Restaurante na Foz completa 30 anos.
Restaurante na Foz completa 30 anos.Divulgação.

30 anos de Cafeína: um clássico que será sempre um clássico

Entre memórias, renovação e pratos que não saem de moda, o restaurante de Vasco Mourão celebra três décadas a manter-se atual sem trair a essência.
Publicado a
Atualizado a

Vasco Mourão, 57, senta-se numa mesa com jornalistas para degustar os pratos servidos no restaurante Cafeína, no Porto, e dos quais tanto se orgulha, com a confiança de quem veio de longe. Afinal, não é para qualquer um manter um restaurante que resiste às mudanças, e especialmente aos longos anos - já lá vão 30 - sempre de casa cheia numa das zonas mais nobres da cidade.

Fundado em 1995, o Cafeína tornou-se, para muitos, um verdadeiro porto de abrigo e uma referência da gastronomia e do lado mais cosmopolita da Foz do Douro. “Era um negócio que precisava funcionar no inverno, quando a Praia da Luz e os bares da Baixa, que eu já tinha, não enchiam tanto”, recorda Vasco, explicando que a escolha do espaço - no coração da freguesia de Nevogilde - foi tão estratégica quanto emocional. “É aqui que está a igreja, a padaria, a farmácia… é o centro de tudo”, resume.

Vasco Mourão.
Vasco Mourão.Divulgação

Inicialmente pensado como bar e restaurante - daí o nome “Cafeína”, mais associado à noite -, o espaço acabou por afirmar-se desde cedo como restaurante de cozinha sóbria, com ambiente elegante e uma clientela ampla, dos 7 aos 77 anos. Vasco admite: “O restaurante tem muito a ver comigo. Sempre fui tentando que se mantivesse sóbrio, masculino até, mas sem deixar de se renovar para captar gerações mais novas”.

Renovar sem que pareça mudar demais é, aliás, uma das chaves do sucesso. Depois de longas obras durante a pandemia, a casa reabriu com novas salas privadas no piso superior, pormenores arquitetónicos atualizados e, ainda assim, a mesma essência. “Houve clientes que nem se aperceberam das mudanças. E era isso que eu queria”, explica Vasco. Até o chão histórico do salão principal foi reposto com fidelidade ao original, após décadas de desgaste. “Tive medo que as pessoas estranhassem. Mas não estranharam”.

A má acústica - ironicamente - também se tornou marca registrada. “Um cliente arquiteto disse-me uma vez: o segredo da casa é a má acústica, dá um barulho de fundo que faz companhia a quem vem sozinho”, conta, divertido Vasco, que vê o ambiente quase tão importante quanto a comida. “Se o ambiente não encaixa, nem a melhor comida do mundo salva”.

O balcão do Cafeína.
O balcão do Cafeína.Divulgação

Ao longo destas três décadas, o Cafeína soube manter-se atualizando cartas, mas sempre fiel ao compromisso de uma cozinha de autoria, de base francesa e portuguesa, com influências contemporâneas - a chamada bistronomie. Ao contrário de muitos restaurantes, o Cafeína tenta não agarrar tudo e todos, ou seja, preza por uma carta não muito extensa, o que, hoje em dia é uma raridade. A carta é assinada pelo chileno Camilo Jaña.

O chef Camilo Jaña.
O chef Camilo Jaña.Divulgação

Depois do couvert, com Pão de Farinha em Mó de Pedra, Manteiga, Manteiga de Cabra e Patê de Aves Trufado (3,80€) e as Gourmandises, Presunto de Porco Ibérico Queijo da Ilha e Mel de Flores (22,40€). Salmão Fumado Fait Maison Alcaparras, Crème Fraîche, Ovo, Endro, Pickles e Tostas (16,20€), o tira-gosto favorito de Mourão tem sido o Tártaro de Atum dos Açores Gaspacho de Tomate e Salicórnia 14,50 €: “este não está aqui há trinta anos”, brinca.

Nos pratos principais, o mais acarinhado pelo empresário é o Beef Wellington, Folhado de Bife do Lombo, Duxelle de Cogumelos e Foie Gras com Cebolinhas Assadas e Esparregado (28,00€), mas quem brilha mesmo são os que vem do mar: o Lombinho de Bacalhau Confitado, Gratinado de Farrapo Velho e Cebolinhas Assadas (24,60€) e o Robalo Assado com Arroz de Bivalves e Algas (28,50€). Este segundo, também mais recente se considerarmos as três décadas, é uma das principais pedidas para o almoço ou jantar no Cafeína.

Robalo Assado com Arroz de Bivalves e Algas.
Robalo Assado com Arroz de Bivalves e Algas.Divulgação

Nas sobremesas, entre outras opções como o Bolo de Chocolate do Cafeína com Creme Inglês e Gelado de Nata (8,00€) quem reina é justo aquele que, com o passar dos anos, não envelhece ou fica fora da moda. O Crepe Queimado “O Clássico do Cafeína” com Crème Anglaise e Frutos Vermelhos (7,80€), é a pedida que não dá errado, fazendo com que a viagem gastronômica no Cafeína seja quase como matar saudades de uma sobremesa em Paris ou Buenos Aires - lembra a panqueca de dulce de leche típica dos porteños. É o tipo de sobremesa que faz um gastrónomo querer dirigir-se a determinado local - coisa rara.

Se o Cafeína tivesse um jargão de alcunha seria o que intitula este texto. Embora clichê, essa é a melhor maneira de se descrever a história e o que apresenta o respeitado restaurante da Foz. Ou seja, um clássico será sempre um clássico.

Restaurante na Foz completa 30 anos.
Bonança traz novo sopro de vida ao verão nas Docas de Belém
Restaurante na Foz completa 30 anos.
Luxo, cozinha de fusão e mar sem fim no Sesimbra Oceanfront Hotel

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt