Encontrado morto gestor do EuroBic de Isabel dos Santos

Diretor da PJ já veio avançar que tudo indica que "não houve intervenção de terceiros", mas foi aberto um inquérito.
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Nuno Ribeiro da Cunha, diretor do private banking do EuroBic e gestor que autorizou a transferência de milhões de dólares da conta da Sonangol para uma empresa detida por Isabel dos Santos, foi encontrado morto na quarta-feira à noite, confirmou ao DN fonte oficial da PSP.

A Polícia Judiciária já abriu um inquérito às circunstâncias da morte do diretor do EuroBic. À margem de uma conferência sobre o caso de pedófilos portugueses que geriam uma rede internacional, o diretor nacional da PJ, Luís Neves, avançou que tudo indica que "não houve intervenção de terceiros" na morte do gestor. Questionado pelos jornalistas se a PJ tinha alguma outra linha de investigação, que não a de suicídio, Luís Neves respondeu que os dados de que a PJ dispõe, não só relativos à noite passada - quando o gestor do EuroBic foi encontrado morto -, como também de outra ocorrência anterior, apontam para que "não haja intervenção de terceiros" nesta morte.

De acordo com nota do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, "no dia 22 de janeiro, pelas 21h30, teve conhecimento de uma situação de cadáver na Rua Padre António de Andrade - Restelo, em Lisboa".

O comunicado acrescenta que "na sequência da chamada do apoio médico ao local, os polícias da PSP encontraram o cidadão Nuno Ribeiro da Cunha, de 45 anos de idade, que alegadamente terá cometido suicídio na garagem, pelo método de enforcamento, confirmando-se o óbito após manobras de reanimação por parte dos meios de socorro".

Segundo a PSP, e tal como a Polícia Judiciária já tinha conformado, o diretor do EuroBic já "teria historial de tentativa de suicídio durante o presente mês".

No passado dia 7 de janeiro, a GNR foi alertada para uma alegada tentativa de suicídio, no interior de uma habitação, em Vila Nova de Milfontes, onde foi encontrado um homem ferido com gravidade.

Por haver suspeita de tentativa de homicídio, a GNR contactou a PJ de Portimão, que esteve no local e está a investigar o caso. Esta quinta-feira, o Ministério Público confirmou à Lusa que o homem era Nuno Ribeiro da Cunha.

O diretor do Eurobic foi constituído arguido esta quarta-feira, juntamente com Isabel dos Santos, num processo em que são também arguidos Sarju Raikundalia, ex-administrador financeiro da Sonangol, Mário Leite da Silva, gestor da empresária e presidente do conselho de administração do Banco de Fomento Angola (BFA) e Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administradora da NOS.

De acordo com o Expresso,que faz parte do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), responsável pela investigação que recebeu o nome Luanda Leaks, foi apenas questão de um dia, entre sair a notícia de que o conselho de administração da Sonangol tinha sido exonerado (e Isabel dos Santos deixar a companhia angolana) e a tomada de posse da nova equipa para que a conta da empresa fosse esvaziada.

Em Lisboa, na conta da Sonangol no Eurobic, banco de que Isabel dos Santos é a maior acionista, havia 57,4 milhões de dólares a 15 de novembro de 2017, quando foi demitida, e no dia seguinte tinha um saldo negativo de 451 mil euros, conta o semanário.

Essa transferência de última hora de 38 milhões de dólares realizada de uma conta do EuroBic para uma conta no Dubai levou à abertura de um inquérito-crime pelo Ministério Público de Angola, por suspeitas de ter sido ordenada já depois de Isabel dos Santos e do seu administrador financeiro Sarju Raikundalia terem sido despedidos por um decreto presidencial de João Lourenço.

No mesmo dia foram realizadas outras duas transferências e que também tiveram como destino a conta bancária no Emirates NBD titulada pela Matter Business Consulting DMCC, uma companhia offshore controlada por Jorge Brito Pereira, advogado de Isabel dos Santos, e gerida pelo seu braço direito, Mário Leite da Silva, que esta quinta-feira se soube que renuncia à presidência do Banco de Fomento de Angola.

Nuno Ribeiro da Cunha, diretor do private banking do EuroBic foi envolvido na execução das transferências. Confrontado pelo ICIJ, não respondeu às perguntas dos jornalistas.

O caso conhecido como Luanda Leaks, que divulgou as transferências de dinheiro de uma conta da Sonangol para uma empresa detida por Isabel dos Santos, foi conhecido no domingo, dia 19, noticiado pelo Expresso e SIC, após uma fuga de 715 mil documentos.

Esta quarta-feira, o Procurador-Geral da República de Angola confirmou que a empresária Isabel dos Santos tinha sido constituída arguida por alegada má gestão e desvio de fundos durante a sua passagem pela petrolífera Sonangol.

Hélder Pitta Grós chegou a Lisboa na quarta-feira à noite e encontra-se esta quinta-feira com a sua homóloga, Lucília Gago. "Vim pedir ajuda de muita coisa", disse quando questionado se veio solicitar a colaboração das autoridades portuguesas na reunião que terá esta tarde com Procuradora-Geral da República. "No âmbito das nossas relações com a Procuradoria Geral [da República portuguesa] viemos aqui para vermos o que faremos este ano", adiantou apenas, em declarações recolhidas pela RTP no aeroporto de Lisboa.

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