Dois dos três principais suspeitos no escândalo de corrupção que está a abalar o PSOE - o ex-ministro dos Transportes José Luis Ábalos e o seu antigo assessor Koldo García - foram ouvidos esta segunda-feira no Supremo Tribunal. O primeiro negou ter recebido subornos e disse não se reconhecer nos registos áudio que estão a ser usados como prova, enquanto o segundo se remeteu ao silêncio depois de ter tentado adiar, sem sucesso, a declaração. O terceiro suspeito, que até à semana passada era secretário da Organização dos socialistas, Santos Cerdán, será ouvido a 30 de junho. Os olhos de toda a Espanha estão no que se passa na sala de audiências, depois de as suspeitas de alegada fraude na compra de máscaras durante a pandemia de covid-19 - aquilo que começou por ser o caso Koldo - terem dado lugar àquela que poderá ser a maior investigação de corrupção a chegar ao Supremo Tribunal. O agora caso Cerdán ameaça não só o PSOE, mas o próprio governo - isso é, pelo menos, aquilo que o Partido Popular (PP) de Alberto Núñez Feijóo quer. .Espanha. Sánchez promete explicações e investigações sobre o 'Caso Koldo', mas PP exige a sua demissão.O líder da oposição defendeu esta segunda-feira um estudo da Junta Central Eleitoral sobre os “momentos mais frágeis” da votação pelo correio durante as legislativas de 2023 - pondo em causa os resultados do escrutínio em que o PP foi o mais votado, mas Pedro Sánchez foi eleito primeiro-ministro após chegar a acordo com os independentistas catalães. As dúvidas sobre as eleições surgem depois de o antigo líder do PP José Maria Aznar dizer, numa entrevista ao El Mundo, que alguém que é suspeito de adulterar as eleições internas no PSOE (isso é sugerido nos relatórios da polícia) pode ter também adulterado as legislativas. “Se alguém roubou uma ourivesaria, porque não pode roubar um banco?”, indicou. Feijóo considerou o exemplo “bastante bom”.O primeiro-ministro espanhol respondeu à acusação de Aznar logo no domingo, no X. “Sempre a mesma coisa: uma estratégia para deslegitimar os resultados eleitorais e, consequentemente, o governo espanhol. A democracia só é válida para eles se estiverem no poder.” .Os socialistas tentam virar a página ao escândalo, tendo Sánchez feito mudanças na liderança do partido e pedido desculpas. Mas o caso continua a manchar o governo, que tem a toda a hora que se defender. “Não temos um Governo falhado. Três pessoas falharam e agimos de forma decisiva”, insistiu esta segunda-feira a ministra da Ciência, Inovação e Universidades, Diana Morant, questionada sobre o escândalo durante uma visita a Alicante, dizendo que o trabalho do Governo não pode ficar “manchado” pela conduta “vergonhosa” de três pessoas. Juiz rejeita prisão preventiva O ex-ministro dos Transportes José Luis Ábalos foi o primeiro a declarar diante do juiz Leopoldo Puente - a sua terceira audiência, mas a primeira já depois de ter sido divulgado o último relatório da Unidade Central Operativa da Guardia Civil, que revelou a suposta participação do até recentemente secretário de Organização do PSOE, Santos Cerdán, no escândalo de corrupção. Ábalos negou qualquer envolvimento em eventuais irregularidades nos contratos públicos no setor dos Transportes - que segundo a investigação estará no centro do esquema de corrupção. Além disso, disse que não se reconhece nas gravações que terão sido feitas pelo antigo assessor e que o incriminam. O ex-ministro respondeu às perguntas do juiz e dos procuradores, mas não às da acusação popular (representada pelo PP) - que pedia que ficassem em prisão preventiva. O juiz decidiu contudo manter as medidas cautelares já existentes, incluindo a proibição de sair do território nacional e obrigação de comparência quinzenais à justiça. O mesmo fez em relação a Koldo, que recusou responder às perguntas depois de o magistrado não ter aceitado adiar a audiência - e ter ameaçado prende-lo se não aparecesse. A nova advogada do ex-assessor de Ábalos alegou que ainda não lhe foi fornecida a cópia integral do processo e que não tinha tido tempo para se preparar. O juiz não aceitou essa desculpa. Na próxima segunda-feira, é ouvido Cerdán.