Desporto
01 maio 2022 às 22h11

De convidados a campeões. A bonita história de Cabral e Borges no Estoril Open

Portugueses venceram a final de pares do torneio e ouviram Marcelo Rebelo de Sousa antever grande futuro mundial à dupla.

O que eles foram arranjar... Nuno Borges e Francisco Cabral venceram, no domingo, o Estoril Open em pares e fizeram história no ténis português, com Marcelo Rebelo de Sousa a assistir, antes de os parabenizar e lhes antever um grande futuro mundial como dupla. Os amigos de longa data, que se conhecem desde os sub-10, terminaram "a melhor semana" da vida deles a ouvir o hino nacional, pela voz de Kátia Guerreiro, enquanto recebiam o troféu sem sucumbir à emoção.

"Estava estupefacto com o que estava a acontecer. Cantarem-nos o hino nacional, troféu na mão, olhar à volta e ver o estádio cheio, a minha família, os meus amigos. Foi tudo um bocadinho pesado, essa é a palavra certa", confessou Francisco Cabral, depois de o amigo dizer que ainda estavam "a absorver" o momento. "Sem dúvida que é o pináculo do ténis português poder ganhar aqui. É difícil dizer mais, significa muito para nós os dois poder ganhar aqui no Estoril, à frente do público", reconheceu Nuno Borges, que foi também o melhor português em singulares, tendo chegado à segunda ronda.

São a terceira dupla 100% portuguesa a vencer um torneio ATP. Nasceram ambos em 1997 - Nuno em Maia e Francisco no Porto -, ano em que João Cunha e Silva e Nuno Marques venceram o torneio de Casablanca, já depois de Emanuel Couto e Bernardo Mota terem sido os primeiros a lograr vencer um torneio, em pares, em Maia (1996). Há 25 anos (a idade de ambos) que nenhuma dupla portuguesa erguia um troféu desta dimensão. Vão receber 81 mil euros por isso.

Entraram no evento como wild card. Tinham ganho oito títulos challengers nos últimos 12 meses - dois deles já este ano - e viram a organização premiar esse desempenho em torneios de menor dimensão com um convite para o Estoril Open. Eles não se fizeram rogados e aproveitaram cada segundo no court, totalizando 30 triunfos nas últimas 31 partidas.

Começaram por vencer a dupla Van Dodig/Austin Krajicek (6-4, 3-6 e 10-5), depois eliminaram Nathaniel Lammons/Tommy Paul (6-3, 7-6 e 10-6) e Jamie Murray/Michael Venus (6-2 e 6-4). Na final, Borges (era 127.º lugar no ranking mundial de pares antes do torneio e vai subir a 99.º) e Cabral (vai subir de 106.º para 80.º) demoraram uma hora e três minutos a vencer Máximo González (32.º) e André Göransson (71.º), em dois sets, pelos parciais de 6-2 e 6-3.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, Nuno Borges e Francisco Cabral foram "perfeitos" e proporcionaram um momento "muito bonito para Portugal". O Presidente da República era esperado no Clube de Ténis do Estoril para ver a final de pares, mas à hora marcada para a final o lugar na Tribuna VIP estava por ocupar. Como já é habitual, Marcelo comprou bilhete e foi para o meio do público nas bancadas, até ser descoberto, para alívio da organização e das forças de segurança.

No final disse estar "muito" orgulhoso da dupla nortenha: "Partindo do zero, chegar à vitória, da forma tão clara como chegaram... foram vitórias e vitórias claras, não foi por uma unha negra. Não foi numa terceira partida. É raríssimo acontecer isto. Se continuarem a jogar juntos, podem ter um grande futuro a nível mundial."

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Ainda antes de visitar Borges e Cabral, Marcelo Rebelo de Sousa disse esperar "encontrá-los mais vestidos do que o João Sousa", a quem em 2018 encontrou de toalha "à saída do banho" e desejou que continuassem a jogar sempre em pares, "porque podem ir longíssimo" e "ser dos melhores pares do mundo". Palavras que repetiu aos próprios à entrada dos balneários: "Vocês podem ser os melhores do mundo, têm todas as condições. Têm condições para ser top do mundo, porque se complementam muito bem. Têm uma intuição fabulosa para pares. São espetaculares. É um orgulho para Portugal."

O Presidente comparou-os ainda com os australianos Todd Woodbridge e Mark Woodforde, que dominaram a vertente de pares durante a década de 90, conquistando 61 títulos, 11 dos quais do Grand Slam. Eles não sabiam quem eram... afinal isso foi antes deles nascerem. Mas, "se eram bons, podemos considerar um grande elogio e esperamos estar à altura", atirou Francisco Cabral.

Why not me? (Porque não eu?), questionou Sebastián Báez, depois de eliminar João Sousa na primeira ronda, revelando assim o desejo de vencer o Estoril Open... o que aconteceu ontem ao bater o mais credenciado e favorito do público, Frances Tiafoe (6-3 e 6-2), que tem uma pulseira com o mesmo mantra inspirador do jovem argentino de 21 anos.

O atual 59.º do ranking ATP conquistou assim o seu primeiro título ATP. Até chegar à final e ser coroado como novo campeão, Baéz eliminou três campeões (João Sousa, 2018; Richard Gasquet, 2015, e Albert Ramos-Viñolas, 2002), além de Marin Cilic (campeão do US Open 2014).

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A fechar o evento, o diretor do torneio fez o balanço do Millennium Estoril Open, que levou 34 589 pessoas ao Clube de Ténis do Estoril nos nove dias do evento - 3396 deles a ver as finais de ontem - depois de dois anos sem público (em 2020 não houve torneio e em 2021 foi à porta fechada). Para o ano há mais e um tenista (para além de João Sousa) convidado de antemão: Carlos Alcaraz, a nova coqueluche do ténis espanhol, de 18 anos, que este ano venceu em Miami e Barcelona.

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isaura.almeida@dn.pt