Primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez
Primeiro-ministro de Espanha, Pedro SánchezEPA/Eva Ercolanese

Sánchez reconhece "dias difíceis", mas não se demite, quando enfrenta nova polémica

Um dos braços direitos do PM espanhol, Santos Cerdán ficou em preventiva por suspeita de corrupção que envolve um ex-ministro. Após acusações de assédio sexual, um dirigente do PSOE pediu a demissão.
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O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, reconheceu este sábado, 5 de julho, que o Governo e o Partido Socialista espanhóis vivem "dias difíceis" por causa de suspeitas de corrupção, mas reiterou a intenção de prosseguir nos cargos e não se demitir.

"Estou plenamente consciente de que estão a ser dias difíceis para todos, sem dúvida alguma, para o Governo de Espanha e para a militância do partido", disse Pedro Sánchez, no arranque de uma reunião da comissão federal do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), em Madrid.

A reunião do máximo órgão do PSOE entre congressos pretende mudar nomes na cúpula do partido e aprovar medidas para aumentar a transparência, prevenir e combater a corrupção dentro da estrutura e também castigar comportamentos machistas e o assédio sexual.

O Governo de Sánchez e o PSOE foram atingidos por polémicas e suspeitas de corrupção que, dada a dimensão, podem pela primeira vez colocar realmente em risco a sobrevivência política do primeiro-ministro, segundo a opinião unânime dos analistas e de vozes internas do partido socialista.

Um dos maiores golpes ocorreu na segunda-feira, quando o até há poucas semanas ‘número três’ do PSOE e um dos braços direitos de Sánchez, Santos Cerdán, ficou em prisão preventiva, num caso de suspeita de corrupção que envolve também um antigo ministro de Sánchez e ex-dirigente do partido, José Luis Ábalos.

Cerdán e Ábalos foram dois dos homens mais próximos de Sánchez na sua corrida à liderança do PSOE (que conquistou em 2014) e do Governo (tornou-se primeiro-ministro pela primeira vez em 2018).

Santos Cerdán foi também o dirigente socialista que negociou a lei de amnistia com os independentistas catalães que possibilitou a reeleição de Sánchez como primeiro-ministro em novembro de 2023.

Na investigação policial foram ainda apreendidas gravações de conversas telefónicas de Ábalos com um assessor relativas a mulheres que Sánchez qualificou hoje como repugnantes e contrárias aos "princípios e valores" do PSOE e do Governo, que se define como feminista.

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Juiz decreta prisão preventiva para antigo n.º 3 do PSOE por corrupção

Mas há mais um escândalo a abalar o governo espanhol e o PSOE. Fernando Salazar, também considerado próximo de Sánchez, demitiu-se de cargos no partido e no Palácio Moncloa (presidência do governo).

Segundo a imprensa espanhola, Francisco Salazar apresentou a demissão do cargo de adjunto na Secretaria de Organização do PSOE, funções para as quais iria ser nomeado na Comissão Federal do partido.

A demissão surge após o jornal El Diario publicar várias acusações de mulheres do partido contra Salazar que terá tido "comportamento inadequado", incluindo "assédio sexual e abuso de poder".

Mais uma polémica que Sánchez, numa altura em que decorre a reunião do partido.

O chefe do governo espanhol disse estar "com o coração tocado", mas também como "a determinação intacta e a mesma vontade" de enfrentar "a adversidade", dizendo que as medidas hoje anunciadas deixam o PSOE preparado para enfrentar o novo ciclo eleitoral em Espanha, que arranca em 2025 com eleições autonómicas em Castela e Leão e na Andaluzia. A legislatura espanhola atual termina em 2027.

O primeiro-ministro de Espanha disse sentir a responsabilidade de continuar à frente do Governo porque a alternativa é uma "coligação de ultra direita" formada pelo Partido Popular (PP) e pelo Vox, que governam ou já governaram juntos nos últimos dois anos em municípios e governos regionais e levaram a cabo, realçou, cortes no estado social, nos direitos e liberdades, assim como políticas negacionistas das alterações climáticas.

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Sánchez realçou, por outro lado, o bom desempenho da economia espanhola nos últimos anos e considerou haver reconhecimento internacional do trabalho do executivo a nível de política externa.

"Somos conscientes de que a deceção é grande, mas a responsabilidade de Espanha continuar a avançar é ainda maior", afirmou, depois de ter de novo pedido desculpas aos espanhóis e aos militantes socialistas por se ter enganado e depositado confiança em pessoas "que não mereciam".

Sánchez reiterou que o PSOE, como organização, não é corrupto e prometeu colaboração com a justiça em relação às suspeitas que envolvem os ex-dirigentes do partido.

O líder do PSOE está a enfrentar críticas dentro do próprio partido, com uma das de maior peso a ser a do presidente do Governo regional de Castela La Mancha, Emiliano García Page, que hoje, após o discurso de Sánchez na reunião da comissão federal do partido pediu para o primeiro-ministro se submeter a uma moção de confiança no parlamento que convoque eleições.

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