Bonança traz novo sopro de vida ao verão nas Docas de Belém
O edifício não é uma novidade - muito pelo contrário - mas o conceito apresentado por ali promete dar que falar nas tardes e noites deste verão. Em plena Associação Naval, a mais antiga do país, fundada em 1856, o recém-inaugurado restaurante Bonança quer afirmar-se na zona ocidental da cidade. Aposta numa combinação entre clássicos da cozinha portuguesa, especialmente vindos do mar, alguns toques contemporâneos e um ambiente sofisticado que mistura história e arte.
Aberto desde março, o Bonança junta gastronomia e programação cultural num mesmo endereço. Os sócios - Salvador Sobral, Diogo Sousa Coutinho e Filipe Farinha Santos - veem o projeto como mais do que um restaurante: também como um contributo para reabilitar e dinamizar àquela parte da zona das Docas, outrora mais “largada”, levando algum do luxo informal do centro de Lisboa até Belém.
O nome remete à calma que se segue às tormentas e é uma homenagem à ligação de Portugal ao mar. Essa narrativa marítima, aliás, está bem presente no espaço, logo à entrada, com um mural de grandes dimensões que foi recuperado pelas artistas Pureza Peres e Anaísa Franco. A obra retrata a embaixada enviada por D. Manuel I ao Papa Leão X, em 1514, com a icónica chegada de um elefante a Roma, símbolo das aventuras portuguesas no Índico.
A decoração ficou a cargo do estúdio Oani, que manteve a alma do edifício da Associação Naval, ao mesmo tempo que deu conforto e um ar mais contemporâneo. No interior, há várias salas com ambientes distintos, incluindo a Sala Vasco da Gama, no piso superior, pensada para eventos privados. Já do lado de fora, a esplanada, voltada para o Tejo, é naturalmente a mais disputada, sobretudo ao pôr-do-sol nestes dias que correm, cada vez mais longos.
Às sextas e sábados, a casa se transforma para além de um restaurante: a programação prolonga-se noite dentro com DJs e música ao vivo, transformando o espaço num clube aberto até às três da manhã. A curadoria artística está a cargo de Pedro Costa, com uma seleção de sons do mundo e performances para dar mais vida à zona ribeirinha. História, ambiente, cultura… mas e a comida, também faz jus ao nome? Ora, vamos à ela.
Entradas modernas, pratos clássicos
À mesa, a carta criada pelo chef Carlos Nunes respeita a tradição, sem se limitar ao óbvio e pratos já conceituados dos restaurantes vizinhos. Com passagens pelo Bon Bon, Fifty Seconds e outros projetos em Lisboa e Cascais, Nunes trouxe para Belém uma cozinha portuguesa com influências árabes, africanas e orientais, destacando o uso do fogo e da lenha como base.
O couvert é simples e cumpre o papel para ir distraindo: pão, brioche, manteiga noisette e azeitonas marinadas (5€ por pessoa). Nas entradas, brilham as tais opções mais ousadas e fora do óbvio, como o tártaro de atum com ponzu, maçã verde e wasabi (21€) ou o carpaccio de camarão vermelho com ovas de truta e yuzu kosho (25€) - campeão com folgas nos starters.
A burrata com vinagrete de romã e pistacho (13€) também segue o nível das outras entradas. Para os que preferem algo mais clássico, as amêijoas à bulhão pato (25€) e as gambas à guilho (24€) são outras que não decepcionam.
Nos principais, os arrozes malandros são os grandes protagonistas. O de lingueirão (25€) é mais leve e um dos preferidos dos clientes na ainda curta vida do Bonança, enquanto o de carabineiro com limão (34€) é mais marcante e serve confortavelmente duas pessoas. Há também opções de carne, como o arroz de pato com chouriço (48€, também para dois), o entrecôte grelhado com batatas fritas (34€) ou um chuletón de vaca, com preço sob consulta.
Para sobremesa, a casa sugere o pão de ló com azeite, flor de sal e gelado de laranja (12€, para dois), o chocolate negro com gelado de avelã e cacau (9€) ou um crème brûlée de baunilha com frutos vermelhos (7,5€). A carta de vinhos, assinada por Fernando Cortes, apresenta tanto escolhas portuguesas e internacionais, e os cocktails, criados por Filipe Ventura - com ou sem álcool - seguem a mesma linha narrativa das viagens marítimas.
No fim, um café com digestivo é a pedida para admirar o Tejo, a hora ou tempo em que estiver. Só não às segundas e terças-feiras, quando encontra-se encerrado. Nos outros dias, funciona do meio-dia às 15h e das 19h às 22h.
nuno.tibirica@dn.pt