Variantes genéticas herdadas dos neandertais causam covid-19 mais grave

Na Europa, 16% da população tem aquelas variantes, enquanto no sul da Ásia metade da população é portadora. Já em África quase não existem
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Um estudo europeu publicado nesta quarta-feira na revista Nature identificou um segmento genético no cromossoma 3 que é herdado dos neandertais e que expõe os seus portadores a um risco maior de doença grave por covid-19.

Na Europa, por exemplo, 16% das pessoas são portadoras destas variantes e no sul da Ásia essa percentagem chega a 50% - no Bangladesh, dizem os autores, 63% da população é portadora. Já em África e no leste da Ásia quase não existem estas variantes genéticas nas respetivas populações.

O estudo é da autoria de Hugo Zeberg, do Instituto Karolinska, na Suécia, e de Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia da Evolução.

Este último foi quem publicou em 2010 o genoma completo neardertal, confirmando de uma vez por todas que houve mesmo trocas genéticas entre aqueles seres humanos extintos há cerca de 35 mil anos e o Homo sapiens, a espécie humana moderna.

É justamente essa herança genética milenar que agora se cruza com a pandemia pelo novo coronavírus com efeitos negativos para os seus portadores.

As variantes genéticas no cromossoma 3 herdadas dos neandertais juntam-se assim à lista de outros fatores de ​​risco ​​​​​para a infeção pelo SARS-CoV-2, como a idade, a diabetes, as doenças cardiovasculares, a deficiência de vitamina D ou a obesidade.

Os dois investigadores já tinham avançado esta hipótese em julho, depois de terem analisado um segmento genético do cromossoma 3 em mais de três mil doentes hospitalizados com covid-19, e de o terem comparado com a mesma região do genoma neandertal. Mas na altura não havia nenhuma certeza.

Desde então, Hugo Zeberg e Svante Pääbo aprofundaram o estudo e têm agora novos dados que confirmam a hipótese, mas não avançam nenhuma explicação para esse risco três vezes maior de infeção mais grave de covid-19, devido a variantes genéticas que "foram herdadas dos neandertais há cerca de 50 mil anos", como sublinhou Hugo Zeberg.

Svante Pääbo considera, por seu turno,"notável que a herança genética dos neandertais tenha consequências tão trágicas na atual pandemia" e defende que é preciso "investigar o mais depressa possível" o motivo por que isso acontece.

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