O crescimento exacerbado, nos últimos anos, das "entidades não bancárias está a revelar-se um novo risco para a estabilidade financeira global", alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI) num estudo publicado esta terça-feira, no âmbito dos encontros anuais da instituição, em Washington.O FMI refere, concretamente, que há vulnerabilidades graves no sistema financeiro "que podem ser amplificadas pelo crescimento das entidades financeiras não bancárias por causa da sua crescente importância como formadores de mercado, fornecedores de liquidez e intermediários em mercados de crédito privado, imobiliários e de criptomoedas".Segundo o FMI, no novo Global Financial Stability Report, os decisores políticos devem agir o quanto antes para tentar regular este mercado não bancário, que atualmente, no seu conjunto, "detém cerca de metade dos ativos financeiros do mundo".Aliás, os "não-bancos" já estão dentro dos bancos regulados, por assim dizer. Segundo o Fundo, "nos Estados Unidos e na zona euro, muitos bancos têm atualmente exposições não bancárias que excedem os seus rácios de capital de nível 1 (Tier 1) — uma reserva crucial que permite a um banco absorver perdas e manter-se estável em tempos de crise".O FMI tem uma definição para este setor dos não-bancos. "As instituições financeiras não bancárias abrangem tipos de empresas muito diferentes", mas, "de um modo geral, o sector é composto por empresas financeiras que oferecem serviços de crédito, corretagem e investimento, mas estes não aceitam depósitos, nem têm contas no banco central".Isto significa que estas empresas "não estão cobertas pelas redes de segurança como o seguro de depósitos [fundo de garantia de depósitos] e a assistência de liquidez, às quais os bancos têm acesso" nos quadros atuais de regras prudenciais e de regulação sectorial.Se alguma desses não-bancos falha na devolução (reembolso) dos fundos confiados pelos clientes, o dinheiro perde-se. Não há qualquer garantia bancária que o proteja.Tendo em conta que metade dos ativos a nível global estão neste sector que corre paralelamente aos bancos, então o FMI avisa que as autoridades "devem reforçar a supervisão dos intermediários financeiros não bancários, cuja crescente interligação com os bancos pode exacerbar os choques adversos".A instabilidade latente das stablecoins?No novo relatório sobre a estabilidade financeira, o Fundo nota que existem nestes mercados "avaliações esticadas [exageradas] de ativos" e "pressões nos principais mercados de obrigações soberanas", dois fenómenos que "aumentam os riscos para a estabilidade financeira, no meio da crescente incerteza económica".E no universo das criptomoedas, destacam o caso das chamadas "stablecoins", criptomoedas cujo valor está indexado a moedas globais de referência, como o dólar ou o euro, para tentar evitar a volatilidade excessiva que tem caracterizado as outras moedas digitais.Para o FMI, isto é preocupante."Os intermediários financeiros não bancários (IFNB) continuam a crescer e a aprofundar os seus laços com os bancos" e está-se a notar "um papel crescente desses IFNB nos principais mercados de obrigações soberanas e de dívida privada empresarial, incluindo o crédito privado""Os bancos também ficaram mais expostos aos IFNB — tendo aumentado as interligações e as fragilidades em ambos os setores". "Além disso, o crescimento global das stablecoins pode oferecer aos investidores alternativas aos ativos seguros tradicionais e aos depósitos bancários, podendo influenciar os fluxos de capitais transfronteiriços", mas isto são tendências que, avisa o FMI, "levantam o espectro de uma tomada de riscos excessiva, de um aumento da alavancagem e das vulnerabilidades que resultam do desfasamento de maturidades no sistema financeiro". Fundos com maturidades de curto prazo usados para pagar dívida com prazos de reembolso mais longos, por exemplo.Concluindo: para o Fundo, os testes de stress já realizados "mostram que as vulnerabilidades destes intermediários não bancários podem ser rapidamente transmitidas ao sistema bancário principal, amplificando os choques e complicando a gestão de crises".Sendo verdade que "os decisores políticos têm estas entidades não bancárias no radar há algum tempo", o facto é que há cada vez mais empresas e fundos deste tipo ou cujos investimentos são cada vez mais em produtos que escapam à regulação.Além de empresas que vendem crédito na internet, corretoras, negociadores especializados em criptos, o FMI avisa que a exposição a estes mercados não regulados é tão profunda que já se estende a "seguradoras, fundos de pensões e fundos de investimento"..FMI revê crescimento português em alta, mas continua mais conservador que o Governo.FMI: Taxa de juro europeia fica estacionada nos 2% durante os próximos quatro anos.FMI diz que o mundo entrou novamente numa fase de arrefecimento económico