Enredo inexplicável" é como o BE classifica a atitude de desvalor do ministro da Administração Interna em relação a uma auditoria da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) - órgão que fiscaliza a atividade das forças e serviços de segurança - que detetou falhas na formação da GNR e da PSP, principalmente em direitos humanos, problemas na sua organização territorial e nas condições de trabalho, falta de meios e de efetivo..Desde que foram conhecidas as conclusões desta auditoria (designada "Cartografia do Risco"), entregue no gabinete do ministro em março de 2019, que Eduardo Cabrita assumiu uma posição, no mínimo, ziguezagueante..Citaçãocitacao"Primeiro a auditoria estava a ser analisada, depois em apreciação e depois em fase de conclusão. Por fim não existia"."Primeiro a auditoria estava a ser analisada, depois em apreciação e depois em fase de conclusão. Por fim não existia. Entretanto, neste mês, o gabinete do ministro remeteu-nos um documento que diz ser o relatório dessa auditoria, de apenas 22 páginas, por sinal tortas e mal digitalizadas, reconhecendo que afinal ela existe", sublinha a deputada bloquista Sandra Cunha, que nos últimos dois anos tem insistentemente pedido ao governo que faculte o estudo que considera "extremamente relevante para a resolução de problemas que afetam as forças de segurança"..NÃO SUBSTITUIR GNR e PSP. Auditoria revela falhas de formação em direitos humanos.Na audição parlamentar da semana passada, o BE viu a sua oportunidade de, enfim, perguntar a Eduardo Cabrita sobre o estado da execução das medidas propostas desde 2019 nesta auditoria, entre elas a constituição de equipas multidisciplinares para adaptar o policiamento aos diferentes contextos sociais, a criação de projetos-piloto em Lisboa, Porto e Setúbal para iniciar programas específicos e uma revisão do "modelo organizativo da GNR e da PSP, alterando-o, adequando-o à nova realidade territorial". Nada foi feito..Citaçãocitacao"O ministro não explicou, limitando-se a dizer que a IGAI lhe tinha apresentado agora um plano de prevenção de manifestações de discriminação nas forças e nos serviços de segurança"."O ministro não explicou, limitando-se a dizer que a IGAI lhe tinha apresentado agora um plano de prevenção de manifestações de discriminação nas forças e nos serviços de segurança, o qual estava em avaliação política, que prevê também a formação dos polícias", assinala Sandra Cunha, recordando que "as recomendações da auditoria eram muito mais abrangentes"..Na sua não-resposta, Cabrita começou por desvalorizar o trabalho da IGAI, referindo-se ao mesmo como "aquilo a que foi chamado uma grande auditoria", referindo que esta teve "desenvolvimento naquilo que é uma estratégia de intervenção global que está a ser desenvolvida desde julho passado" e lhe foi "apresentada em início deste mês de fevereiro" - o já referido plano de prevenção da discriminação, protagonizado pela atual inspetora-geral, Anabela Cabral Ferreira, que o ministro mostrará ao Parlamento em abril.."Só podemos concluir que ficou na gaveta um trabalho de quatro anos feito com recursos públicos - exatamente quanto foi gasto é o queremos saber - porque as suas conclusões eram incómodas", lamenta a responsável bloquista..Sob orientação da anterior inspetora-geral, Margarida Blasco, atual juíza conselheira do Supremo Tribunal de Justiça, nesta "Cartografia do Risco", que tinha como objetivo mapear todos os pontos críticos na GNR e na PSP, foram analisadas queixas, auditorias, fiscalizações, processos e relatórios de inspeções às instalações e ao funcionamento destas forças de segurança durante quatro anos (2015 a 2018)..Falhas na GNR e na PSP e o misterioso desaparecimento de uma auditoria incómoda.Segundo a própria magistrada sublinhou ao DN, na altura da apresentação desta megarradiografia à GNR e à PSP, "a IGAI foi acumulando no decurso da sua experiência de 20 anos de controlo independente e externo das forças e serviços de segurança tutelados pelo MAI um conhecimento e pensamento profundo sobre a relação cidadão/agente policial"..Tendo isso presente, assinalava Blasco, em 2016, "definiu-se como orientação estratégica para o período 2015-2018, a realização de uma auditoria temática com a designação abrangente de cartografia/geografia do risco, cujo objetivo genérico se cinge à realização de estudos que radiografem a evolução e a transformação do tecido social e que obriguem a um permanente esforço e melhoria na compreensão ética dos fenómenos que impliquem um equilíbrio na relação cidadão/agente policial, credibilizando e legitimando a missão de segurança pública"..DestaquedestaqueO alcance desta "radiografia" global não tinha precedentes, salientava a atual juíza-conselheira: oferecia quer ao poder político quer às forças de segurança e à própria IGAI um "largo espectro" de informações.O alcance desta "radiografia" global não tinha precedentes, salientava a atual juíza conselheira: oferecia quer ao poder político quer às forças de segurança e à própria IGAI um "largo espectro" de informações, desde a "conduta básica dos polícias na sua ação do dia-a-dia até ao mais alto nível da hierarquia..Margarida Blasco acreditava que identificando os riscos "possibilitaria uma intervenção mais rápida para os corrigir"..O DN contactou Margarida Blasco para comentar a reviravolta do processo, mas esta respondeu que "não é ainda o momento"..O gabinete do ministro não respondeu a nenhuma questão do DN.