O mal-estar entre Proença, clubes e operadores que atormenta o regresso do futebol

Carta do presidente da Liga Portugal enviada a Marcelo Rebelo de Sousa, a pedir ajuda para ter jogos em sinal aberto, na origem da revolta de alguns emblemas. Entretanto, a DGS viabilizou o Estádio dos Barreiros, no Funchal. Mas como vão ser feitas as viagens?
Publicado a
Atualizado a

A maior parte dos 18 clube da I Liga estão indignados com Pedro Proença. Em causa, a carta que o presidente da Liga Portugal escreveu a Marcelo Rebelo de Sousa, onde pede ajuda ao Presidente da República na tentativa de convencer os detentores dos direitos de transmissão televisiva dos jogos a fazerem-no em sinal aberto e dessa forma mobilizar os portugueses à volta do desporto rei, quando este regressar a 4 de junho.

Uma iniciativa que não agradou a, pelo menos, dez dos 18 clubes do principal campeonato, bem como ao principal patrocinador da I Liga, a NOS, e aos restantes operadores de televisão e telecomunicações, como a Altice e a Sport TV, que pagaram milhões de euros aos clubes pelos direitos televisivos e de transmissão. O assunto vai estar em discussão na reunião de presidentes nesta quinta-feira (21 de maio a partir das 18.00) e promete aquecer um encontro em que se deve definir o calendário das dez jornadas que faltam jogar do campeonato português.

Um dos clubes desagradados explicou ao DN que o "mal-estar com Pedro Proença existe", mas não belisca a liderança do presidente da Liga. "Há uma critica à forma como foi gerido este dossiê dos jogos em canal aberto, mas não está em equação qualquer pedido de demissão do presidente da Liga, até porque os tempos exigem outras batalhas", garantiu ao DN um responsável de um dos dez clubes que já mostraram desagrado pela iniciativa do líder da Liga, que "colocou em causa um trabalho desenvolvido pelos clubes junto das operadoras para continuar a receber parte das verbas dos direitos televisivos".

As operadoras tiveram perdas enormes em receitas devido à pandemia e cancelaram pagamentos aos clubes. Algo que estava em vias de ser revertido. Segundo soube o DN, havia abertura dos operadores para que o corte não fosse radical, mas parcial, faseado ou com descontos. "Havia uma relação construtiva para evitar que os clubes não fossem muito prejudicados e que os pagamentos voltassem a ser feitos. Foi no meio desta negociação que o presidente da Liga resolveu escrever aquela carta ao Presidente da República, o que levou à revolta de alguns emblemas", contou a fonte ao DN, lembrando que as operadoras já não tinham ficado muito satisfeitas quando foram afastadas da decisão de parar os campeonatos a 12 de março.

"Ponha-se na posição dos operadores. Compra os direitos e fica com um serviço e uma receita e, de repente, não há serviço ou receita e alguém pede que esses direitos sejam nacionalizados sem compensação alguma. Sim, porque não acredito que neste cenário de pandemia e de crise financeira o Governo vá pagar milhões para dar o futebol à RTP. Além disso, as televisões em canal aberto [RTP, SIC e TVI] estão a receber ajudas financeiras do Estado e não me parece que possam fazer ofertas pelo futebol", argumentou fonte de um clube contactada pelo DN.

A verdade é que o secretário de Estado do Desporto e Juventude, João Paulo Rebelo, admitiu no dia 5 de maio que o Governo estava a ponderar essa possibilidade dos jogos em canal aberto. Uma ideia que será lei em Inglaterra. O executivo de Boris Johnson deu ordens à Premier League para emitir os jogos em canal aberto e assim evitar os aglomerados em bares, pubs ou restaurantes. O DN tentou obter uma reação da Liga e de Pedro Proença durante todo o dia, mas sem sucesso.

Jogador infetado é igual a jogador lesionado?

A reunião de presidentes servirá ainda para decidir sobre a utilização ou não da regras das cinco substituições e dar conta sobre a questão dos seguros, que ainda é um assunto em aberto. A Liga Portugal conseguiu sensibilizar a seguradora (SABSEG) para a alteração do "risco segurado" para os atletas, mas ainda falta definir questões específicas quanto ao covid-19, como por exemplo, um jogador que seja infetado durante um jogo ou um treino é enquadrado na categoria de acidente de trabalho ou acidente desportivo. A tendência é para que seja considerada "uma lesão", segundo soube o DN, apesar do Sindicato de Jogadores defender a criação de um seguro de vida.

Além disso o organismo conseguiu um desconto para os clubes. "Os prémios de seguros devidos entre os dias 18 de março (estado de emergência) e 30 de abril terão um desconto de 80%, sendo certo que os valores que se vencerão até ao efetivo encerramento da época serão objeto de uma moratória que permitirá o respetivo pagamento fracionado em oito prestações entre maio a dezembro de 2020", informou a Liga.

A segurança é outra questão em aberto. A Liga reuniu ontem com a PSP e o Ponto Nacional de Informação sobre Futebol (PNIF) para definir quantos agentes da autoridade e quantos stewards (segurança privada) são necessário em cada jogo, isto tendo em conta que o plano da DGS passa por ter no máximo 185 pessoas nos recintos desportivos em dias de jogo e não haverá adeptos.

Demasiadas perguntas sem resposta a 14 dias do programado regresso do futebol. O plano é regressar a 4 de junho e jogar todos os dias até ao fim da I Liga, previsto para 26 de julho. Segundo revelou Sónia Carneiro, diretora executiva da Liga, à RR na terça-feira, haverá "futebol de segunda-feira a domingo, exceto em alguns dias de julho em que não será possível".

Serão assim 90 jogos em oito semanas, com ordem dos jogos e horários ainda a definir. A última jornada será exceção. "Por razões regulamentares" os jogos da última ronda do campeonato, com equipas envolvida pelos mesmo objetivos, têm de se realizar à mesma hora. A Liga Portugal vai ainda ter cuidado na marcação das duas primeiras jornadas, "porque há algum risco de lesões", depois de dois meses e meio da paragem. Campeonato foi suspenso a 12 de março, com o FC Porto na liderança, com mais um ponto do que o Benfica.

Estádio do Marítimo aprovado. E agora, como serão as viagens para a Madeira?

Dos 15 estádios que se candidataram a receber jogos da I Liga, a Direção-Geral da Saúde já deu aval a dez. Entre eles o Estádio do Barreiros, casa do Marítimo, clube que exigia jogar no seu recinto. Havia alguma expectativa para saber se a DGS ia ou não dar aval aos Barreiros, uma vez que, apesar de ser de nível 1, o recinto fica no Funchal, o que obrigará a deslocações à Madeira. A intransigência de Carlos Pereira em abandonar a ilha levou mesmo a Liga Portugal a pedir esclarecimentos à DGS, como o DN noticiou, mas foi compensada.

Agora que o estádio foi aprovado pela autoridade de saúde pública há outras questões pertinentes a precisar de resposta, como por exemplo as viagens. A quarentena na Madeira ainda é obrigatória para quem chega, mas pode ser substituída por testes covid-19 negativos. Assim, e depois de uma conversa entre Fernando Gomes (presidente da Federação Portuguesa de Futebol) e Miguel Albuquerque (presidente do Governo Regional da Madeira) ficou decidido que os intervenientes no jogo podem desembarcar sem problema, desde que munidos de um certificado de teste covid-19 negativo. Ou seja, os jogadores e equipas técnicas, bem como os árbitros e os delegados da Liga, serão testados em território continental e depois na Madeira a 45 minutos do encontro como manda o código de conduta da DGS.

Chegados ao Funchal as equipas terão autocarros à espera para os levar a um hotel (deve ser o mesmo para as cinco equipas que ainda vão jogar ao Funchal), onde ficarão confinados até à hora da partida. O DN contactou o Governo Regional para esclarecer esta dicotomia das viagens, mas o organismo remeteu para o Secretário de Estado da Educação, com a pasta do futebol, que não se mostrou disponível durante a tarde inteira de quarta-feira.

Falta ainda definir se as equipas viajam em voo regular ou em charter (avião alugado). O governo regional só permite três voos por semana do continente para a Madeira, o que significa que terá de haver coordenação para que um desses voos fique reservado para a equipa que vá jogar ao Funchal. Isto semana sim, semana não. Em alternativa aos voos regulares há os aviões fretados, que embora careçam de autorização, podem ser opção. Mas o elevado custo (50 a 70 mil euros) é um entrave para alguns dos emblemas que ainda têm de ir jogar à Madeira, como é o caso do Vit. Setúbal, que já avisou que não paga e até ironizou pedindo o avião de Ronaldo emprestado. O clube do Bonfim é um dos cinco que ainda tem de ir jogar a casa do Marítimo. Os outros são o Gil Vicente, Benfica, Rio Ave e Famalicão.

Para já o recinto insular está entre os nove aprovados pela DGS, tal como a Cidade do Futebol (Oeiras, casa das seleções), além dos campos dos três grandes, Estádio da Luz, Estádio do Dragão e Estádio José Alvalade, Estádio D. Afonso Henriques (Vit. Guimarães), o Estádio João Cardoso (Tondela), o Municipal de Braga (Sp. Braga), Portimão Estádio e o Estádio Capital do Móvel (Paços de Ferreira).

Depois há mais cinco que ainda podem aspirar a receber jogos, se fizerem as obras pedidas pelo organismo de saúde pública. São eles, o Estádio do Bonfim (Vit. Setúbal), o Estádio dos Arcos (Rio Ave), o Estádio do Bessa (Boavista), o Estádio Cidade de Barcelos (Gil Vicente) e o Estádio do Desp. Aves.

O Belenenses SAD, que jogava no Estádio Nacional, e o Santa Clara, que joga habitualmente no Estádio de São Miguel, não se propuseram a receber jogos. O clube liderado por Rui Pedro Soares viu o Jamor chumbado previamente (decisão que levará a deslocar a final da Taça de Portugal para outro recinto) e o clube dos Açores aceitou jogar na Cidade do Futebol, mudando-se para o continente até ao fim do campeonato. O Moreirense (Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas) e o Famalicão (Municipal de Famalicão) também aceitaram jogar fora de casa e não submeteram os seus campos a vistorias.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt