Do "show" da dupla Cabral & Borges ao novo "gate" britânico

Dupla portuguesa fez história no Estoril Open, numa semana em que a guerra na Ucrânia continuou a marcar a ordem do dia. No Reino Unido, o "partygate" de Boris Johnson encontrou um sucessor no "beergate" de Keir Starmer. Mas não a tempo de evitar a vitória do Partido Trabalhista nas eleições locais britânicas.
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Sábado, 30 de abril

Mais de três meses depois da hecatombe nas legislativas, o Bloco de Esquerda reuniu à porta fechada, para a IV Conferência Nacional, e discutiu o rumo estratégico a adoptar nesta legislatura de maioria absoluta socialista. A moção global apresentada pela Comissão Política acabou aprovada com 305 votos, enquanto a subscrita por vários elementos do movimento Convergência não foi além dos 43. O resultado deixou exposto que o atual peso da oposição à liderança de Catarina Martins é diminuto, mas, ainda assim, ficou claro que os apelos para a antecipação da Convenção Nacional (reunião magna do partido, só prevista para 2023) não vão cessar. O movimento insiste que a Direção "está em negação" e recusa discutir as razões dos "sucessivos maus resultados eleitorais", consequência de um caminho estratégico que "colocou o BE num colete de forças subordinado ao PS". O resultado eleitoral pode ter sido desastroso - o BE passou de 3.ª para 6.ª força política no parlamento, caindo de 19 para 5 deputados - mas sem um rosto alternativo, capaz de reunir consenso entre as várias tendências do partido, cabe a Catarina Martins emergir como sobrevivente do desastre.

Domingo, 1 de maio

Nasceram no mesmo ano (1997), são amigos de infância, conhecem a forma de jogar um do outro desde os sub-10 e, juntos, entraram na história do ténis português, ao vencerem o Estoril Open na variante de pares. Francisco Cabral e Nuno Borges não hesitaram em classificar o percurso até à final como "a melhor semana" que já viveram, principalmente tendo em conta que chegaram ao torneio ATP através de um convite da organização após alguns bons desempenhos em provas de menor dimensão. Domingo, no Clube de Ténis do Estoril, voltou a ouvir-se o hino nacional para celebrar uma vitória portuguesa, algo que só tinha acontecido por uma vez na mais prestigiada competição nacional de ténis, que se disputa desde 1990, quando João Sousa venceu a final de singulares em 2018. A façanha entusiasmou o Presidente da República, um conhecido fã da modalidade. "Eu acho que eles foram perfeitos. Sabe que é difícil ser-se perfeito, mas hoje foram quase sempre perfeitos. Foi um momento muito bonito para Portugal", destacou Marcelo, acrescentando que não se lembrar de ver "uma dupla portuguesa tão boa em 60 e tal anos de vida".

Segunda-feira, 2 de maio

Com o mundo de olhos postos no processo de retirada de civis de Azovstal, a Rússia centrou atenções em Odessa. A cidade costeira, no Mar Negro, foi alvo de ataques com mísseis, que, já depois de destruírem a pista do aeroporto, visaram o porto e uma ponte estratégica sobre o rio Dniestre (única ligação ferroviária e a principal rodoviária para oeste de Odessa, que permitia o acesso a armas e outras mercadorias vindas da Roménia). Segundo a imprensa internacional, esta investida russa no sul da Ucrânia tem um objetivo muito claro, que passa por estabelecer um corredor terrestre até à região separatista pró-russa da Transnístria, na Moldávia. Mais um sinal de que a guerra parece longe do fim, sendo que João Gomes Cravinho, o MNE português, acredita que a crise militar e política provocada pela Rússia poderá prolongar-se "por dois, três anos". O ataque ao porto de Odessa provocou, pelo menos, a morte de um rapaz de 15 anos, que se junta aos mais de 3150 civis que morreram na Ucrânia desde o início da guerra, a 24 de fevereiro. Um número divulgado pela ONU na segunda-feira e que a organização admite vir a crescer bastante quando houver acesso a cidades ainda cercadas ou palco de combate intenso.

Terça-feira, 3 de maio

O PS anunciou terça-feira que, logo após a discussão do Orçamento, quer voltar a colocar na agenda política a despenalização da morte medicamente assistida e que o seu projeto lei seja votado sem demoras. Já na anterior legislatura, a legislação recolheu forte apoio parlamentar, mas esbarrou, primeiro, no Tribunal Constitucional, na sequência de um pedido de fiscalização do Presidente da República, e, depois, num veto político do próprio Marcelo. Um dos motivos que o Chefe de Estado alegou para justificar o veto foi o facto de o texto do projeto lei falar, alternadamente, em "doença incurável e fatal", "doença grave ou incurável" e "doença grave e incurável", fomentando dúvidas sobre qual dos conceitos se aplicava como condição para recorrer à morte medicamente assistida. No novo projeto lei do PS, os socialistas deixam cair a menção a "doença fatal" e uniformizam a expressão "doença grave e incurável", explicando-a da seguinte forma: "doença que ameaça a vida, em fase avançada e progressiva, incurável e irreversível, que origina sofrimento de grande intensidade". Suficiente para resolver os "equívocos formais" com Marcelo? "Vamos esperar por ela [a nova lei]", limitou-se a dizer o Presidente, que mantém em aberto todas as hipóteses: promulgar, enviar para o TC ou vetar.

Quarta-feira, 4 de maio

Ao 6.º pacote de sanções contra o regime de Vladimir Putin, a Comissão Europeia propôs, no Parlamento Europeu, a proibição de importar petróleo russo até final do ano. Trata-se da medida que mais pode ferir os cofres do Kremlin, que financiam a máquina de guerra na Ucrânia, mas também uma das mais complicadas de se implementar - como reconheceu a própria Ursula von der Leyen - face ao ainda elevado grau de dependência energética de alguns países europeus em relação à Rússia. Entre estes, destacam-se a Eslováquia e a Hungria, que, segundo a Comissão Europeia, teriam um ano suplementar para se libertarem do petróleo russo. Para entrar em vigor, o novo pacote de sanções terá de ser aprovado por unanimidade pelos Estados-membros, mas a Hungria - o país liderado por Viktor Orbán, tido como aliado de Putin, importa da Rússia 60% do seu petróleo e 85% de gás - anunciou no mesmo dia que não iria votar a favor, pelo menos nestes moldes, por considerar que iria "afundar completamente" o abastecimento energético húngaro.

Quinta-feira, 5 de maio

O uso de máscara em transportes coletivos, lares de idosos e unidades de saúde é, agora, a única medida restritiva que o Governo mantém ativa contra a covid-19, ainda que tenha decidido manter o país em estado de alerta (nível mais baixo de resposta a situações de catástrofes), pelo menos, até 31 de maio. A incidência e o número de casos até está a aumentar, há muito menos testagem, mais pessoas que nem sequer reportam os casos suspeitos. Muito provavelmente o de óbitos também irá crescer, num cenário que se deverá manter durante o verão, mas, como frisou o professor Carlos Antunes no DN esse "é o preço que temos de pagar pela liberdade". Nada que justifique o regresso a medidas mais duras, como novos confinamentos, já que não está em causa a resposta dos serviços de saúde à população, longe disso. Quinta-feira, após a reunião de Conselho de Ministros, foi também revelado pela ministra da Saúde, Marta Temido, que está em avaliação a possibilidade de administrar uma quarta dose da vacina contra a covid-19 a quem tem entre 60 e 80 anos (quem tem mais de 80 já sabia iria receber esse reforço antes do outono/inverno). Maio, junho e julho serão meses para vacinar quem ainda não tem qualquer dose de reforço - cerca de um milhão de pessoas, que foram infetadas, já com a variante Ómicron em dezembro, janeiro e fevereiro, conforme noticiou o DN.

Sexta-feira, 6 de maio

As eleições locais britânicas acabaram mesmo por penalizar Boris Johnson e o Partido Conservador. O alcance do sufrágio, como já era esperado, ia além das questões locais. Em avaliação estava, além da resposta da economia ao Brexit, à pandemia e à guerra, o real impacto causado pelo "partygate" (as festas onde se reuniam membros do governo, quando as regras de combate à covid-19 no Reino Unido proibiam ajuntamentos) na imagem do primeiro-ministro. Boris Johnson viu na derrota eleitoral uma "lição": "O que eles [os eleitores] querem que façamos acima de tudo é focar nas grandes questões que lhes interessam". Já o Partido Trabalhista, depois do desastre eleitoral nas legislatvas de 2019 (quando o líder era Jeremy Corbyn), foi o que arrecadou maiores proveitos eleitorais passando a controlar municípios na região de Londres como Westminster, onde se situa Palácio de Buckingham, que estava nas mãos dos conservadores desde a sua criação em 1964. "Este é um grande ponto de viragem para nós. Estamos no caminho certo para as eleições legislativas", exultou o líder trabalhista, Keir Starmer, no mesmo dia em que ficou a saber-se que estava a ser alvo de uma investigação da polícia de Durham por, alegadamente, também ele ter violado as restrições pandémicas em abril de 2021, num caso já apelidado de "beergate"...

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