A taxa de juro principal da Zona Euro, a taxa de depósito definida pelo Banco Central Europeu (BCE), deve ficar nos atuais 2% durante quatro anos e meio, até ao final de 2029, projeta o Fundo Monetário Internacional (FMI), no estudo sobre perspetivas económicas (outlook) divulgado esta terça-feira, a partir de Washington, nos Estados Unidos, onde decorrem os encontros mundiais da instituição e do Banco Mundial.A taxa de referência do BCE (taxa de depósito), o principal indexante que os bancos comerciais usam para depois estipular as taxas finais nos contratos de crédito e nos depósitos (poupanças) de famílias e empresas, baixou para 2% em abril passado, o valor mais baixo desde o final de 2022, ano em que começou a guerra da Ucrânia. O FMI antecipa agora que ficará num planalto até ao final de 2029. São quatro anos e meio no patamar de 2%, assim a inflação do euro se mantenha ancorada em igual valor.Recorde-se que, em setembro de 2023, a taxa do BCE subiu rapidamente até um máximo histórico de 4% para tentar aplacar a inflação (o custo da energia disparou com a guerra, teve meses em que furou mesmo a barreira dos 10%), mas desde então que tem vindo a aliviar, para compensar os efeitos nefastos da subida de preços na atividade económica, na perda de poder de compra no consumo e no custo da dívida que financia os necessários investimentos na economia.Neste novo outlook, o FMI considera que, nesta reta final de 2025, Frankfurt chegou ao desejado ponto de equilíbrio dos 2%, assim não haja mais surpresas na economia internacional que façam disparar ou afundar a inflação. Os "riscos" apontados pelo FMI no cenário de curto e médio prazo são salientes, em todo o caso.No capítulos sobre as projeções da política monetária nas maiores economias do globo, o Fundo, dirigido pela economista búlgara Kristalina Georgieva e cujo economista-chefe é o francês Pierre-Olivier Gourinchas, refere que "os bancos centrais das principais jurisdições [áreas monetárias] devem adotar trajetórias diferentes nas taxas de juro, refletindo diferenças na extensão das pressões inflacionistas"."Nos Estados Unidos, projeta-se que a taxa de juro diretora seja reduzida ao longo de uma trajetória ligeiramente mais antecipada do que o esperado no World Economic Outllok de abril, caindo para 3,5%–3,75% no final de 2025", atingindo, no final da projeção, "2,75%–3%" no término de 2028.Já na Zona Euro, a regência do BCE, "espera-se que as taxas de juro se mantenham estáveis em 2%" até ao quarto trimestre de 2029 (ver gráfico em baixo)."No Japão, prevê-se que as taxas de juro subam gradualmente a médio prazo em direção a uma configuração neutra de cerca de 1,5%, consistente com a manutenção da inflação e das expectativas de inflação ancoradas na meta de 2% do Banco do Japão".O planalto mais prolongado na taxa de juro do BCE já fora antecipado no final de setembro pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), embora numa janela mais curta, até final de 2026, pelo menos.Nesse outlook da OCDE, o último assinado pelo economista-chefe da organização de Paris, Álvaro Santos Pereira, hoje governador do Banco de Portugal, a taxa principal definida em Frankfurt, que, uma vez mais, determina o valor das prestações dos empréstimos a pagar aos bancos e os juros dos depósitos a prazo, ficaria estacionada em 2% até ao final do próximo ano.Depois de manter o custo do dinheiro na mesma, nas reuniões de julho e de setembro, o BCE reúne-se novamente, a 30 de outubro, em Florença, num conselho de governadores especial organizado pelo Banco de Itália. Não se esperam alterações vindas das margens do rio Arno.O FMI e a OCDE argumentam que, apesar de se projetar o tal planalto nos 2% nas taxas de juro que vigoram nos países do euro durante meses, tal não significa que o seu curso esteja garantido a 100%.Há riscos imensos e o BCE terá de manter-se vigilante, dizem as duas instituições (FMI e OCDE). O embate total dos aumentos de tarifas ainda pode fazer descarrilar sectores económicos ou aumentar preços de forma impraticável, por exemplo. O ambiente beligerante global adiciona incerteza ao problema."Volatilidade excessiva do mercado" e das taxas de câmbioSegundo o FMI, no outlook, "globalmente, a política monetária continua a mudar de um registo de restrição agressiva para uma posição mais subtil, tendendo para a flexibilização ou neutralidade"."Em alguns países, onde a postura da política orçamental está a flexibilizar-se, prevê-se que a taxa de juro diretora se mantenha estável, mas a incerteza elevada pode provocar flutuações nas taxas de juro".Além disso, "as preocupações com a volatilidade excessiva do mercado, resultante dos riscos de refinanciamento soberano, são um desafio para os bancos centrais" cujo objetivo é manter a estabilidade financeira e de preços".O Fundo conclui que, a partir de agora, "as posturas da política monetária tendem a tornar-se mais divergentes", o que "poderá levar a oscilações acentuadas das taxas de câmbio".