Juiz decreta prisão preventiva para antigo n.º 3 do PSOE por corrupção
O juiz do Supremo Tribunal espanhol, Leopoldo Puente, decretou esta segunda-feira a prisão preventiva sem fiança de Santos Cerdán, antigo secretário de Organização do PSOE e aliado do primeiro-ministro Pedro Sánchez, por organização criminosa, suborno e tráfico de influências. O antigo número três do partido, que se demitiu quando vieram a público as acusações, negou os crimes em tribunal, mas acabou com a mais alta medida de coação dos suspeitos do caso Koldo.
Santos Cerdán foi ouvido no Supremo durante hora e meia, tendo apenas aceitado responder às perguntas do seu próprio advogado. O juiz considerou no final que existem “provas muito fortes” do seu envolvimento no esquema de corrupção que estava centrado no Ministério dos Transportes, na altura liderado por José Luis Ábalos (outro dos suspeitos do caso). E estima que o antigo número três do PSOE possa ter ganho cinco milhões de euros na adjudicação indevida de contratos para obras públicas.
Os procuradores anticorrupção consideram que Santos Cerdán era “o chefe da alegada organização criminosa” e pediram a prisão preventiva, alegando que havia risco de fuga e de destruição de provas. O juiz teve isso em conta, lembrando que ao contrário dos outros suspeitos não foi ainda alvo de busca policial nem foi investigada a sua situação financeira, aceitando impor pela primeira vez a medida de coação mais grave nesta investigação. Cerdán foi enviado para o centro penitenciário de Madrid V.
Cerdán foi o último a ser envolvido no chamado caso Koldo, o escândalo de corrupção que tem o nome de Koldo Garcia, ex-assessor do ministro dos Transportes José Luis Ábalos. Mas está a ser apontado como o suposto líder. Os três estão alegadamente implicados neste esquema que está a abalar o PSOE e o governo de Pedro Sánchez.
A investigação começou com cobranças ilegais na compra de máscaras na pandemia, mas evoluiu para o pagamento de subornos durante a adjudicação ilegal de obras públicas. Grande parte do caso das autoridades baseia-se em registos áudio, que foram feitos por Koldo entre 2019 e 2023. Cerdán disse que estão descontextualizados e pediu uma perícia sobre as gravações.
Na semana passada, Koldo optou pelo silêncio no Supremo, enquanto José Luis Ábalos aceitou responder ao juiz, negando as acusações e dizendo não se reconhecer nos áudios. Os dois continuam em liberdade, apenas com proibição de sair do país e obrigação de comparências periódicas junto das autoridades.
Impacto para o governo
O primeiro-ministro espanhol reiterou esta segunda-feira que o partido agiu “de forma contundente” com Cerdán e que agora cabe aos tribunais determinar as suas responsabilidades. Horas antes, uma fonte da Moncloa dizia ao jornal El País: “O dano já está feito. Não importa onde expie as suas culpas.” À agência EFE, outras fontes do Governo disseram não ter sido apanhadas de surpresa com a decisão do juiz.
O antigo secretário de Organização do PSOE foi um dos responsáveis pelo diálogo com os nacionalistas bascos do PNV e do EH Bildu, tendo ajudado a conseguir a investidura de Sánchez. No Supremo, Cerdán falou em “perseguição política” por ter negociado essa investidura, alegando que o próximo será o ministro da Justiça, Félix Bolaños, porque negociou com os independentistas catalães do Junts per Catalunya.
“Quando o sanchismo está a caminho da prisão, é tempo de dar a palavra ao povo espanhol, dissolver o parlamento e realizar eleições”, defendeu a secretária-geral do PP, Cuca Gamarra. Mas o Governo rejeita adiantar as eleições. O PSOE reúne no próximo sábado o Comité Federal para eleger uma nova direção.