A morte de um militar da GNR, no rio Guadiana, ao largo de Alcoutim, após o barco onde seguia ser abalroado por uma lancha rápida, que estaria envolvida numa ação de tráfico de droga, não só recorda o risco associado às missões policiais contra este tipo de criminalidade, como revela que, muitas vezes, este é um combate desigual. Além do caso do Guadiana, nos últimos dias foi conhecida uma operação policial, na Grande Lisboa, que resultou na apreensão de quase seis toneladas de haxixe e armamento. A PJ disse tratar-se de uma organização criminosa “altamente sofisticada e perigosa”. A rede usava lanchas rápidas para distribuir droga por armazéns (num dos casos, no Seixal, situado à beira rio), de onde depois era transportada e introduzida no mercado. Os traficantes tinham mais armazéns e garagens em concelhos como Montijo, Almada, Sintra e Alcácer do Sal. O grau de organização e a variedade de recursos dos criminosos para controlarem todos os aspetos da cadeia de tráfico estão cada vez mais desenvolvidos no país. Dois exemplos: em dezembro, foi desmantelado, na região Oeste, um “laboratório industrial de extração, transformação e empacotamento de cocaína”, “dos maiores da Europa”, admitiu a PJ, que processava centenas de quilos de droga por dia (no local foram apreendidos 1500 quilos de cocaína); já em 2022, uma investigação conduziu as autoridades a duas empresas de construção naval, em Viana do Castelo, suspeitas de prepararem lanchas rápidas para uso específico no tráfico, dotando-as de características próprias como compartimentos e múltiplos motores de alta cilindrada. O pequeno traficante, encostado a uma parede à espera de clientes, deixou há muito de ser o foco da investigação. Esta tem de se centrar, cada vez mais, nas poderosas redes internacionais que operam em Portugal, país que a Agência da União Europeia sobre Drogas, no seu último relatório, apontou como uma das principais portas de entrada de cocaína na Europa. São redes que têm os bolsos fundos, tanto para adquirir equipamento, armas e meios tecnológicos como para tentarem subornar funcionários que ocupem posições chave em infraestruturas como os portos. Essa capacidade financeira desequilibra, e muito, a balança a favor dos traficantes. Mas, do ponto de vista policial, também há formas de responder, nomeadamente através do reforço das equipas de investigação, que evitem por antecipação tragédias como a de Alcoutim. Não deixa, por isso, de ser uma ironia do destino que o país esteja a lamentar a morte de um GNR na véspera do dia em que dezenas de inspetores ex-SEF que trabalham nos aeroportos deveriam ser integrados em pleno na PJ, reforçando as suas diversas valências, o que não vai acontecer tão cedo porque o Governo não foi capaz de implementar o plano que ficou traçado há mais de dois aos quando foi desmantelado o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Editor Executivo do Diário de Notícias.O perigo de ter políticos a brincar aos polícias