Exército afasta sargento e coloca recruta sob proteção especial
O processo urgente de averiguações instaurado pela ministra da Defesa Nacional (MDN) na passada sexta-feira, em reação à notícia do DN sobre a violência física e verbal praticada contra uma recruta do Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME) do Exército, já fez rolar a primeira cabeça.
Trata-se do sargento instrutor do pelotão de formação em que está integrada "Catarina" (nome fictício), a soldado que denunciou as práticas violentas.
Este sargento terá atingido Catarina com uma pedrada o rosto, junto ao olho, obrigado a recruta a fazer intenso exercício físico à chuva, apesar de estar com baixa médica e medicada por Covid-19 e rabdomiólise (uma doença que destrói as fibras musculares e pode ser causada por excesso de atividade muscular, normalmente associada à intensidade do esforço físico), com febre, além de não a proteger das agressões de que foi vítima.
Além deste militar, estão ainda a ser investigadas as denúncias contra outro sargento, uma oficial - que terão instigado as agressões - e uma outra recruta que foi a autora material das mesmas. Catarina apresentou vídeos e fotografias que sustentam a sua versão, a que o DN teve acesso.
"O afastamento do militar das atividades de formação constituiu uma medida cautelar, em face dos factos que estão a ser apurados em sede do Processo de Averiguações em curso, instaurado na passada 6.ª feira", confirmou ao DN o porta-voz do Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME), General Nunes da Fonseca.
Recorde-se que, numa primeira fase, o Exército dizia ter apurado que tudo não tinha passado de "um desentendimento entre duas militares em formação no RAME, com alegadas agressões físicas e verbais, ocorrido entre os dias 28 e 29 de novembro".
Acrescentava a mesma fonte oficial que tinham sido instaurados três processos disciplinares com acusação contra a soldado agressora (a qual, entretanto, chumbou no curso e foi excluída a 15 de dezembro); à própria Catarina (acusada por esta, pela aspirante e pelo sargento de os ter ameaçado e agredido); e a uma oficial, comandante de pelotão da alegada agressora de Catarina, mas que o Exército dizia não estar "diretamente relacionado com o episódio de agressões em causa".
Num vídeo vê-se a soldado. observada por outra militar, a atirar baldes de água suja para cima de Catarina, que tem as mãos amarradas, antes de ter sido espancada.
Terá ainda obrigado Catarina a rastejar até ao chuveiro, tomar duche de água gelada e fazer 100 flexões, apesar de estar de baixa médica do Hospital das Forças Armadas.
Mas depois de ler a notícia do DN e ver a reportagem da RTP com as descrições dramáticas de Catarina e o desespero da sua mãe, Helena Carreiras tomou as rédeas do caso e anunciou, no passado dia seis, um novo processo de averiguações urgente, justificando que as práticas eram "aparentemente muito mais graves do que as que constavam do processo de averiguações e processos disciplinares já em curso pelo Exército naquela unidade militar".
Nessa altura, a Ministra já tinha sido questionada pela Il e pelo BE e exigida a sua presença no parlamento, bem como a do CEME, numa audição aprovada nesta semana e que será à porta fechada por sugestão do PSD. O PS conseguiu que a audição só se realizasse depois de concluídos os inquéritos e curso.
Entretanto, Catarina foi colocada sob proteção especial, tendo em conta que terá sido alvo de ameaças de morte de outros soldado, segundo revelou ao DN a sua mãe. "Ameaçam-na que quando a apanharem fora do quartel, a matam, pois sabem que lá dentro ela está protegida", afirma.
Questionado sobre que medidas de proteção foram tomadas, o porta-voz do CEME garante que a militar de mantém "alojada na ala feminina da Casa de Sargentos, para onde foi transferida após os incidentes, e está a ser alvo de mais próximo acompanhamento por parte dos graduados da Companhia de Formação e graduados de serviço diário à Unidade, nos períodos das atividades formativas e fora delas".
Corrigida às 8::28 sobre a intervenção da oficial