"As mulheres têm de acreditar mais nas suas competências"

Carla Sequeira, secretária-geral da CIP, diz que apesar de reconhecer a existência de desigualdade de género nas empresas, acredita que tem havido uma melhoria na última década.

A nossa sociedade é, de facto, muito tradicional", começa por enquadrar Carla Sequeira, referindo-se à questão da paridade de género nas estruturas empresariais em Portugal. Ainda que admita existir alguma discriminação "inconsciente" e "cultural", a secretária-geral da CIP - Confederação Empresarial de Portugal acredita que as organizações têm vindo a fazer um percurso de melhoria, em particular na última década. "Evoluímos imenso nos indicadores de igualdade, acho que as empresas nesse aspeto estão de parabéns", afirma a profissional.

Carla Sequeira tem uma longa experiência associada à promoção da internacionalização das empresas portuguesas, que remonta ao início da sua carreira profissional. Depois de ter começado como membro do gabinete português na Comissão Europeia, onde esteve até ao virar do século, a profissional passou pela Associação Industrial Portuguesa (AIP) e, mais tarde, teve a sua primeira experiência na CIP. Ali foi responsável pela criação de um departamento dedicado ao comércio e às relações internacionais, transitando para o gabinete do Ministro da Economia e do Emprego, no governo liderado por Pedro Passos Coelho, onde permaneceu dois anos e esteve envolvida na criação do selo Portugal Sou Eu. "Acabei por gostar muito de trabalhar nesta área, fiquei com uma visão mais concreta do que era a União Europeia", aponta.

Sobre desafios especialmente colocados às mulheres no seu percurso profissional, Carla Sequeira diz nunca ter sido discriminada, mas admite ter sentido diferença entre a realidade que viveu em Bruxelas e aquela que encontrou ao regressar ao país de origem. "Quando voltei senti a diferença. Aliás, o associativismo é uma área muito masculina, mas tenho de dizer que já há um conjunto de associações a fazer o percurso para a inclusão de mais mulheres com funções executivas", sublinha. "Senti muitas vezes a pressão de ser a única mulher na sala", diz, acrescentando que ainda é comum "ouvir piadinhas" sobre as responsabilidades familiares, tradicionalmente associadas à mulher.

Do ponto de vista profissional, a licenciada em gestão defende que "as mulheres têm de acreditar mais nas suas competências e mostrar que querem estar em lugares de liderança". Porém, acredita que o caminho em direção à paridade de género nas empresas tem de ser feito em parceria com os homens, que devem, diz, "parar para pensar alguns enviesamentos de género que são feitos inconscientemente". É também por isso que não tem dúvidas sobre a importância de iniciativas como o Promova, da CIP, cujo planeamento liderou. "É um projeto inovador em Portugal, que desenvolvemos precisamente com essa preocupação de mudar mentalidades", assegura.

O programa de formação para a liderança no feminino, desenvolvido em parceria com a NOVA SBE e agora na terceira edição, inclui módulos de mentoria, coaching e autoconhecimento que Carla Sequeira considera serem essenciais para reforçar as competências das futuras executivas. "Tivemos professores que foram muito bons. Foi muito interessante, porque são pessoas que têm uma visão macro da vida que nos faz pensar", observa. O contributo para a criação de cada vez mais líderes femininas tem necessariamente de passar pelas empresas, diz, a quem sugere "pensar os seus planos de igualdade". "É evidente que ainda falta muito, mas as empresas têm feito um esforço que é preciso reconhecer", assinala.

Aumentar o papel das mulheres nas empresas

Como instituição que representa mais de 150 mil empresas, responsáveis por cerca de 1,8 milhões de trabalhadores e com um peso de 71% no PIB nacional, a CIP tem vindo a promover a implementação de boas práticas para a paridade de género junto das organizações e associações empresariais ao longo dos últimos anos. Já este ano, por ocasião do Dia da Mulher, promoveu um debate sobre "As Mulheres e o Emprego" para discutir os desafios enfrentados pelas trabalhadoras no plano profissional.

Este trabalho de influência começa, porém, com ações e medidas internas que permitam garantir a igualdade de oportunidades, independentemente do sexo dos colaboradores, e caminhar em direção a um maior equilíbrio nos seus quadros. Na CIP, "temos mais mulheres do que homens nos quadros da organização", adianta Carla Sequeira, que garante que o tema é abordado com "regularidade". A este propósito, a secretária-geral lembra que a vice-presidente da confederação é uma mulher e que tem sido feito um esforço para o "aconselhamento" das associações empresariais no sentido de promoverem, cada vez mais, a paridade de género. "É um trabalho permanente", afirma.

Com o apoio CIP/CGD/Fidelidade/Luz Saúde/Randstad

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