João Azevedo é o primeiro presidente da Câmara Municipal de Viseu a não ser do PSD ou do CDS. O socialista venceu a autarquia com 42,28% dos votos.
João Azevedo é o primeiro presidente da Câmara Municipal de Viseu a não ser do PSD ou do CDS. O socialista venceu a autarquia com 42,28% dos votos.FOTO: Maria João Gala / Arquivo DN

Eleições trouxeram mudanças históricas de norte a sul... e até o fim do Cavaquistão

Raio-x mostra mudanças profundas no panorama autárquico. Um pouco por todo o país, houve várias alterações, que trouxeram resultados surpreendentes, como a primeira derrota do PSD em Viseu.
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Foram 49 anos de presidências de direita em Viseu que este domingo, 12 de outubro, chegaram ao fim. Pela primeira vez desde 1976, o presidente da autarquia viseense não será do CDS ou do PSD. Ainda que sem maioria absoluta, o socialista João Azevedo conseguiu levar a melhor sobre o histórico Fernando Ruas (PSD) por apenas 799 votos e foi eleito presidente da câmara beirã. O socialista conseguiu assim melhorar o que já em 2021 tinha sido histórico, ao alcançar os 38,26%. Agora, teve 42,28% dos votos e conseguiu finalmente ser eleito presidente da câmara.

Esta vitória do PS torna-se ainda mais importante, tendo em conta que o distrito de Viseu sempre foi tradicionalmente à direita. Foi, aliás, por isso que se tornou conhecido como Cavaquistão, uma vez que Cavaco Silva, ex-primeiro-ministro e Presidente da República venceu sempre naquela região.

Um pouco mais a sul, em Coimbra, o PS acabou por ter um resultado positivo e a ex-ministra Ana Abrunhosa acabou por reconquistar uma autarquia que já tinha sido socialista noutros mandatos. Com isto, José Manuel Silva (PSD/CDS/IL/Nós Cidadãos/PPM/Volt-Portugal/MPT) acabou por estar na presidência da cidade apenas durante quatro anos, saindo derrotado em toda a linha. Falando ainda sem resultados fechados - mas já com tudo praticamente contado -, Ana Abrunhosa disse ser uma vitória de todos e prometeu trabalhar para “mostrar que vale a pena ficar em Coimbra”, dizendo ainda querer mostrar à classe média que a cidade trata bem das pessoas.

Beja e Vendas Novas: as surpresas no Alentejo

Mais a sul vieram duas das maiores surpresas da noite eleitoral. Começando por Vendas Novas, o PSD venceu pela primeira vez uma autarquia que desde 1976 nunca tinha sido de outros partidos que não os de esquerda.

Também histórico foi o resultado dos sociais-democratas... em Beja, onde concorreram coligados com o CDS e a IL e venceram pela primeira vez em 49 anos de eleições autárquicas. O resultado é ainda mais esmagador quando comparado com a votação de 2021: há quatro anos, os ‘laranjas’ tiveram 18,53% dos votos. Agora? A votação passou para 31,14%, o que se traduz em dois vereadores. Este número de mandatos têm também o PS e a CDU, que acabaram por ficar à frente do Chega (que elegeu apenas um vereador no executivo municipal).

Bastante mais renhida, no entanto, foi a vitória do PS em Évora, onde Carlos Zorrinho conseguiu superar o PSD por 156 votos. A margem foi ainda mais apertada do que há quatro anos, quando a CDU venceu a autarquia por 273 votos. Os comunistas, aliás, sofreram algumas derrotas significativas no Alentejo, onde perderam também Monforte e alguns bastiões, como Serpa, Vidigueira ou Grândola. Contudo, conseguiram minimizar as perdas ao conquistar algumas presidências de câmara em cidades como Montemor-o-Novo ou Sines.

Setúbal: o triunfo da dissidente e a queda da CDU

Derrota em toda a linha sofreram os comunistas em Setúbal, onde André Martins, que presidia à autarquia acabou por ser derrotado em toda a linha. As primeiras projeções indicavam que o incumbente poderia passar para quarto classificado, depois de Chega (terceiro), do PS (em segundo) e da independente Maria das Dores Meira, que acabou por vencer a autarquia sem maioria absoluta e com pouco mais de 29% dos votos. Dores Meira concorreu a estas eleições como independente, apoiada pelo PSD e pelo CDS, depois de sair em rutura com o PCP, partido a que pertencia e pelo qual presidiu à autarquia.

No entanto, o resultado foi ‘apertado’ e o socialista Fernando José acabou por ficar com uma percentagem de votos muito próxima, e com os mesmos quatro vereadores de Dores Meira.

Confirmado este resultado, foi a primeira vez desde 2002 em que a autarquia setubalense não é presidida por um rosto da CDU. Isto, aliado ao resultado de Évora, significa que a coligação PCP-PEV perde as duas capitais de distrito cuja presidência ainda tinha.

Faro: dispersão à direita deu vitória à esquerda

Mais a sul, o PS conseguiu conquistar a presidência da autarquia de Faro, com António Pina (que já fora autarca ali ao lado, em Olhão) a destronar o PSD, que governava a autarquia farense desde 2009.

Para este resultado, poderá ter contribuído alguma dispersão de votos à direita, com o candidato do Chega (Pedro Pinto, que ficou em terceiro lugar) a ‘roubar’ votos ao PSD (cuja candidatura era liderada por Cristóvão Norte), o que permitiu vencer a autarquia com 39,48% dos votos. Isto traduz-se em quatro vereadores, mais um do que o PSD e dois do que o Chega.

No entanto, um dado curioso: para a Assembleia Municipal, não foram os socialistas a vencer, tendo a presidência desde órgão sido conquistada pela lista liderada por Macário Correia (34,65%), do PSD, com o PS a ficar muito perto (33,77%).

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