Lavrov recusa presença militar europeia na Ucrânia e acusa aliados de minarem trabalho de Putin e Trump

O presidente ucraniano revelou que pediu a Trump para convencer a Hungria a permitir a entrada da Ucrânia na União Europeia. A Rússia, entretanto, lançou o maior ataque desde julho, segundo Kiev.
Ataque russo com drones deixou rasto de destruição em Lviv.
Ataque russo com drones deixou rasto de destruição em Lviv.FOTO: EPA/MYKOLA TYS

Rússia rejeita envio de qualquer contingente militar europeu

A Rússia rejeitou hoje categoricamente o envio de qualquer contingente militar europeu para a Ucrânia, numa altura em que decorrem debates sobre as garantias de segurança que os ocidentais podem fornecer a Kiev.

“Uma intervenção estrangeira em parte do território ucraniano é totalmente inaceitável para a Rússia”, afirmou o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, após conversações com o homólogo indiano em Moscovo.

Lusa

Rússia acusa Ucrânia de não querer uma paz justa e duradoura

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, a Ucrânia "não está interessada" numa paz justa e duradoura.

A acusação foi proferida esta quinta-feira, 21 de agosto, durante uma conferência de imprensa, na qual Sergei Lavrov, citado pela AFP, afirmou que Kiev pretende obter garantias de segurança que são incompatíveis com as exigências de Moscovo.

Lavrov acusa aliados europeus da Ucrânia de minarem progresso alcançado por Trump e Putin 

Lavrov acusou os aliados europeus da Ucrânia de estarem a minar "o progresso" feito por Vladimir Putin e Donald Trump no encontro da semana passada no Alasca, acusando-os de "tentarem mudar o foco" em vez de "resolverem a raiz do problema".

"Espero que esse aventureirismo europeu fracasse", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo.

Sobre um possível encontro entre Putin e Zelensky, Lavrov recordou que o líder russo já disse "várias vezes" que "está "pronto para um encontro", mas sempre foi dizendo que "há questões de legitimidade em torno da segurança da Ucrânia", que "terão de ser resolvidas" antes de qualquer reunião entre os dois presidentes.

Zelensky denunciou que a Rússia está a concentrar tropas em Zaporijia

O presidente ucraniano disse que a Rússia está a concentrar tropas na região ocupada de Zaporijia, no sul da Ucrânia, preparando uma potencial ofensiva.

Segundo Zelensky, Moscovo está a transferir as forças da região russa de Kursk para Zaporijia, na Ucrânia.

As declarações de Zelensky foram prestadas na quarta-feira, 20 de agosto, a um grupo de jornalistas, incluindo da AFP, mas sob embargo até à manhã desta quinta, 21.

Em questões relacionadas com armamento, o presidente ucraniano afirmou que Kiev testou com "sucesso" um novo míssil com um alcance de três mil quilómetros.

O míssil "Flamingo" pode começar a ser produzido em grande escala a partir do início do próximo ano, de acordo com Zelensky.  

Zelensky referiu-se também ao eventual encontro bilateral Ucrânia-Rússia, no quadro dos contactos diplomáticos estabelecidos nos últimos dias, afirmando que o encontro com o presidente da Rússia pode ocorrer na Suíça, na Áustria e na Turquia.

Zelensky disse ainda que acredita que um encontro com Vladimir Putin "é possível após um acordo sobre garantias de segurança para Kiev".

Se Putin não estiver disponível para uma reunião bilateral, presidente ucraniano quer "ver uma reação forte dos EUA"

O chefe de Estado ucraniano disse estar pronto para uma reunião bilateral, mas, perante os jornalistas, questionou: "Respondi imediatamente à proposta de uma reunião bilateral: estamos prontos. Mas e se os russos não estiverem prontos?".

Zelensky espera que haja uma reação forte dos Estados Unidos caso o presidente russo não estiver disponível para uma reunião bilateral. "Se os russos não estiverem prontos, gostaríamos de ver uma reação forte dos Estados Unidos", afirmou o presidente ucraniano, citado pela Reuters.

Zelensky pediu a Trump para convencer a Hungria a permitir a entrada da Ucrânia na UE

Volodymyr Zelensky revelou que pediu ao homólogo norte-americano, Donald Trump, para "convencer" o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, para desbloquear a abertura das negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia.

O governo de Budapeste, liderado por Viktor Órban, que mantém relações estreitas com o presidente dos Estados Unidas, demonstrou reiteradamente nos últimos meses oposição à entrada da Ucrânia na União Europeia.

"Pedi ao presidente [Donald] Trump que garantisse que Budapeste não bloqueava a nossa adesão à União Europeia. O presidente Trump prometeu que a equipa norte-americana vai trabalhar no assunto", disse Zelensky.

Vice-presidente dos EUA diz que Europa assumirá "maior encargo com segurança"

O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, afirmou na quarta-feira que a Europa deve assumir “a maior parte do fardo” para garantir a segurança da Ucrânia, por se tratar do seu continente.

“O presidente [Donald Trump] foi muito claro ao afirmar que eles devem intensificar os seus esforços”, disse Vance, referindo-se ao papel dos países europeus no conflito entre a Ucrânia e a Rússia, durante uma entrevista à cadeia de televisão norte-americana Fox News na noite de quarta-feira.

“Não acho que devemos arcar com tudo. Acho que devemos ajudar, se necessário, para deter a guerra e as mortes. Mas acho que devemos esperar, e o presidente [Trump] certamente espera, que a Europa desempenhe o papel principal”, acrescentou.

Durante a entrevista, Vance disse que, durante a visita dos líderes europeus e do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, à Casa Branca na segunda-feira, Trump tomou a iniciativa de ligar imediatamente ao presidente russo, Vladimir Putin, para tentar avançar na possível reunião bilateral entre ambas as partes.

Recentemente, Trump deu um prazo de 10 a 12 dias ao Presidente russo para que demonstrasse o compromisso em selar a paz na Ucrânia, sob a ameaça de impor sanções económicas a Moscovo, bem como sanções secundárias a países que comercializem com a Rússia, como a Índia ou a China, que não se concretizaram.

Rússia lançou 574 drones e 40 mísseis no maior ataque desde julho

E numa altura em que se intensificam os contactos políticos e diplomáticos para um eventual cessar-fogo, a Força Aérea Ucraniana informou que a Rússia lançou 574 drones e disparou 40 mísseis contra a Ucrânia durante a noite de quarta-feira, tendo provocado a morte de uma pessoa na zona ocidental do país.

De acordo com um comunicado da Força Aérea de Kiev, este foi o maior ataque aéreo da Rússia desde julho.

No mesmo texto é indicado que a Rússia usou um total de "614 armas de ataque aéreo": 574 aparelhos aéreos não tripulados (‘drones’) e 40 mísseis.

As forças de Kiev reclamaram que foram abatidos 546 ‘drones’ e 31 mísseis sobre a Ucrânia.

De acordo com o balanço provisório, pelo menos uma pessoa morreu na região ocidental ucraniana, na sequência dos ataques russos, mas o local exato ainda não foi comunicado. 

Zelensky informou que, pelo menos, 15 pessoas ficaram feridas. "Eles atacaram infraestruturas civis, edifícios residenciais e o nosso povo", declarou numa mensagem nas redes sociais, onde partilhou imagens das consequências do ataque.

"Vários mísseis de cruzeiro foram lançados contra uma empresa americana em Zakarpattia. Era uma empresa civil normal, apoiada por investimento americano, que produzia artigos de uso diário, como máquinas de café. No entanto, também foi alvo dos russos. Isto é muito revelador", considerou.

Perante a ofensiva de Moscovo, o presidente ucraniano volta a pedir mais pressão sobre a Rússia. Os "russos realizaram este ataque como se nada tivesse mudado, como se não houvesse esforços globais para parar esta guerra. Isto requer uma resposta", defendeu.

"Ainda não há sinais de Moscovo de que eles realmente pretendem se envolver em negociações substantivas e acabar com esta guerra. É preciso pressão. Sanções fortes, tarifas fortes", apelou Zelensky.

Ataque de drone ucraniano deixa aldeias russas sem energia

Por sua vez, a Ucrânia lançou um ataque com drones, na manhã desta quinta-feira, que deixou várias áreas residenciais sem energia na região russa de Voronezh, a sul de Moscovo, e incendiou uma empresa industrial em Rostov, nas margens do Mar de Azov.

"Como resultado da queda de um ‘drone’, uma central elétrica foi danificada. Várias aldeias ficaram sem energia e vários comboios de passageiros sofreram atrasos", informou o governador regional de Voronezh, Alexander Gusev, no seu canal de Telegram.

A empresa ferroviária estatal Russian Railways (RZhD) anunciou que pelo menos 19 comboios estavam com atrasos.

Entretanto, o governador da região de Rostov, Yuri Slyusar, confirmou que não houve feridos no ataque.

O Ministério da Defesa indicou no Telegram a queda de um ‘drone’ numa fábrica industrial em Novoshakhtinsk, causando um incêndio que não terá provocado feridos.

O relatório diário do Ministério da Defesa dava conta da queda de 49 ‘drones’ em território controlado pela Rússia.

A região mais afetada foi Rostov, com 21 ‘drones’ abatidos, seguida de Voronezh, onde foram intercetados sete ‘drones’, em Belgorod, cinco e na península ucraniana da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, quatro.

Foram ainda abatidos ‘drones’ sobrevoando os territórios de Bryansk (três), Kaluga (três), Oryol (dois), o Mar Negro (dois), Kursk (um) e Tula (um).

Na quarta-feira, o ministério confirmou que as defesas aéreas russas abateram um total de 42 ‘drones’ durante o mesmo período.

Ataque russo com drones deixou rasto de destruição em Lviv.
Putin propôs reunir-se com Zelensky em Moscovo. Trump garante que EUA não vão enviar tropas para o terreno

A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e “desnazificar” o país vizinho, independente desde 1991 - após o desmoronamento da União Soviética - e que tem vindo a afastar-se da esfera de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.

A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia a cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado, em ofensivas com ‘drones’ (aeronaves não-tripuladas), alvos militares em território russo e na península da Crimeia, ilegalmente anexada por Moscovo em 2014.

No plano diplomático, após um longo impasse nas conversações entre Moscovo e Kiev, realizou-se a 15 de agosto uma cimeira no Alasca entre os Presidentes norte-americano, Donald Trump, e russo, Vladimir Putin, sobre a guerra na Ucrânia, com a possibilidade de um cessar-fogo como a principal questão em debate, mas não foram alcançados quaisquer resultados.

Ataque russo com drones deixou rasto de destruição em Lviv.
Trump quer encontro entre Putin e Zelensky após cimeira no Alasca

Na segunda-feira, Trump recebeu na Casa Branca o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e uma comitiva de alto nível com vários líderes europeus.

A Rússia rejeitou até agora qualquer cessar-fogo prolongado e exige, para pôr fim ao conflito, que a Ucrânia lhe ceda quatro regiões – Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia - além da península da Crimeia anexada em 2014, e renuncie para sempre a aderir à NATO.

Estas condições são consideradas inaceitáveis pela Ucrânia, que, juntamente com os aliados europeus, tem exigido um cessar-fogo incondicional de 30 dias antes de entabular negociações de paz com Moscovo.

Por seu lado, a Rússia considera que aceitar tal oferta permitiria às forças ucranianas, em dificuldades na frente de batalha, rearmar-se, graças aos abastecimentos militares ocidentais.

DN/Lusa

Ataque russo com drones deixou rasto de destruição em Lviv.
Genebra é a cidade preferida para receber cimeira Zelensky-Putin
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Para Moscovo, cimeira com Zelensky seria para selar acordo e não para negociar
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