O presidente Vladimir Putin foi forçado a intervir pessoalmente esta segunda-feira na epidemia que varre a região do Daguestão no norte do Cáucaso, na Rússia, quando as autoridades locais descrevem a situação do novo coronavírus como uma "catástrofe"..Há vários dias, existem rumores de fatalidades crescentes e de hospitais sobrecarregados na região montanhosa de maioria muçulmana e as equipas médicas locais recorrem às redes sociais para fazer apelos inquietantes..O principal clérigo do Daguestão, Mufti Akhmad Abdulayev, descreveu a situação como terrível e pediu ajuda ao Kremlin.."O nível da catástrofe está a forçar-nos a apelar a si", disse a Putin via ligação de vídeo esta segunda-feira. "Por favor, traga a sua atenção para o Daguestão.".O ministro da saúde da região, Dzhamaludin Gadzhiibragimov, disse que 657 pessoas morreram de pneumonia na região, incluindo 40 médicos..De acordo com o registo oficial de coronavírus da Rússia, apenas 29 mortes de covid-19 foram registadas na região de 2,9 milhões de pessoas até segunda-feira..Críticos acusaram as autoridades russas de subestimar a crise e manipular os números, atribuindo mortes por coronavírus à chamada pneumonia adquirida na comunidade e a outras condições médicas..Os médicos disseram à AFP que enfrentam escassez de equipamentos e de meios de proteção, e o clérigo Abdulayev disse que muitas pessoas com a infeção morrem em casa e são enterradas em funerais tradicionais em massa.."São enterrados de acordo com a tradição e ninguém os conta", disse Abdulayev..Putin prometeu enviar ajuda ao Daguestão e pediu aos residentes que não reunissem para a celebração do Eid que marca o fim do Ramadão no fim de semana.."Medidas urgentes"."A situação na República do Daguestão é complicada e, é claro, exige medidas adicionais e urgentes", disse Putin durante a videoconferência..Os médicos disseram à AFP que ficaram impressionados com o número de doentes, enquanto a falta de material e medicamentos leva as pessoas da região a sentirem-se abandonadas..A médica de emergência, Sakinat Magomedova, que trabalha na cidade de Kizilyurt, disse que houve tantas hospitalizações por pneumonia em abril que "às vezes não tivemos tempo de desinfetar a ambulância" entre as ligações..A profissional de 45 anos acabou por adoecer em 26 de abril e foi diagnosticada com pneumonia. "Não conseguia respirar", disse. "Realmente pensei que ia morrer.".Apesar de exibir sintomas comuns de covid-19, a médica disse que nunca foi submetida a uma zaragatoa por coronavírus porque não havia testes na sua cidade.."As pessoas foram abandonadas", critica..Outro médico, Murad, que não quis dar o apelido, disse que usa a mesma máscara há um mês, que lava em cloro após cada turno.."Há um número enorme de pacientes. Nunca vi isto antes", disse à AFP.."Falta de preparação".O governador do Daguestão, Vladimir Vasiliev, defendeu esta segunda-feira as estatísticas oficiais de coronavírus da região, mas prometeu "esclarecer" o número de mortes entre os médicos da região..O canal estatal Rossiya 24 informou que as estatísticas do Daguestão podem estar distorcidas porque "apenas três por cento das famílias dão consentimento para autópsias"..A Rússia regista as mortes no registo nacional de coronavírus somente após uma autópsia confirmar que a infeção foi a principal causa de morte.."Estávamos diante de total falta de preparação pelo sistema de saúde", disse Ziautdin Uvaisov, que trabalha numa organização de assistência regional chamada Patient's Monitor..Aponta que a região não se moveu rápido para garantir testes suficientes ou para informar a população sobre medidas de contenção, acrescentando que os habitantes locais podem ter menos probabilidade de seguir as ordens..A tradição no Cáucaso determina grandes reuniões para casamentos e funerais, e as pessoas podem ter relutância em abandonar os costumes, apesar das regras.."A população suspeita muito das autoridades e das instruções oficiais", afirmou.