A ex-diretora nacional do SEF, Cristina Gatões, demitida a 9 de dezembro passado, seis dias antes da audição no Parlamento onde iria responder sobre a sua atuação no caso do homicídio de Ihor Homeniuk, foi chamada pelo seu sucessor no cargo, tenente-general Botelho Miguel, para o assessorar e para integrar um grupo de trabalho que vai reestruturar os vistos gold..Num despacho interno de 28 de janeiro, a que o DN teve acesso, o ex-comandante-geral da GNR - que o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, escolheu para liderar a reestruturação do SEF - nomeia Cristina Gatões para integrar um grupo de trabalho que "vai analisar soluções que assegurem maior eficácia e eficiência no âmbito da permanência em Portugal dos titulares de residência para atividade de investimento"..Diretora do SEF soube logo das suspeitas de crime na morte de Ihor.Gatões, apresentada no documento como "assessoria da Direção Nacional", é a única inspetora, sendo esta equipa constituída por mais duas técnicas superiores, uma delas a coordenar. A justificar a criação deste grupo de trabalho estão, entre outros objetivos, "garantir os agendamentos a todos os cidadãos estrangeiros" e "alargar as medidas excecionais para todas as situações de pendências"..O DN questionou o SEF sobre a escolha da ex-diretora nacional, mas não recebeu resposta. A 15 de dezembro passado, numa audição no Parlamento na comissão de Assuntos Constitucionais, Eduardo Cabrita tinha justificado a demissão de Gatões por não ter "condições para liderar o SEF no quadro da reestruturação profunda que será desenvolvida neste organismo"..Cabrita subscreveu ainda a opinião do deputado do PCP António Filipe, segundo o qual a entrevista que Cristina Gatões tinha dado à RTP, a 15 de novembro (sendo filmada na sala onde Ihor morreu, admitindo que este tinha sido vítima de tortura), tinha sido "lastimável"..Cristina Gatões, que antes da dita entrevista chegou a estar em vias de ser nomeada oficial de ligação em Londres, nunca chegou a explicar toda a sua atuação desde que soube da morte de Ihor Homeniuk, ou sequer como e por quem soube. Várias dúvidas - sobre as quais o DN questionou repetidamente o SEF - nunca foram esclarecidas..O que a diretora do SEF ainda não explicou.É o caso da inspeção interna do SEF, que Gatões disse ao ministro ter instaurado e que, além de não ter encontrado nada de suspeito na morte de Ihor Homeniuk, dela não teve qualquer informação a Inspeção-Geral da Administração Interna..Outra dúvida é porque é que, conforme o DN noticiou, sabendo, pelo menos, desde 19 de março (sete dias depois do crime) que havia suspeita de homicídio, nada fez. Outra ação que nunca explicou foi o porquê de o SEF só ter informado a IGAI seis dias depois de a morte ter ocorrido, se a lei obriga à comunicação "imediata"..Foi nessa mesma audição que Eduardo Cabrita garantiu aos deputados que a "concretização da reforma do SEF" teria "já no início de janeiro o seu primeiro documento de natureza legislativa a aprovar pelo governo e que tem como período de execução os próximos seis meses"..Frisando que esta reestruturação nada tinha a ver com o homicídio de Ihor, pois estava no programa de governo, Cabrita adiantou que essa reforma passaria pela redefinição das funções policiais e administrativas do SEF..No entanto, nenhuma proposta de lei veio até agora a público. O DN tentou saber o ponto de situação junto ao gabinete de Eduardo Cabrita, mas não obteve qualquer resposta..A única informação sobre este processo, noticiada pelo DN, foi a apresentação, sob reserva, de um plano de extinção do SEF, em PowerPoint, no Conselho Superior de Segurança Interna (CSSI) no dia 14 de janeiro, presidido pelo primeiro-ministro, António Costa..Está feito o plano para extinguir o SEF. Investigação criminal passa toda para a PJ.O ministro da Administração Interna informou os chefes das polícias de que seria criado um novo organismo, designado Serviço de Estrangeiros e Asilo, na esfera do Ministério da Administração Interna, que herdaria todo o processamento dos pedidos de asilo e de nacionalidade, os pareceres sobre os vistos consulares e as autorizações de residência. A renovação dos vistos de residência ficaria, segundo este plano, a cargo do Instituto e Registos e Notariado, na tutela do Ministério da Justiça..Nas funções policiais, a investigação criminal ficaria toda a cargo da Polícia Judiciária; a PSP ficaria responsável pelas fronteiras portuárias e aeroportuárias e pela expulsão de estrangeiros, em situação ilegal ou com condenações judiciais, do território nacional; a GNR teria como novas atribuições o controlo das fronteiras terrestres e marítimas, bem como a participação nas operações conjuntas com Espanha.