O primeiro-ministro espanhol anunciou esta segunda-feira, 16 de junho, que vai avançar com uma comissão de investigação no Congresso “para conhecer a verdade sobre o Caso Koldo” e garantiu que comparecerá perante os deputados, assim que a agenda o permitir, “para dar as explicações necessárias e responder a perguntas de todos os grupos parlamentares” sobre os escândalos de corrupção que têm vindo a abalar o PSOE e que envolvem os dois últimos secretários de Organização do partido, o ex-ministro José Luis Ábalos e Santos Cerdán, e o assessor de Ábalos, Koldo García. Mais tarde soube-se que Pedro Sánchez será ouvido no Congresso a 9 de julho.As declarações de Sánchez foram feitas depois de uma reunião da Executiva Federal dos socialistas espanhóis marcada na sequência da demissão de Santos Cerdán do cargo de secretário de Organização no final da semana passada, depois de o seu nome ter aparecido num relatório da Unidade Central Operativa (UCO) da Guardia Civil, sendo mencionadas conversas entre ele, José Luis Ábalos e Koldo García sobre alegados pagamentos de comissões em troca de contratos rodoviários. Cerdán suspendeu também o seu mandato de deputado e renunciou à condição de militante socialista. No pacote de medidas anunciadas esta segunda-feira pelo também secretário-geral do PSOE está ainda a expulsão de Ábalos como militante, a nomeação de uma equipa de transição para liderar o Secretariado de Organização do partido até à próxima reunião da Comissão Federal, a 5 de julho, e a realização de uma auditoria externa às contas do partido, cujos resultados serão depois divulgados. “Não vamos encobrir a corrupção que surge dentro das nossas fileiras”, disse Sánchez, após uma reunião de quase cinco horas no partido. “Vamos levantar-nos e agir com decisão, porque obviamente não somos perfeitos, mas somos intransigentes quando a corrupção nos afeta.”De acordo com o jornal El País, no encontro o líder dos socialistas terá dito que “o mais razoável é limitar a crise ao Secretariado de Organização”, acrescentando que “devemos avaliar a crise e não prejudicar o governo, nem dar armas à direita”, naquilo que foi entendido como uma crítica implícita aos socialistas que apoiam a convocação de eleições gerais antecipadas.Falando depois aos jornalistas, Pedro Sánchez desafiou o Partido Popular e o Vox a apresentarem uma moção de censura, se considerarem que o governo não tem apoio suficiente. “Devemos e vamos continuar. Se o senhor Feijóo e Abascal estão tão convencidos de que o governo perdeu a maioria parlamentar que o legitima para governar, o que têm de fazer é apresentar uma moção de censura”, afirmou o primeiro-ministro espanhol. “Entregar as rédeas do país a uma coligação do PP e do Vox seria tremendamente irresponsável.”Numa primeira reação, o porta-voz do Partido Popular, Borja Sémper, acusou Pedro Sánchez de “insultar toda a gente, especialmente o PP”. “Veio dizer ‘somos corruptos, mas pelo menos a direita não está a governar’”, afirmou o popular. “Hoje, Sánchez decidiu-se por uma morte lenta, mas será muito mais dolorosa.”Sémper rejeitou ainda a hipótese de o PP avançar com uma moção de censura — seria “um balão de oxigénio para o ‘sanchismo’” —, voltando a exigir a sua demissão de primeiro-ministro. “Perdeu qualquer tipo de ligação com a realidade”, prosseguiu o porta-voz do PP, sublinhando: “Aspiramos a que anuncie a dissolução das Cortes e que convoque eleições.” E deixou ainda um recado aos partidos que apoiam o governo socialista: “Quem apoia o sanchismo, hoje, estará deslegitimado de participar na política amanhã." No que diz respeito aos aliados, Sánchez reuniu-se, ao final da tarde desta segunda-feira, com a líder do Sumar, vice-primeira-ministra e ministra do Trabalho, Yolanda Díaz. No final de mais de uma hora de encontro, Díaz manifestou o seu “repúdio” pelo caso de corrupção que envolve Cerdán, referindo que “nem todos os políticos são iguais". "O povo espanhol não merece este cinismo. Sou uma pessoa íntegra, este governo é composto por cinco ministros íntegros e que fazem parte de um espaço político íntegro. A corrupção não é inevitável, chega de cinismo.” A líder do Sumar anunciou ainda que vai propor medidas anticorrupção, como o fim do foro privilegiado.O Podemos, que considerou “vazia” a intervenção de Sánchez, após a reunião da Executiva do PSOE, já tinha tornado público que não iria reunir-se com o primeiro-ministro. “Não vamos participar numa operação de branqueamento de capitais por parte de um partido corrupto.”