O presidente da concelhia de Setúbal do PSD, Paulo Calado, que foi um dos principais opositores do apoio do seu partido à candidatura autárquica do movimento independente liderado por Maria das Dores Meira, reagiu à auditoria divulgada pela Câmara de Setúbal, que imputa utilização devida de cartões de crédito do município à antiga presidente, dizendo ao DN que, "a confirmarem-se, estas imputações são muito graves, e por menos do que isto desistiu a candidata Lina Lopes".A comparação com a ex-deputada do PSD, que era a cabeça de lista do Chega à Câmara de Setúbal, como independente, refere-se à sua substituição por António Cachaço em cima do prazo legal para a entrega das listas às eleições de 12 de outubro. Lina Lopes alegou que desistia da corrida autárquica para se concentrar "na defesa do seu bom nome", face ao que disse ser "uma campanha difamatória" que envolvia supostos empréstimos feitos por um empresário local.No caso de Maria das Dores Meira, que foi eleita três vezes presidente da Câmara de Setúbal pela CDU, nas autárquicas de 2009, 2013 e 2017, mas antes disso já havia terminado o mandato de Carlos Sousa, pelo que foi responsável pelo concelho entre 2006 e 2021, estão em causa questões como "a acumulação indevida de ajudas de custo com despesas pagas por cartão de crédito, utilização de verbas municipais para fins de natureza pessoal ou recreativa e ausência de documentos justificativos para diversos movimentos bancários". O executivo municipal, liderado por André Martins, que se recandidata a um segundo mandato, à frente das listas da CDU, comunicou que irá enviar o resultado da auditoria para a Polícia Judiciária e para a Inspeção-Geral de Finanças. A candidata do movimento Setúbal de Volta reagiu através das redes sociais aos resultados da auditoria, cujos resultados foram revelados na noite desta quinta-feira pela TVI. E disse que a "tentativa de assassinato de carácter" não passa da "continuação da perseguição política" que, nas suas palavras, teve início no ano passado, após revelar a intenção de se candidatar à autarquia, enquanto independente. Na altura, em declarações ao DN, fez um anúncio: "Estou preparada para me denegrirem. E não só a CDU."Dores Meira consdiera estranho que as conclusões da auditoria, referente apenas a si, sejam reveladas a 30 dias das eleições. "Pergunto: quem beneficia desta divulgação em plena campanha autárquica? Por que razão esta auditoria não abrange todos os eleitos e mandatos autárquicos? E porque há mais de um ano me negam o acesso à informação? E porque este trabalho não foi feito por uma empresa de auditoria de renome no mercado? Tantas perguntas que poderiam ser feitas. Será que queremos as respostas? Ou já sabemos as motivações por detrás de tudo isto?", escreveu na sua conta de Facebook..Perante isto, os dirigentes locais do PSD, aos quais o apoio ao movimento de Dores Meira foi imposto pela direção nacional e pela distrital de Setúbal, realçam que se têm remetido ao silêncio, "até para não prejudicar o momento autárquico a nível nacional". Um dos objetivos apresentados na moção com que Luís Montenegro foi reeleito para a liderança dos sociais-democratas foi a conquista da Associação Nacional de Municípios Portugueses, agora liderada pela socialista Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos, o que implicaria uma grande viragem em relação às autárquicas de 2021, quando o PS obteve 148 presidências de câmara, contra 114 do PSD, incluindo coligações com o CDS.Quanto ao líder concelhio social-democrata Paulo Calado, que aguarda pelo apuramento pelas autoridades competentes daquilo que a auditoria imputa à antiga presidente da Câmara de Setúbal, está claro que Dores Meira "sempre foi antagónica" em relação ao PSD. E partilha uma convicção: "Se tivesse ganho as eleições há quatro anos em Almada, ainda hoje era militante comunista." Por seu lado, contactado pelo DN, o líder da concelhia de Setúbal do CDS, João Paulo Viegas, salientou que a "estranhamente única visada na suposta auditoria", cujos resultados são desconhecidos pelo dirigente centrista, já se pronunciou sobre o tema. E acrescentou que percebe "o desespero dos adversários da candidata Maria das Dores Meira, que divulgaram para a comunicação social os resultados desta suposta auditoria, e prontamente transformaram uma alegada irregularidade numa condenação sem julgamento nem defesa".O DN tentou obter reações à auditoria realizada pela Câmara de Setúbal junto dos coordenadores autárquicos do PSD e do CDS, Pedro Alves e Fernando Barbosa, respetivamente, que ainda não se pronunciaram quanto ao eventual impacto deste desenvolvimento no apoio desses partidos ao movimento independente Setúbal de Volta..Setúbal: Duelo autárquico na foz do Sado entre ex-camaradas só tem garantido um desfecho imprevisível