João Azevedo é o primeiro a liderar pelo PS em Viseu.
João Azevedo é o primeiro a liderar pelo PS em Viseu.Maria João Gala

João Azevedo, o autarca que deu ao PS uma vitória histórica em Viseu: “Quem tentar a tática política vai prejudicar os viseenses"

O PS ganhou Viseu pela primeira vez e João Azevedo salienta a vitória histórica, apesar de só ter quatro dos nove mandatos. Em entrevista ao DN, diz que vai ouvir todos para governar e faz pedidos de responsabilidade ao PSD.
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João Azevedo entregou ao Partido Socialista a primeira vitória autárquica em Viseu em democracia. Ao DN, o antigo autarca de Mangualde, em vésperas de tomar posse, diz que foi um trajeto de anos na oposição que lhe valeu a confiança, exaltando o triunfo histórico obtido a 12 de outubro.

Duas semanas após a vitória de dia 12, o que implica ganhar Viseu para o Partido Socialista?

É uma vitória histórica porque era a única capital de distrito que nunca tinha sido governada pelo Partido Socialista. Esta vitória marca a história do poder local. Nunca houve alternância democrática. É uma vitória que me deixa muito feliz pelo reconhecimento público que Viseu nos deu. É a segunda vez na vida que me acontece. Já foi assim em Mangualde, era um miúdo e ganhei a Executivos que estavam em funções. Entrei com uma Câmara falida e saí com 70% dos votos. Já fui 11 vezes candidato, tem sido uma vida de combate.

Não lhe saiu da ideia candidatar-se mesmo depois da derrota para Fernando Ruas em 2021?

Nunca, nunca. Havia um compromisso claro, de ter condições para ganhar as eleições. Senti que foi uma campanha que teve uma linha de crescimento e que nos foi apontando para esta vitória. A escolha do meu nome foi feita em dezembro de 2019, portanto era um compromisso a médio e longo prazo.

A quem deve agradecimentos?

Faço um grande tributo a Jorge Coelho e a António Costa, que me escolheram, que me convidaram. E à minha família, claro.

Sente-se confortável para governar?

O PS tem tantos eleitos como o PSD. Temos quatro eleitos pelo PS. Tenho mais de 20 anos de exercício de funções em regime executivo e não executivo no poder local. É preciso também saber ouvir com tolerância e decidir no tempo certo, sem atrasos.

Mencionou em entrevistas anteriores que teria de ouvir todos os partidos e que o Chega poderia ter impacto na gestão. É o Chega que desempata no Executivo. Vai negociar com o partido?

Disse que ouvia todas e todos. Isso [influência do Chega] veio a confirmar-se. Não há acordo nenhum com o Chega. Vou ouvir quem queira estar pelo bem. Há um programa aprovado pela população. Quem tentar a tática política vai prejudicar os viseenses. Terei ação de combate a quem tente evitar o nosso trabalho.

Conta que o PSD respeite a vontade dos viseenses e facilite na governação?

Os eleitos do PSD fazem parte do arco da democracia, estão há muitos anos no poder. Nós nunca pusemos em causa projetos de aumento do território e tínhamos condições para isso. Temos de aplicar o nosso programa eleitoral e quem tentar condicioná-lo terá, naturalmente, uma reação feroz das populações.

O PS tem debatido a questão das alianças à esquerda e das coligações. Nas vitórias, exceção a Coimbra, o PS concorreu a solo. A marca PS vale mais sozinha?

Nunca fizemos coligação nenhuma em Viseu, temos uma história de 50 anos de afirmação política. Mas são as pessoas que fazem a diferença. Temos pessoas de grande preponderância na sociedade civil e um grande orgulho em representar o PS, mas isto não é uma vitória de partidos. Quando digo isso, tenho o equilíbrio de dizer que há aqui um processo ideológico, de afirmação ideológica, mais o pragmatismo do trabalho do autarca, que se viu em Mangualde.

Teme encontrar incoerências nas contas da Câmara?

Não, não. As contas são auditadas, têm revisores oficiais de contas, é uma Câmara moderna, com gente séria. Vamos dar velocidade a Viseu, queremos ser líderes regionais e fazer da cidade um vulcão de investimento: privado, nacional e estrangeiro.

Quais foram os maiores erros de Fernando Ruas?

A população falou da incapacidade de executar, da indisponibilidade de estar junto às pessoas. O tempo ajuda a desgastar, seja quem for, por isso defendo a limitação de mandatos como está [três consecutivos].

O que pretende em termos de investimento público e habitação?

Vamos tentar recuperar o tempo perdido. Há uma verba elevadíssima que está alocada ao concelho. Na habitação, existem dois problemas: o setor privado e a habitação pública. Por um lado, houve inércia e incapacidade de alterar e rever o Plano Diretor Municipal [PDM]. Perdemos 200 habitações num triénio, ficámos pelas 500. O Plano de Ordenamento do Território foi um desastre para Viseu. A segunda tem a ver com a candidatura aos fundos do PRR para a habitação pública e arrendamento acessível.

Quantas habitações acha poder construir em quatro anos?

Realisticamente, assumimos um compromisso de 1000 habitações e isso implica a revisão do PDM e consolidar projetos do PRR no setor público. Sabemos que existe um Orçamento da Câmara na ordem dos 130 milhões de euros por ano, depois calculamos que exista um aumento vindo da Lei das Finanças Locais, mas também pela participação em fundos comunitários.

O que é mais importante nas reivindicações a Lisboa?

Temos os investimentos definidos na região: a concretização do IP3, em perfil de autoestrada, que já começou, os investimentos na área da saúde e cuidados hospitalares e Proteção Civil, como na emergência médica e bombeiros.

Há avanço previsto na ferrovia?

Está concretizada e aberta a linha da Beira Alta. O Plano Ferroviário Nacional tem a inclusão de Viseu na linha de Aveiro até Salamanca. Houve compromisso do Governo, que caraterizou esta como obra prioritária. Reunirei com Miguel Pinto Luz e o ministro das Infraestruturas terá a honradez para arranjar esta solução. Pretendemos melhorar a mobilidade no concelho e intermunicipal: melhores e mais rotas e de forma gratuita. Primeiro, será gratuito em Viseu, depois posteriormente noutros concelhos.

João Azevedo presidiu Mangualde, mas perdeu em 2021 a corrida a Viseu. Agradece confiança de Jorge Coelho e António Costa pelo convite de longo prazo feito em 2019.
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