Os críticos da direção do Bloco de Esquerda (BE) consideraram hoje que a atual liderança do partido "está em negação" e fez "uma fuga em frente" ao recusar um efetivo balanço das derrotas eleitorais, insistindo na antecipação da Convenção Nacional..O BE realizou este sábado, à porta fechada, a IV Conferência Nacional, na qual discutiu o rumo estratégico do partido depois do resultado eleitoral nas últimas legislativas, tendo a proposta global da Comissão Política obtido 305 votos, enquanto a subscrita por vários membros do movimento Convergência conseguido 43 votos e uma terceira nove..Em declarações à agência Lusa, Bruno Candeias, do movimento Convergência, crítico da atual direção do BE, defendeu que o rumo estratégico do partido não se pode alterar numa conferência e apenas numa Convenção Nacional. "Temos expectativa que a convenção possa realizar-se antes do prazo que estaria regulamentado que seria daqui a sensivelmente um ano. A nossa expectativa neste momento é que ela ainda se possa realizar este ano. Vamos bater-nos por isso já na próxima Mesa Nacional", antecipou..De acordo com o dirigente, "ao contrário da direção que acha que uma convenção só serve para alterar protagonistas", o entendimento da Convergência é que uma reunião magna "serve para alterar ou definir o rumo estratégico do partido"..Apesar de afirmar que a conferência de hoje foi um "bom início de caminho e que é onde se inicia esse debate", Bruno Candeias considerou que "há uma negação por parte da direção nacional, e nomeadamente do secretariado, quanto ao porquê de o BE ter chegado aqui, das sucessivas perdas de influência e dos maus resultados eleitorais".."Nós achamos que a direção faz uma fuga em frente porque não quer fazer balanço dos últimos anos em que nós dizemos que há dois pilares fundamentais que orientaram a estratégia da direção, que foi a disputa institucional e a disputa ao centro, que colocou o partido num colete de forças subordinado ao PS e que nos retirou autonomia e força", criticou..De acordo com o membro da Convergência, há "questões que continuam ainda por resolver" como é o caso do "fechamento e estrangulamento democrático dentro do partido" porque "quem pensa diferente tem muitos problemas internamente".."O partido deve começar a olhar menos para a atividade parlamentar como o centro, mas começar a olhar para os movimentos sociais e para o trabalho local como os grandes instrumentos para nós voltarmos a ser uma esquerda alternativa", defendeu..Questionado sobre o discurso, no encerramento da conferência, da coordenadora bloquista, Catarina Martins, quando garantiu que oposição que o BE assume agora "não é meramente declarativa", mas sim de "construção" e que os bloquistas vão ser a "alternativa vermelha e verde, a do trabalho e do clima", Bruno Candeias respondeu que "de boas intenções está o mundo cheio".."Nós já ouvimos muita coisa nos últimos anos, mas nada alterou e, portanto, podemos dizer que vamos para as ruas, que somos uma esquerda grande, mas sem atos concretos e sem uma linha política que determine isso efetivamente, para nós, conta muito pouco", lamentou..No final de março, mais de 100 aderentes do BE já tinham pedido à Comissão Política a antecipação da XIII Convenção Nacional até junho, uma proposta que foi derrotada nessa reunião do órgão do partido.