Luís Marques Mendes
Luís Marques MendesTIAGO PETINGA/LUSA

Marques Mendes divulga 22 clientes e desafia candidatos a revelarem tudo o que possa constituir “conflitos de interesses”

O candidato presidencial tinha-se comprometido a divulgar a lista da sua empresa familiar, após autorização dos clientes, mas não da sociedade de advogados. PGR não abre inquérito após denúncia anónima.
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O candidato presidencial Luís Marques Mendes divulgou esta sexta-feira, 19 de dezembro, uma lista com os 22 clientes da sua empresa, na qual se encontram prestações de serviços em consultoria, comentário e participações em conferências, e que inclui a construtora de Famalicão Alberto Couto Alves, que tinha suscitado uma denúncia anónima no DCIAP e que, segundo informou também esta sexta-feira, a PGR, não será alvo de inquérito por falta de indícios de crime.

Numa lista enviada à Lusa pela sua candidatura, encontram-se como clientes da sociedade LS2MM, Lda., no âmbito de consultoria estratégica: a Alberto Couto Alves, SGPS, SA; a Associação Portuguesa dos Industriais de Engenharia Energética (APIEE); a Atrys Portugal Centro Médico Avançado, SA, do Porto; a Denominador Comum – Consultoria de Negócios, SA, com sede na Póvoa de Lanhoso; e a Painhas SA, com sede no Porto.

À Lusa, o diretor de campanha, Duarte Marques, desafia os restantes candidato, “a bem da transparência”, a divulgarem “tudo o que se possa suscitar conflitos de interesses”.

Na sequência de um artigo da revista Sábado, segundo o qual Marques Mendes ganhou mais de 700 mil euros nos últimos dois anos enquanto consultor da Abreu Advogados e na sociedade LS2MM, Lda, o candidato presidencial comprometeu-se a divulgar a lista da sua empresa familiar, após autorização dos clientes, mas não da sociedade de advogados, por colocar em causa o sigilo profissional.

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Marques Mendes disponível para divulgar clientes de empresa familiar se tiver autorização

Da lista da sua empresa constam igualmente, no âmbito de conferências proferidas por Marques Mendes: a ARP – Associação Rodoviária de Transportes Pesados de Passageiros; associação de Restaurantes McDonald’s, Brandom – Comunicação, Imagem e eventos, Lda; CBRE – Sociedade de Mediação Imobiliária, Lda; Cimpor – Serviços, SA; Eixo e Debate, Lda; El Circo del Marketing SL; Ger Imotion – Lda; GS1 Portugal; Marketividade – Marketing, comunicação e vendas, Lda; Primavera – Business Software Solutions, SA; Rede Global, SA; Shopitur, SA; a Tabaqueira II, SA; e Tedcom, Lda.

A SIC Sociedade Independente de Comunicação, SA, aparece na lista pelo espaço de comentário que manteve, assim como a Medipress Sc Jornalística e Editorial, Lda, no âmbito de artigos de opinião.

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O diretor de campanha de Marques Mendes salientou, na declaração escrita enviada à Lusa, que o candidato presidencial divulgou esta lista “por dever de escrutínio e porque quem não deve não teme”.

“Cumpriu o que prometeu”, declarou, sublinhando que “o escrutínio deve ser para todos”.

“Isto é escrutínio e é correto. Outra coisa são insinuações vindas de alguns outros candidatos, só exibem desespero e baixa política”, afirmou Duarte Marques, que disse que “Marques Mendes resolveu fazer algo de inédito em Portugal em termos de transparência: divulgar a lista de clientes com que trabalhou, na sua vida”.

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PGR não abre inquérito

A Procuradoria-Geral da República adiantou, também esta sexta-feira, que não vai abrir um inquérito ou outra averiguação a Luís Marques Mendes após uma denúncia anónima sobre contratos com uma construtora por ausência de “facto suscetível de integrar crime”.

“Confirma-se a receção no DCIAP de uma denúncia anónima, idêntica à que tem sido reproduzida pela imprensa. Analisada a denúncia anónima e a documentação anexa, verificou-se que a informação reportada, de parco detalhe, não descreve qualquer concreto facto suscetível de integrar crime”, pode ler-se numa resposta enviada à Lusa pelo gabinete de imprensa da PGR.

Em causa estão notícias veiculadas pela comunicação social de que a PGR teria recebido denúncias anónimas sobre contratos entre o candidato presidencial Luís Marques Mendes e uma empresa de construção.

“Sendo referidas na denúncia questões de natureza fiscal foi dado conhecimento da mesma à Autoridade Tributária e Aduaneira”, acrescenta a mesma resposta.

Segundo a PGR, “não havendo qualquer verdadeira notícia de crime, não foi ordenada a abertura de inquérito” e não havia também “fundamento para a abertura de qualquer outro tipo de procedimento de averiguação”.

“A denúncia anónima só pode determinar a abertura de inquérito se dela se retirarem indícios da prática de crime ou se constituir crime”, refere a mesma resposta.

Uma investigação da TVI e Nascer do Sol noticiou que Marques Mendes recebeu cinco mil euros por mês da construtora Alberto Couto Alves (ACA) por serviços de consultoria prestados durante seis anos e um mês, através de dois contratos: um de janeiro de 2010 com a duração de cinco anos, e o outro assinado com a empresa familiar LS2MM em janeiro de 2015, que teve a duração de 13 meses.

O dono da empresa ACA, quando confrontado com estas informações, disse inicialmente que não se lembrava de ter pago cinco mil euros por mês a Marques Mendes durante aquele período, mas, mais tarde, acabou por confirmar à TVI a existência daquela ligação contratual.

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