gouveia e Melo.Luís Marques Mendes elogiou Gouveia e Melo para depois atacar a postura do almirante na Política. "Ganhei estima pessoal por Gouveia e Melo pelo plano de vacinação, teve trabalho exemplar e país deve-lhe muito. Fui dos que mais o elogiei no espaço público", começou por dizer, usando o primeiro argumento quanto às sondagens: "Agora, Gouveia e Melo é completamente diferente. Nos últimos meses, delapidou um capital enorme de prestígio. Era das pessoas mais credíveis em Portugal. Não trouxe nada de novo à política, veio com a velha política de insinuações. Não tem experiência governativa, mas a personalidade agora é esta, com insinuações permanentes", detalhou, dizendo, pela primeira vez, que o almirante tem semelhanças com outro candidato: "O senhor está armado em André Ventura. Houve uma queixa anónima contra mim e o Ministério Público arquivou imediatamente", acusou, detalhando que teve de "trabalhar" para viver: "Não recebi um euro do Estado em 18 anos. Aos 50 anos saí da política, dediquei-me à advocacia e depois à consultoria. Não há qualquer relação entre política e negócios. Fiz o que ninguém fez: divulguei todos os meus clientes."A toada prosseguiu. Gouveia e Melo repetiu, quatro vezes, que Marques Mendes facilita "lóbis". "O senhor Marques Mendes não está a infringir a lei, mas é um lobista, é um facilitador de lóbis. Tem aberto portas. O senhor tem de mostrar os interesses dos clientes e não pode ser refém. É falta de independência. Posso dizer que se for para a Presidência vou com toda a liberdade porque só recebi os ordenados das Forças Armadas", vincou.Os candidatos perderam-se em trocas de galhardetes. Marques Mendes acusou Gouveia e Melo de não ter um exemplo de promiscuidade política e negócios. Depois, António Costa e José Sócrates foram a jogo. "António Costa anda há meses para que lhe digam se é arguido. O senhor em dia e meio conseguiu que fosse arquivado", disse Gouveia e Melo, desculpando-se depois: "O sistema, sim, disse-lhe que não havia nada a investigar." Marques Mendes ripostou. "Voltou a fazer uma insinuação gravíssima [influência na Procuradoria-Geral da República]. Repito que não sou facilitador de negócios. O senhor não é muito popular nas Forças Armadas. Nunca falo disso, porque não tenho provas. Portanto, sou honesto, limpo e não tive um problema de impostos. O senhor está pior do que Ventura, está desesperado, está a ver as sondagens", atacou. "Tem junto de si, quem dirige a sua campanha, um general da politiquice, que foi assessor de José Sócrates", atirou o social-democrata.A dez minutos do fim do 28.º debate, surgiram outros temas. Gouveia e Melo, pegando no argumento da experiência política, atacou Marques Mendes. "Disse que a Lei da Nacionalidade não tinha qualquer problema, mas não passou e foi para o Tribunal Constitucional. Para quem tem uma experiência política destas, falhou", ripostando quando Marques Mendes o acusou de "ziguezagues" na Defesa. "Fui o primeiro militar a escrever publicamente que havia problemas de subfinanciamento. Os senhores da esfera política defenderam que o orçamento devia manter-se. Agora, vêm todos, porque alguém da NATO diz que eram os 5% de investimento obrigatório, e sou eu a dizer que não é razoável. De forma ingénua, sugerem que o dinheiro vem de um poço e que não afeta o Estado Social", apontou.Na forma de exercerem o poder, Gouveia e Melo diz ter "independência da lógica político-partidária." "Servi o Estado unidivisível. As lógicas partidárias, importantes, na Assembleia não devem passar para as Presidenciais. Depois, é preciso escolherem entre quem serviu o país 45 anos ou entre quem é facilitador nos negócios."Marques Mendes voltou a responder, prezando a estabilidade. "Não sou menos sério do que o senhor. Não sou lobista, não sou facilitador. Há 20 anos tomei decisões difíceis e afastei candidatos autárquicos. Um deles apoia este senhor [Isaltino Morais]. Sou um profundo defensor da estabilidade, Gouveia e Melo da instabilidade. Em Braga, Gouveia e Melo disse que demitiria Passos Coelho por não cumprir uma promessa eleitoral. Este exemplo seria implicar um segundo resgate", atacou.Na possibilidade lançada por Gouveia e Melo de Marques Mendes enfrentar um cenário com um primeiro-ministro arguido, o social-democrata respondeu: "Não respondo a cenários. O Primeiro-ministro acaba de ser ilibado da Spinumviva.""Eu disse. Não por princípio, mas em circunstâncias especiais", explicou Gouveia e Melo, culpando as palavras de apoio de Marques Mendes a Marcelo Rebelo de Sousa, que caracterizou como "um dos maiores responsáveis pela instabilidade." "Olho para si e não vejo uma pessoa do PSD de Francisco Sá Carneiro. Vejo uma pessoa que protege os ricos. Concorro contra si porque não me revejo em si como Presidente da República", declarou a terminar Gouveia e Melo, no único momento que pode ser interpretado como um apelo a um voto útil, ao centro-direita.No fim, a mesma nota. Com as sondagens mais desfavoráveis, Marques Mendes voltou ao argumento. "Chego ao fim do debate com a convicção de que Gouveia e Melo está desesperado. Anda sempre à persca de apoios partidários. Estas insinuações fazem com que esta pessoa não seja a necessária para o país", terminou Marques Mendes, que classificou o almirante de "desesperado" e de "André Ventura" três vezes..Gouveia e Melo acusa Marques Mendes de "lóbis", social-democrata diz que almirante "não trouxe nada de novo".Gouveia e Melo capta maior número de apoios “desalinhados” dos partidos.Marques Mendes divulga 22 clientes e desafia candidatos a revelarem tudo o que possa constituir “conflitos de interesses”.António Filipe e José Seguro: o debate sobre as diferenças na esquerda e quem merece o voto útil