André Villas-Boas. Da cadeira de sonho à promessa de sucessão na cadeira do poder
"Amor sem fim" desde os 3 anos. Sócio desde 1980, o treinador André VIllas-Boas (ABV) é também assumidamente adepto do FC Porto. Nunca o escondeu e nos últimos tempos até o tem exacerbado, talvez por estar de olho no lugar de Pinto da Costa. Estratega por natureza - foi a pensar a longo prazo que se deu bem com Robson, Mourinho e Pinto da Costa - o agora técnico do Marselha aponta à presidência "do clube do coração" em 2024.
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Nesta noite, o Marselha joga no Dragão (20.00, Eleven e TVI), na terceira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. Após o desaire com o City a abrir, o FC Porto bateu em casa o Olympiacos, enquanto o Marselha ainda não pontuou e segue sem golos marcados. "Não quero beliscar a grandeza do Marselha... este é o clube do meu coração, a minha cidade. Em primeiro lugar, a típica neblina do Porto que nos torna persistentes e duros e que mostra o que é viver nesta fortaleza. Bem recebido por esse nevoeiro, pela cidade, pelo clube, mas com uma missão particular, com um compromisso que tenho com o Marselha, e tentar ganhar e honrar a história do Marselha também", confessou o treinador português nesta segunda-feira, na antevisão do jogo com os dragões.
E se os franceses marcarem um golo? Vai festejar? "Não me iria sentir bem a festejar efusivamente. Obviamente que uma pessoa não está no controlo total das suas emoções, mas não. Há uma coisa que não se pode esquecer: isto será sempre quase como um jogo entre um pai e um filho, na minha ótica de ver. E nunca se quer o mal de um pai, nem de um filho", respondeu Villas-Boas.
Há um mês, quando soube do caprichoso sorteio que se atreveu a colocá-lo na condição de adversário do seu Porto, admitiu que não ia ser um encontro fácil. "Vou voltar à minha cidade e ao meu clube do coração e vai ser difícil para mim pessoalmente, mas estamos entre as equipas de elite, habituadas a ganhar troféus, e é um prazer jogar a fase de grupos contra eles e os seus grandes treinadores Sérgio Conceição, Pedro Martins e Pep Guardiola", acrescentou André Villas-Boas na sua conta do Instagram.
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As declarações de amor aos dragões também se medem pelas afrontas ao Benfica. Em setembro, disse compreender que os adeptos do Marselha tenham festejado a derrota do PSG na final da Liga dos Campeões, ganha pelo Bayern Munique, no passado mês de agosto, em Lisboa. A explicação meteu o Benfica ao barulho: "Compreendo os adeptos do Marselha. Se o Benfica disputar uma final, eu também quero vê-los perder! Se ganharem fico lixado. Isso depende de cada um. Mas é melhor do que ser hipócrita."
Bisneto do primeiro visconde de Guilhomil, André Villas-Boas nasceu a 17 de outubro de 1977 e entrou no clube pela mão de Bobby Robson, quando tinha 16 anos. O malogrado técnico do FC Porto morava no mesmo prédio que ele e o jovem André, "o doidinho pela estatística", não se coibiu de lhe explicar como podia tirar mais rendimento do seu ídolo, Domingos Paciência. De tanto "chatear" Sir Bobby Robson, um dia o técnico disse-lhe para aparecer nas Antas (antigo Estádio do Dragão) e levar o famoso caderno com as táticas e as estatísticas. Ele faltou às aulas e foi ao encontro do destino."Estava em êxtase por estar na presença do treinador do Porto. Eu era um adepto ferrenho do Porto. E ter a oportunidade de conviver com um treinador de futebol do meu clube de coração, ver os jogadores profissionais, entrar no seu ambiente... Era algo a que uma pessoa simplesmente não tinha acesso", confessou numa entrevista recente ao Expresso.
A vida levou-o a fazer um caminho próprio, com um sonho/objetivo em mente: ser treinador do FC Porto, algo que aconteceu a 2 de junho de 2010. Prometeu honrar a história de um "clube habituado a vencer desde 1983" e não demorou até a glória tomar de assalto o currículo do jovem treinador. Tinha 32 anos. Dava os primeiros passos depois de se separar de José Mourinho e conseguiu uma das melhores épocas dos 127 anos de história portista. Venceu a Liga Europa, o campeonato (com recorde de pontos e sem derrotas a cinco jornadas do fim) e venceu a Taça de Portugal. Triunfos que lhe valeram o Dragão de Ouro. Ele agradeceu assim. "O portista vive, subsiste, é eterno; o portista sente, sofre, luta; o portista quer, pede e exige; o portista junta, acumula e ganha; numa simbiose perfeita com a personalidade de cada um o portista é educado, aprende, é formado e torna-se melhor. Como pessoa, como homem e como mulher."
Durante esse ano, a seleção nacional passou por momentos conturbados. Após a saída polémica de Carlos Queiroz falou-se de José Mourinho, então no Real Madrid, para o cargo como solução de recurso até ser encontrado um novo selecionador (seria Paulo Bento). Questionado sobre o que faria se estivesse no papel do special one, André respondeu assim: "Estou sentado na minha cadeira de sonho e não abdico dela por nada." A expressão ganhou asas e ainda hoje, passada uma década, é usado como sinónimo de amor ao FC Porto.
O sucesso colocou-o na rota mundial de treinadores. Ele deixara de ser o adjunto de Mourinho para ser André Villas-Boas. Confrontado com uma possível saída do Dragão, voltou a dizer que estava onde sempre quis estar: "Ambicionei esta posição de uma forma louca, cega. É o clube que defendo, onde cresci. Qualquer adepto de qualquer clube sabe o que sente pelo seu emblema. Eu faço-o com o mesmo fervor. Esta é a posição máxima que ambicionei."
Logo depois o Chelsea pagou 15 milhões de euros pela rescisão do técnico e ele largou a cadeira de sonho a uma semana de a nova época começar. A atitude enfureceu alguns adeptos, mas nada que as declarações posteriores de portismo não tenham amenizado.
Em setembro de 2019 surpreendeu ao admitir querer o lugar de Pinto da Costa: "Pensei, desde sempre, em ter uma curta carreira de treinador. De 15 anos até aos 45. Alimento outras ambições no mundo de futebol, também ao nível de gestão. Tenho a enorme ideia de voltar ao FC Porto e o pequeno sonho de ser presidente do meu clube." Contas que batem certo com as próximas eleições no clube azul e branco. Villas-Boas tem 41 anos e viu o presidente portista ser reeleito para mais um mandato de quatro anos e reafirmar as sua intenções: "As próximas eleições do FC Porto são em 2024. Penso que me poderei apresentar. Quero experimentar, sempre tive essa ideia."
E não se pense que as juras de amor são coisa do passado. Neste verão, depois da conquista do campeonato, o técnico do Marselha congratulou a equipa, o presidente e o treinador. "Parabéns FC Porto. Parabéns Presidente. Parabéns Sérgio Conceição. Parabéns a todos os jogadores. Brilhantes, inexcedíveis que com brio venceram e ultrapassaram muitas dificuldades. Parabéns a todos os elementos do staff técnico, médico e logístico. Viva a família portista! Viva o FC Porto", escreveu AVB no Instagram, sem esquecer os adeptos portistas que perderam a vida devido à pandemia: "Em memória dos portistas que perderam a vida nesta terrível pandemia, este campeonato é vosso. Que o vosso ardor azul e branco perdure para sempre."
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