Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI).Foto: EPA / Michael Reynolds

FMI revê crescimento português em alta, mas continua mais conservador que o Governo

Em vez de desacelerar, ritmo da economia deve ganhar alguma força em 2026, chegando a 2,1%, quase duas vezes mais forte do que a média da Zona Euro, indica o FMI.
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O crescimento da economia portuguesa vai ser mais forte em 2026 do que o antecipado há seis meses pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), tendo beneficiado de uma revisão em alta bastante significativa. Assim, em vez de desacelerar, o ritmo da economia deve ganhar alguma força, afinal, estando a crescer quase duas vezes mais do que a média da Zona Euro.

De acordo com o novo estudo sobre o panorama económico mundial (World Economic Outlook), Portugal deve crescer 1,9% este ano (em abril, o FMI previa 2%), mas para compensar esta ligeira revisão em baixa, o Fundo subiu a previsão do próximo ano, de 1,7% para 2,1%.

A instituição sediada em Washington é, em todo o caso, mais conservadora do que o Governo ou o Banco de Portugal na projeção do ano que vem.

A proposta de Orçamento do Estado para 2026, elaborada pelo Ministério das Finanças, assenta no pressuposto de que a economia portuguesa vai crescer 2,3% em termos reais no próximo ano.

O Banco de Portugal disse, na semana passada, que a atividade deve crescer 2,2%.

O FMI não analisa especificamente o caso de Portugal, mas considera que as economias mais abertas e exportadoras, como é a portuguesa, beneficiaram de uma primeira metade do ano mais intensa em exportações porque houve uma corrida contra o tempo por parte de muitas empresas na tentativa de evitar as tarifas muito elevadas que foram sendo decretadas pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos, sobre os bens estrangeiros.

Tal como noticiou o DN/Dinheiro Vivo em julho, a economia da Irlanda disparou no primeiro semestre com as vendas aceleradas para os EUA da sua potente indústria farmacêutica, na altura sob a ameaça de Trump em impor tarifas de 200% ou mais sobre este tipo de produtos.

O novo outlook do FMI mostra que, muito por causa disso, a Irlanda deve crescer uns expressivos 9,1% este ano, mas depois em 2026, o ímpeto esvazia-se e já só cresce 1,3%, menos que Portugal, aliás.

Assim o FMI conclui que "olhando além da aparente resiliência resultante das distorções relacionadas com o comércio em alguns dos dados recebidos e das previsões de crescimento súbitas devido a oscilações bruscas nas políticas comerciais", sobretudo no primeiro semestre deste ano, a perspetiva mais global "aponta para cenários sombrios, tanto a curto como a longo prazo".

Zona euro só deve crescer 1,1%

A Zona Euro deve crescer 1,2% este ano, mais quatro décimas face à previsão de abril (outlook da primavera) e duas décimas melhor face à do outlook intercalar de julho.

Mas, em 2026, a área da moeda única europeia perde gás, devendo crescer apenas 1,1%.

A maior economia europeia, a Alemanha, quase estagna este ano (0,2%), acompanhada de perto por Itália (0,5%) e França (0,7%), mas em 2026, a modéstia continua.

Mesmo com grandes planos de investimento anunciados, sobretudo nas áreas militares, tecnológicas e nas infra-estruturas, a economia alemã crescerá cerca de 0,9% em 2026, França o mesmo, Itália não deve ir além de 0,8%.

Espanha, o maior parceiro económico de Portugal no investimento e no comércio externo, cresce 2,9% este ano, mas no próximo abranda para 2%. Portugal cresce mais, até.

"A elevada incerteza em múltiplas frentes e o aumento das tarifas" são a marca de água das novas previsões do Fundo.

Este refere que "a recuperação do consumo privado, com salários reais mais altos, e a flexibilização orçamental na Alemanha em 2026 [em prol do relançamento do investimento e de grandes projetos], compensam apenas de forma parcial" o panorama fraco e "sombrio" esperado em 2026.

Este ano, o FMI destaca o forte desempenho da Irlanda, superior a 9%. É uma pequena economia, mas o crescimento deste ano será tão alto que acaba por segurar o da Zona Euro como um todo.

Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI).
FMI: Taxa de juro europeia fica estacionada nos 2% durante os próximos quatro anos

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